Ex-presidenta do Chile e atual alta comissária da ONU para os Direitos Humanos conversou com o diretor do EL PAÍS, Javier Moreno, em evento virtual
FEDERICO RIVAS MOLINA
Buenos Aires - 08 SEP 2020
El País
As mulheres estão na linha de frente da covid-19, o confinamento as expõe à violência familiar e elas sofrem mais a crise econômica que os homens. Ainda assim, “dos 12 países que melhor enfrentaram a pandemia, nove são dirigidos por mulheres”, destacou a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que foi duas vezes presidenta do Chile. Ela dialogou por videoconferência com Javier Moreno, diretor do EL PAÍS, no último dia do Hay Festival de Querétaro (México), que em 2020 aconteceu de forma virtual. Ela se referiu à situação de violência na Colômbia, destacou a libertação de 110 presos políticos e perseguidos na Venezuela e chamou a atenção para a necessidade de reconhecer que a violência de gênero é um problema no México.
“Em um país onde por tanto tempo houve violência, é possível que a violência contra as mulheres esteja naturalizada. Mas é crucial que os líderes assumam que o feminicídio é uma realidade dramática em nossa região”, disse Bachelet quando questionada por Moreno sobre a recusa do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a reconhecer os feminicídios como um problema estrutural. “Como ex-chefe de Estado, acredito que mais vale assumir e dizer que temos um problema e que vamos ver como o enfrentaremos”, disse. Parte da solução está em “reavaliar o papel da mulher e modificar a cultura” desde os primeiros anos na escola. “Todos devem reconhecer a igualdade de direitos, mas é preciso inculcar isso desde criança, defendendo a igualdade de oportunidades nas coisas cotidianas, nos jardins da infância, quando os pequenos falam com os pais”, recomendou Bachelet.
“Em um país onde por tanto tempo houve violência, é possível que a violência contra as mulheres esteja naturalizada. Mas é crucial que os líderes assumam que o feminicídio é uma realidade dramática em nossa região”, disse Bachelet quando questionada por Moreno sobre a recusa do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a reconhecer os feminicídios como um problema estrutural. “Como ex-chefe de Estado, acredito que mais vale assumir e dizer que temos um problema e que vamos ver como o enfrentaremos”, disse. Parte da solução está em “reavaliar o papel da mulher e modificar a cultura” desde os primeiros anos na escola. “Todos devem reconhecer a igualdade de direitos, mas é preciso inculcar isso desde criança, defendendo a igualdade de oportunidades nas coisas cotidianas, nos jardins da infância, quando os pequenos falam com os pais”, recomendou Bachelet.
O papel da mulher na sociedade pairou sobre as respostas da ex-presidenta chilena, sem ofuscar a dimensão política do papel que exerce na ONU. Bachelet advertiu para as consequências econômicas e sociais da pandemia, numa região que emergirá mais pobre e desigual e com altas taxas de desemprego. Conclamou os Estados a apoiarem os mais vulneráveis na corrida pela sobrevivência e lamentou o que considerou uma “falta de coordenação” entre os países para enfrentar o vírus. “Vimos nesta pandemia falta de liderança política, cada país se virou sozinho. Até entendo, mas qualquer ministro da Saúde sabe que não há vírus que respeite as fronteiras e que devemos cooperar”, afirmou.
A situação na Venezuela ocupou boa parte da conversa. Seu gabinete já redigiu seis relatórios com duras críticas à situação dos direitos humanos nesse país. Bachelet destacou, contudo, o indulto e libertação de 110 presos políticos por decisão do presidente Nicolás Maduro, na semana passada. Disse que, na sua opinião, Caracas deu “um passo significativo na melhora dos direitos humanos” e que as libertações, junto com o pedido para que haja observadores eleitorais da ONU e da UE, podem ajudar a gerar um clima de confiança com relação às eleições parlamentares de dezembro. “É importante que o Governo de Maduro, se quiser demonstrar que será uma eleição transparente e confiável, procure o máximo de garantias para que a maior quantidade de pessoas possa participar”, opinou.
Sobre a situação de violência na Colômbia, onde o processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foi seguido por uma série de massacres perpetrados por grupos armados vinculados ao narcotráfico, Bachelet apontou as disputas pelos territórios abandonados pela guerrilha. “Muitos assassinaram camponeses para ficar com suas terras, e vimos um aumento das chacinas, 34 massacres até o momento, e por outro lado continuam os assassinatos de líderes sociais e ex-combatentes das FARC. Desde a assinatura de acordo morreram 215 desmobilizados”, resumiu. Na origem do problema, Bachelet encontra a impunidade. Perante a dificuldade dos promotores em encontrarem os culpados das matanças, impõe-se a ideia de que a violência extrema não tem custo. “É preciso tentar melhorar os sistemas que permitam a busca da verdade, do contrário será muito difícil, sobretudo em sociedades onde a violência foi arraigada por muito tempo”, advertiu a ex-presidenta.
“O que acontece quando a violência é exercida pelas próprias forças de segurança?”, perguntou Moreno. “Na Colômbia e em qualquer outra parte do mundo, quando a gente vem de uma guerra onde era viver ou morrer há certas formas de estabelecer como você se relaciona com a outra força que são diferentes dos tempos de paz”, respondeu Bachelet. Por isso, “como escritório, propomos manuais para fazer esse trabalho cumprindo as normativas básicas dos direitos humanos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário