Para ampliar o acesso ao atendimento psicológico gratuito e de qualidade para pessoas LGBT em meio à pandemia do novo coronavírus, três organizações da sociedade civil se juntaram para criar a plataforma online “Acolhe LGBT+”, para conectar psicólogos voluntários a quem precisa cuidar da saúde mental.

Lançado neste mês de setembro - em que campanhas de prevenção ao suicídio e de cuidados com a saúde mental são promovidas pelo País -, o projeto é uma iniciativa da organização LGBT+All Out, em parceria com os coletivosNossas e aTODXS.

A plataforma é inspirada no já conhecido Mapa do Acolhimento, que orienta vítimas de violência doméstica na busca por atendimento jurídico e psicológico. O “Acolhe” cruza dados de localidade e de perfil entre profissionais voluntários de saúde mental e LGBTs para criar conexões para o tratamento.

Como funciona o Acolhe LGBT+, o “tinder” da saúde mental

MOTORTION VIA GETTY IMAGES
A população LGBT sofre com problemas de saúde mental mais que a média nacional, aponta pesquisa realizada pelo Vote LGBT+ durante a quarentena.  

A principal função da plataforma é conectar e combinar profissionais voluntários à quem precisa de atendimento. Para isso, no site, existem dois formulários específicos: um para que profissionais de psicologia se candidatarem ao voluntariado e outro, para quem deseja solicitar atendimento.

Com as informações disponibilizadas pelos usuários, a plataforma cruza a localização geográfica desses dois grupos, encontra os pares mais próximos e notifica as duas pessoas, para que possam levar adiante os atendimentos. 

Responsáveis pela plataforma reiteram que, antes desse “match” ser realizado, uma equipe especializada faz uma checagem do registro de cada profissional no CRP (Conselho Regional de Psicologia), além de exigir que passem por uma capacitação sobre questões específicas da população LGBT.

Em conjunto, as organizações também mapearam iniciativas que dão apoio psicológico e jurídico – gratuito ou a preços sociais – a pessoas LGBT no País inteiro e disponibilizaram mapas organizados por estado na plataforma. O esforço contou com o apoio de 40 pessoas voluntárias. Veja aqui.

REPRODUÇÃO/ACOLHE LGBT
Home da plataforma "Acolhe LGBT", que conecta profissionais de saúde à pessoas que buscam por acolhimento.

“Nossa ideia era criar uma base de dados sempre atualizada desses serviços, pra que qualquer pessoa LGBT+ possa achar as informações rapidamente e de forma centralizada”, diz Daniela Orofino da organização Nossas

Acolhe LGBT+ também pretende gerar dados sobre as demandas da população LGBT no Brasil com relação a serviços de saúde mental, com o objetivo de informar ações por parte do poder público. 

Para Carú de Paula Seabra, psicólogo, coordenador do projeto e integrante da All Out, para quem vive em uma situação de vulnerabilidade social, o atendimento psicológico é primordial, mas ainda é pouco disponibilizado. 

“Receber acolhimento psicológico pode mudar – e salvar – a vida de muitas pessoas LGBT+ no Brasil. Mas, pra muita gente, encontrar esse apoio é uma missão quase impossível”, diz.

“Se pensamos em saúde mental não como a ausência de doenças, mas como uma rede complexa de fatores sociais, biológicos e culturais, pensar o cuidado em saúde mental de pessoas LGBT+ no Brasil se torna um desafio.”

A população LGBT sofre com problemas de saúde mental mais que a média nacional, aponta pesquisa realizada pelo Vote LGBT+ durante a quarentena.

Enquanto 5,8% da população geral brasileira sofre de depressão e 9,3% sofre de ansiedade, segundo dados da Abrata (Associação Brasileira de Familiares e Amigos de Portadores de Transtornos Afetivos), 28% dos entrevistados pelo coletivo disseram já ter diagnóstico de depressão, mesmo antes da pandemia. 

O estudo ainda mostra que uma em cada 2 pessoas LGBT de 15 a 24 anos indicaram a saúde mental como o maior problema da quarentena. Em  grupos etários mais velhos, a indicação foi de 21% entre aqueles com 45 a 54 anos, e 12%, com 55 anos ou mais.

Segundo o Grupo Gay da Bahia, organização que produz relatórios anuais sobre mortes violentas de pessoas LGBT+ no Brasil, o número de suicídios de pessoas LGBT+ – registrados com base apenas em obituários e postagens de redes sociais – teve um aumento de 284% entre 2016 e 2018, data do último relatório do grupo.