Com medo de contágio pelo coronavírus em maternidades, um número maior de gestantes opta por dar à luz em casa
Constança Tatsch e Diego Amorim
17/07/2020
Na manhã do dia 7 de abril, Mateus veio ao mundo. Chegou sob os olhares dos avós, do pai e até da irmãzinha, Malu, de 1 ano e meio. No lugar das luzes e do ar-condicionado do hospital, o quarto da mãe. A paulistana Camila Siqueira considerou o parto domiciliar uma opção mais segura em meio à pandemia do novo coronavírus. “Pesquisei os protocolos da maternidade. Mesmo com as medidas, não me sentia segura. Conversei muito com a equipe de parteiras, meu marido e família e decidimos embarcar no parto domiciliar”, contou Siqueira, que teve a primeira filha num hospital. “Tive medo, mas menos que no primeiro parto. Nunca achei que podia dar algo errado, estava muito tranquila de não ter de ir ao hospital e ter contato com outras pessoas. Aqui eu sabia que estava segura.”
Assim como Siqueira, um número maior de gestantes tem optado pelo parto domiciliar. Parteiras e doulas do Rio de Janeiro apontam um aumento de até 200% na procura. A enfermeira obstétrica Karina Trevisan, do Commadre, grupo paulista de apoio à gestação, parto e pós-parto, atua desde 2007 em partos hospitalares ou domiciliares e viu uma elevação na procura por partos em casa durante a pandemia. Antes, Trevisan fazia, em média, quatro atendimentos do tipo por mês, e agora são oito. “Percebi gente me procurando para parto domiciliar incentivada pela mãe ou sogra diante da situação que vivemos. Várias chegam sem uma visão real do que é o parto domiciliar, que não tem anestesia, por exemplo”, disse a enfermeira.
Assim como Siqueira, um número maior de gestantes tem optado pelo parto domiciliar. Parteiras e doulas do Rio de Janeiro apontam um aumento de até 200% na procura. A enfermeira obstétrica Karina Trevisan, do Commadre, grupo paulista de apoio à gestação, parto e pós-parto, atua desde 2007 em partos hospitalares ou domiciliares e viu uma elevação na procura por partos em casa durante a pandemia. Antes, Trevisan fazia, em média, quatro atendimentos do tipo por mês, e agora são oito. “Percebi gente me procurando para parto domiciliar incentivada pela mãe ou sogra diante da situação que vivemos. Várias chegam sem uma visão real do que é o parto domiciliar, que não tem anestesia, por exemplo”, disse a enfermeira.
Muitas famílias estão adotando uma estratégia que pode ser descrita como um meio-termo. As mulheres fazem o acompanhamento da maior parte do trabalho de parto em casa e no momento da fase ativa e expulsiva vão para o hospital. Foi essa a opção da engenheira Gabriela Freitas, de 31 anos, que não se sentiu segura para ter seu primeiro filho sem ter todos os recursos médicos à disposição. “Achamos mais seguro contar com atendimento médico, mas reduzimos o tempo no hospital”, disse Freitas. Partos domiciliares não são indicados em qualquer circunstância. Dependem de uma gestação com baixo grau de risco e da existência de boa estrutura médica próxima ao local. Em resumo, precisam ser bem avaliados para minimizar eventuais problemas. “Complicações podem ocorrer no procedimento, como retenção placentária e uma ruptura uterina, além de condições específicas do recém-nascido que podem requerer condutas hospitalares”, disse a pediatra e nutróloga Aline Magnino, diretora médica do grupo Prontobaby.
A doula Maria de Lourdes “Fadynha” da Silva Teixeira, que dá apoio psicoemocional na hora do parto desde 1978 no Rio de Janeiro, também percebeu um aumento na demanda e tem preparado suas clientes para participar dos partos por meio de videochamadas. “O parto feito em casa não pode ser uma decisão de última hora”, contou. A enfermeira obstétrica Flávia Dantas, que integra a equipe Parto por Amor e realiza dois partos em casa por mês, faz questão de reforçar esse ponto.
“O parto domiciliar exige uma forte ligação entre enfermeira e gestante. Se a futura mamãe nos procura uma semana antes, qual será o vínculo que ela constrói com a equipe que vai entrar na casa dela nesse momento íntimo? Por isso não estamos aceitando essas demandas”, disse.
Ariana Santos, da equipe Sankofa Atendimento Gestacional, afirmou que não aceita mulheres com mais de 32 semanas de gestação. “Com menos de um mês para o parto não há tempo hábil para que a mulher conheça as evidências sobre o tema. No início, é feita uma consulta para avaliar os exames pré-natais e se é uma gestação de risco, o que impede o parto domiciliar. Além disso, traçamos o planejamento para uma eventual transferência a um hospital. Às vezes, após a primeira consulta, algumas mulheres optam pelo parto hospitalar”, disse.
“ALÉM DAS MULHERES QUE FAZEM O PARTO EM CASA, CRESCE TAMBÉM O GRUPO DAS QUE SÓ VÃO PARA A MATERNIDADE NA FASE ATIVA E EXPULSIVA. TUDO PARA EVITAR UM TEMPO MAIOR DE PERMANÊNCIA NO HOSPITAL”
Cientes dos temores das gestantes com a pandemia, as maternidades tentam se proteger contra a Covid-19. Na rede pública do Rio, caso a paciente tenha sintomas da doença, ela é isolada e tratada até o parto. Ao ser internada para ter o filho, é avaliada separadamente e orientada, após a alta, sobre o isolamento domiciliar.
As maternidades particulares têm reforçado protocolos para aumentar a segurança. A Perinatal, que tem duas unidades no Rio, estabeleceu novas medidas, como permissão para apenas um acompanhante, suspensão de visitas à maternidade, aferição da temperatura de pacientes e acompanhantes na entrada, fluxo diferenciado para pacientes com Covid-19 e máscaras face shield nos recém-nascidos.
A obstetra Karina Tafner, da Santa Casa de São Paulo, destaca que, hoje, é bastante provável que a gestante possa transmitir o novo coronavírus para o bebê durante a gestação. No início da pandemia, ainda não havia informações sobre isso. De toda forma, o Ministério da Saúde passou a incluir, no início de abril, as gestantes e as mães de recém-nascidos na lista do grupo de risco para o novo coronavírus no país.
"Além da grande chance de transmissão, grávidas têm mais risco de uma evolução grande dessa doença”, explicou Tafner.
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