18 Julho 2020
Necessidade de trabalhar, desinteresse e gravidez são os principais motivos que levam jovens brasileiros a abandonarem os estudos. Dos quase 50 milhões de jovens de 14 a 29 anos do País, aproximadamente 20,2% não completaram alguma das etapas da educação básica. São 10,1 milhões nessa situação, entre os quais 58,3% homens e 41,7% mulheres. Destes, 71,7% eram pretos ou pardos e 27,3% eram brancos. Esses são alguns dados do segmento Educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que traça um cenário do setor educacional em 2019.
A reportagem é de Cristiane Crelier, publicada por IBGE, 15-07-2020.
A reportagem é de Cristiane Crelier, publicada por IBGE, 15-07-2020.
Precisar trabalhar foi o motivo apontado por metade dos homens nessa faixa de idade para terem abandonado os estudos ou nunca frequentado a escola, e a falta de interesse a justificativa de 33,0%. A inexistência de escola, vaga ou turno desejado na localidade foi a razão de 2,7% e apenas 0,7% alegaram afazeres domésticos para ausência à escola. Já entre as mulheres, a falta de interesse ser a principal razão (24,1%) fica bem próxima da necessidade de trabalhar e da gravidez (ambas com 23,8%), seguidas por afazeres domésticos (11,5%).
A necessidade de trabalhar foi a principal razão alegada por jovens de todas as regiões, sendo que no Sul (48,3%) e no Centro-Oeste (43,1%) as taxas são maiores e no Nordeste, menor (34,1%). Já o não interesse em estudar foi o segundo principal motivo informado, sempre acima de 25%, com destaque para o Nordeste, com 31,5%.
“Esses dois principais motivos somados alcançam cerca de 70% desses jovens, independentemente da região, e sugerem a necessidade de medidas que incentivem a permanência dos jovens na escola. A taxa de analfabetismo no país (6,6%) está em queda constante, atingindo quase à universalização do ensino. Mas elevar o nível de escolarização até a conclusão do ensino médio ainda parece ser um desafio”, comenta a analista da pesquisa Adriana Beringuy.
Segundo a pesquisadora, no caso das mulheres, a gravidez como motivo de evasão escolar é também um importante ponto a ser observado pelas políticas públicas. “Com relação a essa temática temos o Sul com um índice bem menor (6,4%), sendo quase a metade da região com o maior índice, que é o Norte (12,7%)”, ressalta.
A passagem do ensino fundamental para o médio é crucial em termos de abandono escolar. O percentual de jovens que parou de estudar a partir dos 15 anos é quase o dobro do das faixas etárias anteriores. Até os 13 anos, cerca de 8,5% abandonam os estudos. Aos 14 anos, a taxa é de 8,1%, mas, aos 15 anos, sobe para 14,1% e, aos 16, para 17,7%, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais.
“É fundamental que se encontre formas de tornar a educação mais atrativa e formas de se possibilitar que o jovem concilie os estudos com o trabalho nas idades mais elevadas, que as políticas públicas compreendam o que se passa com o jovem nessa faixa etária entre 15 e 19 anos para que ele seja compelido a abandonar a escola”, ressalta Beringuy.
O padrão etário se mantém semelhante entre homens e mulheres e entre as pessoas de cor branca e preta ou parda. Em termos regionais, porém, há algumas diferenças. O abandono escolar precoce (até os 13 anos) foi mais acentuado no Norte (9,7%), no Nordeste (9,0%) e no Sudeste (8,7%). Já aos 14 anos, o Sudeste manteve um percentual de abandono semelhante ao da faixa mais nova e o Sul se destacou com 9,9% de saída da escola.
Por outro lado, o marco dos 15 anos, acontece em todas as regiões, sendo bem expressivo no Sul (16,3%), no Sudeste (14,9%) e no Nordeste (13,9%). Entre 16 e 18 anos, Norte e Nordeste exibiram percentuais de abandono entre 14,0% e 16,4%, saltando para, respectivamente, 26,6% e 22,2% aos 19 anos ou mais.
“Essa maior saída tardia da escola deve, provavelmente, estar associada a um esforço desses jovens para recuperar o atraso educacional”, ressalta Marina Fortes Águas, analista do IBGE.
Pelos dados de 2019, o atraso ou abandono escolar atinge 12,5% das crianças e adolescentes de 11 a 14 anos e 28,6% dos adolescentes de 15 a 17 anos. Já entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram os estudos, sendo que 11,0% estavam atrasados e 63,5% não frequentavam escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.
Ensino integrado com técnico ou magistério tem mais jovens de cor branca
Visto como uma das alternativas para tornar o ensino médio mais atrativo, o ensino técnico ainda chega a poucos. Em 2019, no Brasil, dos 9,3 milhões de estudantes do ensino médio (regular ou da Educação de Jovens e Adultos – EJA), apenas 7,1% frequentavam curso técnico de nível médio ou o curso normal de nível médio para formação de professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. O percentual apenas em cursos técnicos de nível médio (6,6%) foi estatisticamente semelhante ao percentual de 2018 (6,2%).
O percentual de pessoas brancas que frequentavam o ensino médio integrado com habilitação técnica ou curso normal (7,8%) era maior do que o de pessoas pretas ou pardas (6,6%). Com relação ao sexo, não há diferença entre os percentuais.
O que cresceu entre 2018 e 2019 foi a busca por qualificação profissional. Em 2019, dos quase 171 milhões pessoas de 14 anos ou mais, 15,6% (26,7 milhões) já haviam frequentado algum curso de qualificação profissional, 2,5 pontos percentuais a mais que em 2018 (13,1%).
No entanto, a frequência em cursos de qualificação profissional cresce à medida que aumenta o nível de instrução. Entre as pessoas sem instrução ou com até o ensino fundamental completo, 7,4% haviam frequentado tais cursos em algum momento do passado. Entre as pessoas como ensino médio incompleto até o superior incompleto, foi cerca de 20,9% e entre aqueles com o ensino superior completo, o percentual alcançou 25,8%.
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