No momento em que centenas de milhões de pessoas do mundo todo recolheram-se às suas casas para evitar a propagação do coronavírus, Marie Claire colheu relatos de confinamento de três mulheres – na China, no Brasil e na Itália. Em depoimentos detalhados, elas contam como se adaptaram à rotina restrita e mostram que a empatia não tem fronteiras
"Estou no 11º dia de quarentena enquanto escrevo este texto. Nas semanas que antecederam minha ida a Paris, onde cobri a temporada de moda para esta Marie Claire, com a editora-assistente de moda Fernanda Guimarães e a diretora editorial Daniela Tóffoli, o coronavírus era tratado quase como uma ficção científica longe de São Paulo, onde moro. Os casos se restringiam à China. No Brasil, só se falava em Carnaval e crise do Congresso, e eu achava que ‘tudo ia passar’, como tantas vezes antes.
A poucos dias da viagem, no fim de fevereiro, alguns casos começaram a pipocar em Milão, onde Fernanda estava. Horas antes do embarque, o primeiro caso foi confirmado no Brasil. Em Paris, os eventos foram sendo cancelados. Os desfiles seguiram a agenda, mas o entorno – reuniões, re-sees (visitas aos showrooms pós-desfile), festas e jantares – foi desmarcado às pressas. Costumo voltar exausta dessas temporadas que, em geral, comportam sete ou oito eventos por dia, em partes diferentes da cidade. De longe, tudo parece muito glamouroso, eu sei, mas de perto, é só muito trabalho – muito legal, mas ainda assim, só trabalho.
Dessa vez foi diferente. Quando vi, tinha no máximo quatro eventos por dia. A temporada, no entanto, rendeu matérias fora do script. Eu e Fê publicamos uma sobre o ‘corona kiss’, o beijinho no ar, sem contato humano, que a turma da moda, sempre tão entusiástica ao se cumprimentar, adotou. A pauta viralizou e rendeu uma audiência considerável. No aeroporto de Guarulhos, na volta, havia uma fila enorme de inspeção da Agência Sanitária. Todos com sintomas deveriam se apresentar (eu não apresentava nenhum sinal naquele momento). O taxista que me levou para casa disse que nunca o movimento fora tão baixo. Cheguei em casa louca de saudades dos meus filhos (tenho gêmeos de 4 anos, o Raul e a Tetê) e os abracei e beijei como nunca, embora eles estivessem resfriados. Também matei a saudade da minha mãe, Cicley, e de João, meu namorado, que estavam saudáveis.
Na manhã seguinte, minutos antes de sair para o trabalho, Fê me ligou: ‘Estou com sintomas de gripe’. Ela estava a caminho do hospital. Tinha vindo do epicentro da crise, Milão, e passado uma semana comigo em Paris, onde os casos começavam a escalonar. Entre ligações tensas para a equipe e o RH, ficou decidido que eu, ela e a Dani – turma da Marie Claire que esteve em Paris – só voltaríamos à redação até o resultado da Fê sair, no domingo. Até lá, home office. Felizmente, no caso dela era só uma gripe comum, e na segunda-feira retornei ao trabalho. Tinha muita coisa para resolver, reuniões e fechamento, e só voltei para casa quase às 10 da noite. Na terça-feira cedo, no entanto, Dani me ligou: ‘Dados os últimos acontecimentos, a empresa decidiu colocar todos que estiveram em países de risco em quarentena’.
Demorou um tempo até a ficha cair. Eu? Em quarentena? Por quê? Não seria exagero? Minha agenda estava lotada, tinha muitas reuniões, estava em plena organização de nosso maior evento do ano, o Power Trip Summit, fora a edição de matérias, aprovação de capa, shootings etc. Como eu, acostumada a uma rotina de trabalho intensa, ficaria confinada por 14 dias? A preocupação da empresa, logo entendi, era acertada: não só a Globo, mas todas as grandes empresas do país colocaram seus funcionários em home office, dependendo do caso – seguiram o exemplo da China, que viu os casos de corona-vírus despencarem após a adoção dessas medidas.
No final da própria terça, comecei a ter sintomas de gripe. Febre baixa, coriza, tosse. Agendei o exame domiciliar para sexta-feira (aqui vale um parêntese: só fiz o exame porque tinha sintomas – febre baixa, coriza, tosse – e vinha de um país com muitos casos. Pude escolher o exame domiciliar pois tenho condições de pagar por ele. Minha médica disse que ir ao hospital só era uma opção em casos graves; que é muito mais perigoso se expor. Sei de minha posição de privilégio, e que 90% da população não pode ter as mesmas escolhas que eu. Até por isso, fica o apelo de minha médica: não corra ao pronto-socorro ao menor sintoma de gripe. A não ser que você seja grupo de risco. O sistema de saúde não vai aguentar). O resultado, felizmente, deu negativo.
Dei muitas voltas neste texto para chegar até aqui: a rotina de uma quarentena. No meu dia a dia normal, acordo cedo, fico com as crianças, dou café da manhã e duas vezes na semana os levo na escola. Nesses dias, também almoço com eles. Nos outros, vou cedo para a redação, de onde não costumo sair antes das 21 horas. Minha rotina é dinâmica e inclui eventos e reuniões de trabalho, muitas vezes fora do escritório, a não ser na semana de fechamento. Luto kung fu e tento treinar duas ou três vezes na semana (já fui mais assídua, mas sigo pagando a academia). Sou caseira e saio pouco à noite. Às quartas, meus filhos dormem com o pai, e eventualmente saio para jantar com o João ou com amigas.
A primeira coisa que aprendi sobre minha quarentena: precisava ter método. Para uma pessoa como eu, acostumada a ter rotina, me ver presa em casa com duas crianças doentes (embora eu tenha tido ajuda) não foi simples. É preciso estabelecer novos hábitos, que incluem horários rígidos. Também percebi que trabalhar de pijama não foi uma opção: fiquei perdida, sem entender bem a passagem do tempo. Então passei a acordar no mesmo horário de sempre, por volta das 8 horas, tomar banho e me arrumar, como de costume (roupa e maquiagem de trabalho – por incrível que pareça isso teve um impacto grande no meu rendimento).
Minha equipe, que não estava em quarentena – e que continuou o trabalho na redação –, me mandava à noite os prints e PDFs da edição, que lia logo pela manhã. Na sequência, foquei em produzir conteúdo (projetos, matérias e afins), sem tirar os olhos das notícias. Fazia uma pausa de 40 minutos para o almoço, e a tarde era reservada para reuniões. Depois de vários dias em casa, entendi que prefiro videocalls, para ver as pessoas que não posso mais encontrar. Isso me trouxe uma espécie de normalidade temporária – as pessoas não são só vozes, elas existem do outro lado da tela e fiquei menos ansiosa por vê-las.
Muitas vezes meus filhos interferiram nessas reuniões, o que foi tratado com generosidade por meus interlocutores. ‘Também sou mãe, te entendo’, me disse a diretora de marketing de uma empresa parceira de Marie Claire. ‘Não se preocupe com as interrupções’. Fiquei imaginando quantas pessoas têm a mesma sorte que eu, de poder trabalhar em casa e continuar recebendo salário, e não sofrer represálias do próprio time ou de parceiros. Depois, as escolas foram fechadas. Fiquei em casa com meus filhos e revezei os cuidados com meu ex-marido. O cenário dos próximos meses não é muito animador: fora o impacto na saúde das pessoas e na economia, teremos muitas semanas de trabalho em casa pela frente – para os que têm sorte e carteira assinada, como eu, e conseguem trabalhar remotamente.
Minha experiência dos últimos dias mostrou que será complexo adaptar a nova rotina profissional (colocando nessa conta não só as novas maneiras de trabalhar em tempos de corona; cancelamentos de eventos em massa, assim como projetos, shootings etc) com a de isolamento familiar. Se para mim, que sou cheia de privilégios, já é difícil, imagina para quem não os tem? A essa altura, ninguém sabe como será o futuro, mas você já parou para pensar nos outros, fora os seus? O que podemos fazer a respeito? Estou longe de ter uma resposta a essa pergunta, mas nessa quarentena compulsória nenhuma questão me pareceu mais importante do que essa."
“No início, subestimamos o impacto da pandemia”
Valeria Villas Boas Ucelli Di Nemi, personal stylist, Bolonha, Itália
"Moro há cinco anos na Itália, em Bolonha, no norte do país, justamente a parte mais afetada pelo surto do Covid-19. Quando escutei pela primeira vez algo sobre a infecção, parecia muito distante de mim, ainda circunscrito à China. Ouvia aqui e ali relatos de xenofobia por parte dos italianos quando encontravam chineses nas ruas. Esse cenário começou a mudar durante a Semana de Moda de Milão, em meados de fevereiro. Lembro que na sexta-feira, quando voltava de Milão para casa, reparei no tema das conversas dentro do vagão de trem. Muita gente já demonstrava preocupação. Cheguei em casa e passei o fim de semana em família com meu marido Manfredi, que é italiano, e meu filho Leone, de 4 anos. No domingo à noite, dia 23, meu celular começou a tocar com diversas mensagens sobre o primeiro decreto baixado pelo governo. Ele dizia que, a partir de segunda-feira, as aulas estavam suspensas e as escolas seriam fechadas.
Nos dias seguintes, sem a rotina escolar, todo mundo precisou reorganizar a vida. Eu e outras mães levávamos os filhos ao parque quase todas as manhãs. Até então, ninguém havia falado sobre medidas de isolamento dentro de casa. No grupo do Whatsapp, marcávamos de fazer lanches à tarde uma na casa da outra. Isso durou cerca de uma semana. Universidades, restaurantes, lojas, tudo permanecia funcionando.
Não sei dizer se a Itália subestimou o surto de coronavírus. Acho mais é que as as pessoas não estavam entendendo tudo o que acontecia, não compreendiam a proporção, a seriedade. De Bolonha, comecei a perceber que meus amigos em Milão estavam ficando muito desesperados, porque os casos não paravam de aumentar e o cerco começou a se fechar, com alguns lugares por lá sendo chamados de ‘zonas vermelhas’ pelo alto nível de propagação da doença. Bergamo, por exemplo, foi simplesmente fechada, ninguém entrava ou saía. Segundo um amigo que mora na cidade, a situação começou a ficar assustadora pela quantidade de ambulâncias que passaram a circular. O barulho das sirenes não parava. Foi assim até que o governo decidiu fechar também os acessos a Milão. Bares e restaurantes ainda funcionavam, mas a movimentação era bem restrita. Esse foi o segundo decreto. Ao todo, o governo italiano implantou duas medidas antes da paralisação total, que é a situação na qual vivemos agora enquanto escrevo este texto.
Durante esse primeiro momento de contenção do vírus aqui na Itália, algumas ações foram feitas, mas às vezes se voltava atrás. As academias chegaram a ser fechadas, por exemplo, e depois voltaram a funcionar. O mesmo com bares e restaurantes. Se estavam abertos, todo mundo ia. Uma semana antes da quarentena oficial, cheguei a sair para jantar fora com meu marido. Os lugares até estavam mais vazios. Porém, foi só depois de três semanas que a gente sentiu, no dia a dia, que a coisa era realmente séria.
Após o terceiro decreto, que finalmente colocou toda a população da Itália em isolamento, a dinâmica mudou de verdade. Hoje você não pode ir ao hospital ou mesmo ao consultório de seu médico. É preciso ligar para ele primeiro, explicar o que está acontecendo e esperar uma avaliação do próximo passo. O governo criou um número especial, chamado de ‘número vermelho’ para onde se deve ligar a fim de tirar dúvidas sobre a doença. A ideia era que esse contato ajudasse a entender os próximos passos para a estratégia de contenção da epidemia.
As escalas de contenção da doença foram caindo até o primeiro-ministro aparecer em rede nacional e dizer que todos os lugares se tornaram zonas vermelhas, ou seja, ninguém poderia mais se locomover livremente. Só se está autorizado a transitar nas ruas para ir ao supermercado ou à farmácia e, para isso, é preciso carregar uma autocertificação, caso a polícia te pare. Grupos são dispersados, mas até a metade do mês de março, os parques ainda estavam lotados. As pessoas não respeitavam totalmente a quarentena em casa. Agora, tanto parques quanto praças, tudo está fechado.
O governo informou a população de que o isolamento deve ser reavaliado no dia 3 de abril, mas a gente sabe que provavelmente continuará. Estou confinada totalmente há uma semana e os próximos 15 dias são a prova de fogo para conter a contaminação, porque espera-se que os casos de doentes ainda aumentem antes de perderem força. Meu primeiro pensamento quando entendi que ficaria de quarentena em casa por tempo indeterminado foi entender o que poderia tirar de bom dessa situação. Me sinto como se estivesse em um puerpério com uma criança de 4 anos de idade, sabe? Tenho essa sensação de que se estiver bem, as coisas na minha casa estarão bem. Acho que a energia da mãe ajuda a passar tranquilidade. Obviamente, tive momentos de angústia, de dor no peito, de ‘e agora, como será?’. Minha rotina de levar o Leone à escola, voltar para trabalhar, treinar na hora do almoço, buscá-lo e fazer mais um pouco de trabalho mudou totalmente. Sem poder sair, hoje tomo longos cafés da manhã com meu filho, invento uma brincadeira nova para fazer com ele, medito, fico no jardim. Leone é uma criança hipersensível. Foi diagnosticado com uma doença genética chamada Síndrome do X Frágil, que tem um impacto no aprendizado. Então tudo para ele precisa ser antecipado. Por isso, meu marido e eu decidimos organizar uma nova rotina dentro de casa para ajudá-lo a se sentir melhor. Ele ficou muito chateado e irritado de não poder mais ir para a escola.
Com tudo isso que estou passando, também entendi que, às vezes, preciso me dar ao direito de não fazer nada, de ficar só observando. Tento não ver muito o noticiário para estar presente no momento e não entrar em pânico, porque não tenho uma grande rede de apoio por perto. Mãe, irmãos, amigos mais próximos, estão todos no Brasil. Tenho uma assistente aqui em casa, a Lu, e brinco que com ela somos o ‘Quarteto Fantástico’.
Enquanto durar o surto, não posso trabalhar. Sou personal stylist, estava com um projeto em andamento, mas preciso encontrar as pessoas, o que agora é impossível de fazer. Há pouco tempo, o Leone teve uma supercrise de choro, algo forte. Nada acalmava ele, até um momento em que nos abraçamos e as lágrimas de nós dois caíram juntas. Acredito muito que a maternidade mostra nossas sombras. E ele está sentindo a angústia que há no ar. O silêncio é um fato. É muito um momento de olhar para dentro e observar o que está acontecendo. Entre risos e choros, estamos aqui. Na minha opinião, este é o momento de colocar em prática a palavra resiliência."
Nos dias seguintes, sem a rotina escolar, todo mundo precisou reorganizar a vida. Eu e outras mães levávamos os filhos ao parque quase todas as manhãs. Até então, ninguém havia falado sobre medidas de isolamento dentro de casa. No grupo do Whatsapp, marcávamos de fazer lanches à tarde uma na casa da outra. Isso durou cerca de uma semana. Universidades, restaurantes, lojas, tudo permanecia funcionando.
Não sei dizer se a Itália subestimou o surto de coronavírus. Acho mais é que as as pessoas não estavam entendendo tudo o que acontecia, não compreendiam a proporção, a seriedade. De Bolonha, comecei a perceber que meus amigos em Milão estavam ficando muito desesperados, porque os casos não paravam de aumentar e o cerco começou a se fechar, com alguns lugares por lá sendo chamados de ‘zonas vermelhas’ pelo alto nível de propagação da doença. Bergamo, por exemplo, foi simplesmente fechada, ninguém entrava ou saía. Segundo um amigo que mora na cidade, a situação começou a ficar assustadora pela quantidade de ambulâncias que passaram a circular. O barulho das sirenes não parava. Foi assim até que o governo decidiu fechar também os acessos a Milão. Bares e restaurantes ainda funcionavam, mas a movimentação era bem restrita. Esse foi o segundo decreto. Ao todo, o governo italiano implantou duas medidas antes da paralisação total, que é a situação na qual vivemos agora enquanto escrevo este texto.
Durante esse primeiro momento de contenção do vírus aqui na Itália, algumas ações foram feitas, mas às vezes se voltava atrás. As academias chegaram a ser fechadas, por exemplo, e depois voltaram a funcionar. O mesmo com bares e restaurantes. Se estavam abertos, todo mundo ia. Uma semana antes da quarentena oficial, cheguei a sair para jantar fora com meu marido. Os lugares até estavam mais vazios. Porém, foi só depois de três semanas que a gente sentiu, no dia a dia, que a coisa era realmente séria.
Após o terceiro decreto, que finalmente colocou toda a população da Itália em isolamento, a dinâmica mudou de verdade. Hoje você não pode ir ao hospital ou mesmo ao consultório de seu médico. É preciso ligar para ele primeiro, explicar o que está acontecendo e esperar uma avaliação do próximo passo. O governo criou um número especial, chamado de ‘número vermelho’ para onde se deve ligar a fim de tirar dúvidas sobre a doença. A ideia era que esse contato ajudasse a entender os próximos passos para a estratégia de contenção da epidemia.
As escalas de contenção da doença foram caindo até o primeiro-ministro aparecer em rede nacional e dizer que todos os lugares se tornaram zonas vermelhas, ou seja, ninguém poderia mais se locomover livremente. Só se está autorizado a transitar nas ruas para ir ao supermercado ou à farmácia e, para isso, é preciso carregar uma autocertificação, caso a polícia te pare. Grupos são dispersados, mas até a metade do mês de março, os parques ainda estavam lotados. As pessoas não respeitavam totalmente a quarentena em casa. Agora, tanto parques quanto praças, tudo está fechado.
O governo informou a população de que o isolamento deve ser reavaliado no dia 3 de abril, mas a gente sabe que provavelmente continuará. Estou confinada totalmente há uma semana e os próximos 15 dias são a prova de fogo para conter a contaminação, porque espera-se que os casos de doentes ainda aumentem antes de perderem força. Meu primeiro pensamento quando entendi que ficaria de quarentena em casa por tempo indeterminado foi entender o que poderia tirar de bom dessa situação. Me sinto como se estivesse em um puerpério com uma criança de 4 anos de idade, sabe? Tenho essa sensação de que se estiver bem, as coisas na minha casa estarão bem. Acho que a energia da mãe ajuda a passar tranquilidade. Obviamente, tive momentos de angústia, de dor no peito, de ‘e agora, como será?’. Minha rotina de levar o Leone à escola, voltar para trabalhar, treinar na hora do almoço, buscá-lo e fazer mais um pouco de trabalho mudou totalmente. Sem poder sair, hoje tomo longos cafés da manhã com meu filho, invento uma brincadeira nova para fazer com ele, medito, fico no jardim. Leone é uma criança hipersensível. Foi diagnosticado com uma doença genética chamada Síndrome do X Frágil, que tem um impacto no aprendizado. Então tudo para ele precisa ser antecipado. Por isso, meu marido e eu decidimos organizar uma nova rotina dentro de casa para ajudá-lo a se sentir melhor. Ele ficou muito chateado e irritado de não poder mais ir para a escola.
Com tudo isso que estou passando, também entendi que, às vezes, preciso me dar ao direito de não fazer nada, de ficar só observando. Tento não ver muito o noticiário para estar presente no momento e não entrar em pânico, porque não tenho uma grande rede de apoio por perto. Mãe, irmãos, amigos mais próximos, estão todos no Brasil. Tenho uma assistente aqui em casa, a Lu, e brinco que com ela somos o ‘Quarteto Fantástico’.
Enquanto durar o surto, não posso trabalhar. Sou personal stylist, estava com um projeto em andamento, mas preciso encontrar as pessoas, o que agora é impossível de fazer. Há pouco tempo, o Leone teve uma supercrise de choro, algo forte. Nada acalmava ele, até um momento em que nos abraçamos e as lágrimas de nós dois caíram juntas. Acredito muito que a maternidade mostra nossas sombras. E ele está sentindo a angústia que há no ar. O silêncio é um fato. É muito um momento de olhar para dentro e observar o que está acontecendo. Entre risos e choros, estamos aqui. Na minha opinião, este é o momento de colocar em prática a palavra resiliência."
“Não saí de casa por 52 dias”
Jiaqi Chen, publicitária, Pequim, China
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