Adversidade, harmonia e regeneração
A batalha entre o bem e o mal está descrita na Bíblia e é tão antiga quanto a criação do universo. Todos nós vivemos essa dualidade dentro e fora de nós. Ambos estão em constante oposição. Trata-se de uma situação complexa porque nem sempre conseguimos identificar com clareza e distinguir o que é o bem, o que é o mal.
Para nos auxiliar, as primeiras lições da Bíblia associam o mal ao Demônio e o bem a Deus. Todos nós (ou quase todos) corremos da morte ou ficamos aterrorizados com a perspectiva de sua proximidade, associando-a, portanto, ao mal. Por outro lado, a vida é tida como um bem, com toda a certeza, o nosso bem mais precioso.
Para nos auxiliar, as primeiras lições da Bíblia associam o mal ao Demônio e o bem a Deus. Todos nós (ou quase todos) corremos da morte ou ficamos aterrorizados com a perspectiva de sua proximidade, associando-a, portanto, ao mal. Por outro lado, a vida é tida como um bem, com toda a certeza, o nosso bem mais precioso.
Ocorre que muitas situações adversas que enfrentamos em nossas vidas são imediatamente associadas por nós ao mal. Entretanto, muito tempo mais tarde, ao revisitarmos em nossa mente aquelas mesmas situações passadas, acabamos por reeditá- las e entendemos que foram boas, pois nos ajudaram a amadurecer em aspectos que nem sequer imaginávamos.
Sabemos que uma moeda sempre tem duas faces. Um exemplo é a terrível experiência que a humanidade está vivendo com o coronavírus, a qual nos alertou sobre a importância de se valorizar mais nossos relacionamentos, ensinando-nos a exercitar a solidariedade, atentar para o coletivo e deixar de lado o egoísmo e o individualismo. Do ponto de vista ambiental tivemos a grata notícia que, com o advento da quarentena, em várias partes do mundo os animais ‘tomaram’ as cidades e se reapropriaram daquilo que no passado era o seu território. E mais, devido à pausa que foi dada pelos humanos, a camada de ozônio está se recuperando, demonstrando que a humanidade é um vírus para o planeta e que o mesmo se regenera rapidamente sem a intervenção de humanos.
Desta forma, tivemos vários ganhos com a pandemia do coronavírus, entre eles, estamos sendo obrigados a resgatar o respeito ao próximo e ao meio ambiente. Estamos sendo sacudidos em nossa estrutura, nosso modo de vida, nossos valores, para que retornemos àquilo que deveríamos ter sido desde o começo, tendo um comportamento condizente com nossa natureza humana.
Em outra situação, a perda de um objeto amado é entendida por nós como sendo uma manifestação do mal, já que tendo sido arrancado abruptamente o depositário de nossos mais preciosos sonhos e a via através da qual realizávamos a satisfação de nossas necessidades, temos que nos confrontar com um vazio aterrador ao mesmo tempo em que elaboramos o dolorido retorno da libido ao ego.
Vale lembrar que o universo, em sua lógica perfeita, a fim de que prevaleça a harmonia e o restabelecimento da ordem, promove uma reviravolta em tudo que está em desequilíbrio, dando-nos a impressão de uma aparente destruição. A cacofonia das coisas precisa ser solucionada e o artista empenhar-se até atingir a perfeita afinação para que todas as partes funcionem em uníssono.
Por outro lado, diante de nosso olhar humano não conseguimos entender muito bem porque na natureza, muitos animais para sobreviverem precisam se alimentar de outros, a vida de uns implicando, portanto, na morte de outros. Nossas primeiras lições de biologia e ecossistema já explicavam o fenômeno quando nos foi falado de equilíbrio ecológico. Neste caso, portanto, a morte é “boa” e vem para promover o equilíbrio entre as espécies. Estas explicações, no entanto, não aquietam e nem tampouco serenam nosso coração.
Assim, diante da emergência avassaladora, ao mesmo tempo em que contemos nossas reações emocionais imediatas, é preciso fazer um esforço no sentido de tentar afinar nossa percepção, “ouvir o caminho” e nadar a favor da maré (não adianta ir contra a ordem dos acontecimentos, já que eles se impõem a nós). Esta prontidão para aprender nos auxilia a deixar de lado a dor pungente quando somos pegos de calças curtas e sair em busca de sentido para a experiência.
A natureza é sábia em seu funcionamento e está acima de nós. O universo conspira sempre a favor. O ser humano, em sua ignorância e truculência se julga muitas vezes maior do que as coisas que aí estão e que vieram muito antes dele. Não podemos esquecer que tudo que temos nos é “emprestado” pelo Criador.
E Ele constantemente nos convida a conjugar o verbo Ser. De preferência, Ser com o Outro, pois só assim superaremos o nosso egocentrismo e a nossa onipotência. No afã da conquista de lucros financeiros, movidos pela ganância, pelo egoísmo ou pela vaidade, muitos passam por cima de outras vidas esquecendo de sua própria vulnerabilidade e que também eles irão retornar ao pó.
Nesse contínuo e muitas vezes caótico movimento da humanidade, o bem e o mal se sucedem... se contrapõem.... se superpõem.... De uma forma ou de outra, todos irão ter aquilo de que necessitam para crescer.
Vale lembrar que estamos no caminho da Nova Terra, passando pelo momento de regeneração do planeta. Como o micro sempre está para o macro, a regeneração da Terra também diz respeito à regeneração do homem. E ela - a Regeneração - vem para fazer a síntese na batalha entre o Bem e o Mal.
A regeneração revela o sentido que estava oculto e está nas respostas que buscamos e em todas as experiências que nos parecem sem sentido e/ou injustas. Regenerar a alma, regenerar o corpo, regenerar nossas intenções...
Re / gene / rar: verbo transitivo direto, que significa gerar ou produzir novamente; criar com novos genes; formar-se de novo; dar nova vida a; revivificar. Ou seja, é possível começar de novo e melhor com novos genes, nova aparelhagem. Uma nova chance que nos é dada para nosso corpo, para nossas relações, fazendo de novo borbulhar a vida!
Regenerar-se e permitir que o planeta se regenere depende de nossa vontade e da abertura de uma pequena ‘janela’ que nunca havíamos antes percebido, de forma que ela sempre esteve fechada. Por esta estreita passagem podem ser ventilados e aerados novos pensamentos e ideias, desveladas formas até então recobertas por grossas camadas de poeira, quebrando assim paradigmas, pondo abaixo velhos dogmas.
A ‘largada’ já foi dada. Nossa chance de ouro aí está. Resta saber o que vamos fazer com ela depois que a poeira baixar.
Psicóloga psicodramatista, atua no SOS Ação Mulher e Família desde o ano de 1984. Doutora em Saúde Mental pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Autora do livro “Cenas repetitivas de violência doméstica: um impasse entre Eros e Thanatos”.
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