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terça-feira, 14 de abril de 2020

Instituto Geledés acolhe vítimas de violência doméstica em isolamento


Instituto articula sua rede de Promotoras Legais Populares para orientar mulheres de comunidades periféricas sobre seus direitos durante a pandemia.

Ainda que os impactos do coronavírus na economia e na saúde sejam os mais discutidos na esfera pública, eles não são os únicos. Para as mulheres, a pandemia tem representado um grande desafio. Além de sobrecarregá-las com o combo das tarefas domésticas, cuidado dos filhos e home office, o distanciamento imposto para conter a disseminação do vírus também tem gerado um aumento de casos de violência doméstica.

Segundo dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, entre os dias 17 e 25 de março, quando o distanciamento já vigorava em diversos estados, o canal Ligue 180 recebeu 3.303 telefonemas e 978 denúncias, um aumento de aproximadamente 9% em relação à primeira quinzena do mês. Somente no Rio de Janeiro, o número de denúncias cresceu em 50%.
Dentro deste preocupante cenário, as mulheres negras podem ser ainda mais afetadas, já que também de acordo com dados do 180, em 2016, elas representavam 60% dos relatos de violência doméstica. Pensando em atender e informar essas mulheres, em especial as que vivem em áreas onde o poder público se faz ausente, sobre seus direitos durante a pandemia, o Geledés Instituto da Mulher Negra articulou uma rede de Promotoras Legais Populares (PLPs).
Inspirado em um projeto semelhante existente no Peru, a iniciativa das PLPs chegou ao Brasil no final da década de 1990 por meio da organização gaúcha Themis, que forneceu capacitação para o Geledés e outras instituições ligadas à luta por direitos das mulheres. “Já possuíamos uma ação de enfrentamento da violência doméstica em nosso departamento jurídico e percebemos a necessidade de formar mulheres nas comunidades para ajudar outras mulheres a reivindicar seus direitos e sair desse ciclo de violência”, conta Maria Sylvia de Oliveira, advogada e presidente do Geledés.
Atuando como agentes multiplicadoras da cidadania em suas comunidades e na sociedade como um todo, durante a pandemia as promotoras também ajudarão aquelas mulheres que, por exemplo, possuírem dificuldades para se inscrevem no auxílio emergencial disponibilizado pelo governo e em outros benefícios públicos. Por serem referências em suas regiões, Maria Sylvia explica que para contatá-las, muitas vezes, basta ir no boca a boca.
Já para ser uma promotora, é preciso passar por uma formação oferecida pelo Instituto. Por causa da pandemia, os cursos estão suspensos por tempo indeterminado, mas para quem quer se somar ao projeto, a presidente do Geledés diz que “basta localizar em suas comunidades as pessoas que estão precisando de ajuda e auxiliá-las”. Quanto a quem precisa do cadastro, a recomendação é buscar alguém em que se tenha extrema confiança, evitando assim o risco de cair em um golpe.

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