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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Amigos ativos e passivos: o que os distingue e como cultivar cada amizade

Ambos são apoios vitais, mas requerem esforços diferentes que é preciso conhecer

SILVIA C. CARPALLO
23 NOV 2019

Trabalho e família. É comum colocar nesses pilares de apoio todo o peso do bem-estar e, portanto, todo o esforço para alcançá-lo. Mas os amigos também são um ingrediente fundamental na receita para uma vida feliz, não são apenas aqueles que ajudam a embalar a mudança. A amizade está associada com uma saúde melhor, um envelhecimento mais saudável e uma vida menos estressante. O que não está tão claro é em que proporção devemos combinar amigos íntimos com meros conhecidos, e é importante saber isso; de ambos obtemos grandes benefícios.

O sociólogo Mark Granovetter tem um conceito muito descritivo para compreender o papel dos amigos e dos conhecidos. Ele os chama de amizades ativas e passivas, ou relações de baixo risco. A importância de cultivar as amizades íntimas é inquestionável; como uma planta, são relações que podem morrer pelo simples fato de não regá-las, adubá-las ou transplantá-las a tempo. Mas também é importante não menosprezar as amizades passivas. Segundo um estudo da Universidade de Columbia, quantos mais laços “fracos” uma pessoa cria, mais feliz ela se sente. Além disso, da mesma maneira que seu melhor amigo da escola pode acabar se tornando um mero conhecido que você só vê no Natal, um dos conhecidos que você cumprimenta educadamente no patamar da escada ou à porta da escola, enquanto espera a saída de seus filhos, pode ser seu próximo melhor amigo.

Taxonomia social no jardim da amizade
Voltando à metáfora das plantas, devemos aceitar que o jardim da amizade está cheio de galhos, raízes, flores e arbustos que crescem em um harmonioso caos. O jardineiro não tem tempo de dedicar todo o cuidado a cada admirável recurso vegetal. Por isso, deve-se estabelecer prioridades. Ou seja, vale a pena parar para distinguir quais amigos são ativos e quais são passivos. O psicólogo Miguel Ángel Rizaldos explica que “as amizades passivas seriam, por exemplo, a senhora Carmen, que administra a padaria do bairro, Juan, o garçom do bar onde você come no trabalho, e Laura, uma colega de trabalho”. São pessoas com quem você compartilhou algo relativamente importante −um show, um trabalho−, mas não estabeleceu uma conexão mais forte.

“As amizades ativas são as pessoas com quem você compartilha valores e tem uma conexão mais profunda. É a família que você escolhe. Um amigo vem quando você o chama, os demais, quando podem. Ele dá apoio e carinho incondicionais, por você ser quem é, não pelo que faz”, assinala o psicólogo. Essas são as pessoas nas quais podemos realmente confiar, são as protagonistas das relações que mais devemos nos esforçar para que floresçam. Você pode pensar nelas como as pessoas com quem compartilha lembranças (embora sempre à sua maneira), de quem aprende, e que o ajudam a se superar, algo que exige um esforço tão grande como constante. Dizem que bastam décimos de segundo para detectá-los, embora nem sempre seja tão simples.

Segundo Rizaldos, com os amigos passivos “é necessário apenas dedicar pequenos momentos e gestos de atenção para manter e cuidar de um relacionamento”. Algo tão simples como dar bom dia ao vizinho, perguntar ao garçom que sabe como gostamos do café como foi seu fim der semana ou desejar um feliz aniversário àquele colega de trabalho que nos tirou que mais de uma dificuldade. Trata-se, basicamente, de unir simpatia com empatia. Além disso, como lembra o psicólogo, “hoje em dia as redes sociais são um modo fácil e simples de manter e cultivar as relações de amizade”. É por isso que damos uma curtida ou escrevemos um comentário quando é o caso, para mostrar que estamos ali.

O tempo de maior qualidade, o de compartilhar experiências e vivências, deve ser destinado às amizades ativas. “É preciso, com uma certa regularidade, manter um contato real, ficar para tomar um café, comer ou ir ao cinema”. Ou seja, nesses casos, não há problema em ter um amigo dessa categoria nas redes sociais e perguntar-lhe “como vai” pelo WhatsApp, mas também é preciso cuidar dessa amizade na vida real. “Se não cultivarmos e mantivermos uma relação de amizade [ativa], ela passará a ser de conhecido [amizade passiva]”, conclui o especialista.

Nem todas as árvores dão os mesmos frutos
As relações pessoais não são estáticas, como o busto do famoso poeta com o qual você cruza no parque todas as manhãs, nem tampouco cíclicas, como as estações que acrescentam e retiram cores aos jardins vegetais. Nos jardins da amizade tudo muda constantemente e as consequências são importantes. Um amigo da universidade pode ser uma amizade ativa na qual investir tempo de qualidade que, com o tempo, acaba se tornando uma relação mais passiva. Não desaparece do nosso círculo, mas as circunstâncias da vida implicam que mudou de categoria. Refletir sobre essas mudanças é fundamental para evitar as frustrações que, irremediavelmente, traz o fato de investir energia em uma relação que não lhe corresponderá na mesma medida. Nesses casos, em que não é necessário investir em tanto tempo juntos, tampouco devemos nos desiludir se não estivermos na lista de prioridades dessa pessoa.

Para estes casos, Zoraida Granados apresenta duas opções: sermos sinceros, pela amizade que nos uniu, para “explicar a situação em que estamos e compreender que podemos continuar como amigos, embora neste momento nosso caminho seja divergente”, ou simplesmente deixar fluir nossos caminhos, o que implica respeitar a decisão do outro. Quem tem um amigo tem um tesouro, sim, mas perder uma grande amizade não quer dizer que você caminha por uma senda rumo à solidão absoluta.

Talvez uma vizinha com quem se tinha um trato cordial, por circunstâncias da vida, acabe se tornando uma pessoa fundamental em nosso novo dia a dia e decidamos dedicar mais tempo a ela. “Os benefícios de diferenciar onde contribuir ou dar mais de mim e obter um reforço constante e imediato é o que faz com que muitas relações de amizade evoluam”, conclui Granados. O objetivo é se cercar de pessoas que acrescentem, sem perder de vista que nem todas as árvores foram feitas para dar os mesmos frutos, e que cada um nos preencherá à sua maneira, e nem sempre como gostaríamos. Parar de idealizar as pessoas e valorizá-las pelo que são também nos permitirá agir em conformidade e evitar desilusões desnecessárias.

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