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terça-feira, 14 de julho de 2020

Como as incertezas deste momento afetam as crianças e o que podemos fazer para elas

Se as crianças se mostrarem preocupadas, não devemos dizer, como estamos acostumados a fazer, que não se preocupem. Essa não é uma forma eficaz de passar-lhes segurança.

Michele Müller
Pesquisadora e especialista em neurociência clínica
07/05/2020
TAMO JUNTO
Se a reorganização das prioridades e a adaptação a novas formas de trabalhar já são enormes desafios, enfrentar essas mudanças com crianças presas em casa e ainda sem autonomia para cumprirem suas responsabilidades acadêmicas exige esforço e paciência quase sobre-humanos.

E em meio às incertezas, ansiedade e stress que o período de pandemia gera em todos, é fácil esquecermos de nos colocar no lugar das crianças para que possamos perceber o que de fato elas precisam e de que forma podem, assim como nós, aprender com essas mudanças.
Elas podem estar inseguras e confusas, mas ainda não têm o vocabulário ou as ferramentas cognitivas necessárias para compreender ou expressar o que sentem. E não há oportunidade melhor de ajudá-las a desenvolver essas capacidades que aquela trazida por um período de grandes mudanças e instabilidade, como o que estamos presenciando.
Uma das formas de trabalhar com os filhos habilidades emocionais que os ajudarão a prosperar é estimulá-los a perceber aquilo o que estão sentindo, a aceitar o sentimento e lembrar que, embora possa parecer diferente, ele é sempre passageiro.
Ver uma criança preocupada pode ser desconcertante. Queremos, logicamente, vê-las seguras e confiantes. Mas segurança também pode nascer, se não diretamente da preocupação, da forma como aprendemos a lidar com esses sentimentos desconfortáveis. Segundo a psicóloga sul-africana Susan David, professora de Harvard Medical School e autora do best-seller Agilidade Emocional (Cultrix, 2018), se elas se mostrarem preocupadas, dizer, como costumamos fazer, para que não se preocupem não é uma forma eficaz de passar-lhes segurança.
Com isso, lembra a autora, estamos ensinando que certas emoções são ruins e não devemos senti-las. Estar presente, dar espaço para as crianças formularem o que sentem e respeitar esse sentimento é, ressalta David, “a melhor forma de ajudá-las a desenvolver um senso de segurança em um contexto caótico”. É como elas aprendem a lidar com frustrações, imprevistos e incertezas.
Ao conversarmos sobre sentimentos e ajudarmos as crianças a nomeá-los, temos a oportunidade de ensiná-las que eles não são ruins; eles servem para alertar sobre alguma necessidade e lembrar que certas coisas são importantes para nós.
Soluções podem surgir dessa compreensão: novas formas de se comunicar com colegas e familiares, se o incômodo for solidão; novas formas de organizar os horários, se for insegurança por falta de rotina; novas formas de criar, se for o tédio.
Nem sempre essas necessidades podem ser atendidas. Mas reconhecer que elas existem e que irão passar é um dos passos para a construção da inteligência emocional. Entender um sentimento e buscar sua causa e a mensagem que ele comunica é uma forma de não se deixar dominar por ele.
“Nomeie para amansar” (do inglês “name it to tame it”) é uma das estratégias que o psiquiatra Dan Siegel, autor de, entre outros, O Cérebro da Criança (nVersos, 2015), utiliza para trazer aos pequenos pacientes mais consciência sobre suas emoções e, como consequência, mais domínio sobre a forma como reagem a elas. Essa nomeação é o ponto de partida para uma outra questão que ajuda as crianças a crescerem emocionalmente: a consciência daquilo que podem e o que não podem controlar.
Muito do que lamentamos está totalmente fora do nosso controle. Mas o que está sob nosso controle, lembra David em entrevista ao TedTalks, “é a forma como respondemos, a forma como nos conectamos com os outros e a forma como segmentamos nosso tempo. Essas ‘cápsulas’ de poder nos devolvem o senso de controle”.
A segmentação do tempo também nos devolve a segurança necessária para que possamos todos – adultos e crianças – combater as distrações causadas por incertezas e mudanças. Como parte desse gerenciamento da rotina, é importante identificar o que mais está consumindo tempo, atenção e energia.
É provável que um dos ladrões desses recursos, dos quais mais precisamos neste momento, seja o uso intensivo de mídias sociais e exposição excessiva a informações negativas. Limitar seu uso e torná-lo mais consciente pode ser uma estratégia necessária para retomarmos o foco e a motivação.
Momentos de instabilidade são também momentos de muito aprendizado, inovação, reflexão e conexão – mesmo que, paradoxalmente, estejamos fisicamente distante de todos. Podem trazer uma valiosa oportunidade, dependendo da forma como respondemos a eles, de construção, nas nossas crianças, de resiliência, flexibilidade e espírito colaborativo.

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