24 julho 2020
Uma discordância inicialmente política levou a uma discussão acalorada em frente ao Congresso dos Estados Unidos e, depois, virou um forte discurso contra o machismo.
A congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez rejeitou um pedido de desculpas de um colega que, segundo ela, proferiu um insulto sexista contra ela durante uma discussão.
A deputada de Nova York fez um discurso na Câmara em que acusou o republicano Ted Yoho de ofendê-la nos degraus do Capitólio. Ocasio-Cortez, que costuma ser alvo de crítica dos conservadores, disse que as palavras de Yoho refletem um "padrão" de mau comportamento de homens.
Yoho nega ter pronunciado o insulto e pediu civilidade.
"Esta questão não é sobre um incidente. É cultural", disse a parlamentar. Ela afirmou que se trata de uma "cultura de aceitar uma violência e uma linguagem violenta contra as mulheres" e que há "toda uma estrutura de poder que apoia isso".
A congressista acrescentou que estava preparada para deixar o incidente de lado até, segundo ela, Yoho "dar desculpas" citando sua esposa e filhas em um discurso nesta semana.
"Ter uma filha não torna um homem decente. Ter uma esposa não torna um homem decente. Tratar as pessoas com respeito e dignidade torna um homem decente", disse a parlamentar.
O discurso foi compartilhado milhares de vezes nas redes sociais, onde a deputada recebeu elogios e críticas.
O que aconteceu?
Ocasio-Cortez disse que estava entrando no Congresso quando Yoho, um congressista da Flórida, e o congressista do Texas Roger Williams se aproximaram dela quando eles saíam da Câmara.
Ela disse que ele a chamou de "repugnante" e disse "você está maluca", o que um jornalista que testemunhou o incidente chamou de "discussão breve, mas acalorada" sobre comentários recentes que Ocasio-Cortez fez sobre a ligação do crime com a pobreza.
Segundo Ocasio-Cortez, ela disse ao colega que ele estava sendo "rude".
Então, quando Yoho se afastou, jornalistas o ouviram usar um insulto sexista. A própria AOC disse que Yoho se referiu a ela como "fucking bitch" (v**** do c******).
O gabinete de Yoho negou esse relato e disse que havia dito "bullshit" (besteira) para si mesmo quando estava saindo.
Na quarta-feira (22), o republicano fez um discurso na Câmera que foi considerado por alguns como um pedido de desculpas, mas no qual ele não mencionou Ocasio-Cortez pelo nome e concluiu falando sobre seu amor por Deus e sua família.
O que AOC disse?
Em seu discurso apaixonado nesta quinta-feira (23), Ocasio-Cortez rejeitou os comentários de Yoho no dia anterior, nos quais o republicano pediu desculpas pelas "formas abruptas de conversa" e disse que estava "muito consciente" da linguagem que usa porque é casado e tem filhas.
A democrata disse que estava pronta para deixar o incidente passar, até que, segundo ela, Yoho "deu desculpas" citando sua esposa e filhas.
O congressista disse: "Eu me comprometo com cada um de vocês a se comportar de uma posição de paixão e entender que a política e as divergências políticas são debatidas com o conhecimento de que abordamos os problemas que nossa nação enfrenta para melhorar o país e com as pessoas que servimos em mente."
"Não posso me desculpar por minha paixão ou por amar meu Deus, minha família e meu país", acrescentou.
Ocasio-Cortez respondeu: "Yoho mencionou que ele tem esposa e duas filhas. Sou dois anos mais nova que a filha mais nova de Yoho. Também sou filha de alguém. Felizmente, meu pai não está vivo para ver como Yoho tratou a filha dele."
"Estou aqui porque tenho que mostrar aos meus pais que sou filha deles, e eles não me criaram para aceitar abusos de homens", continuou ela.
"Quando você faz isso com qualquer mulher, o que Yoho faz é permitir que outros homens façam isso com as filhas dele", acrescentou. "Ao usar esse termo, na frente da imprensa, ele dá permissão para usarem contra sua esposa, filhas, mulheres em sua comunidade, e estou aqui para defender que isso não é aceitável".
Ocasio-Cortez falou sobre sua educação no bairro de Bronx, em Nova York, e outras vezes em sua vida quando ouviu uma linguagem abusiva dos homens.
"Quero deixar claro que os comentários do representante Yoho não foram profundamente ofensivos para mim", acrescentou, "porque eu trabalhei em um emprego da classe trabalhadora."
"Eu servi mesas de restaurante e andei de metrô. Andei pelas ruas de Nova York. E esse tipo de linguagem não é nova. E me deparei com homens proferindo as mesmas palavras que o senhor Yoho enquanto eu estava sendo assediada em restaurantes. Tirei de bares homens que usavam linguagem como a de Yoho."
O que disseram outros parlamentares?
O líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy, defendeu Yoho, que tem 65 anos e se aposenta em janeiro, dizendo que "quando alguém pede desculpas, deve ser perdoado".
"Penso que em um novo mundo, em uma nova era, agora determinamos se aceitamos quando alguém diz 'me desculpe', se é um pedido de desculpas bom o suficiente", ele disse.
A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, chamou a injúria alegada de "realmente uma manifestação da atitude da nossa sociedade".
"Posso dizer, em primeira mão, que eles me insultaram por pelo menos 20 anos de liderança, 18 anos de liderança", disse ela, referindo-se aos republicanos.
A deputada da Califórnia Barbara Lee disse no plenário da Câmara: "Pessoalmente, experimentei uma vida inteira de insultos, racismo e sexismo. E acredite, isso não parou depois de ser eleita para um cargo público."
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