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sábado, 18 de maio de 2013


Crianças sem rótulos

A favor das diferenças, contra a patologização da infância

Quando criamos e educamos crianças pequenas, cada frase ou gesto deixam marcas que podem ser reconfortantes e estimulantes para seu desenvolvimento emocional – ou produzir exatamente o efeito contrário.

Os pequenos nos entendem, mesmo que ainda não possam falar. Percebem tudo ao seu redor e muitas vezes se apropriam das frases dos adultos que, quando repetidos com frequência, tornam-se verdades absolutas difíceis de modificar. As próprias crianças se transformam no que escutam. 

É fundamental que pais e professores tenham consciência das frases que dizem com certa frequência, que julgam e preveem como é ou será uma criança, já que ela a escuta e pode assumi-las como verdadeiras.

Também é muito importante romper com crenças e mitos que definem uma criança por uma única característica, como “ela é inquieta, caprichosa, distraída, inteligente”, etc. As crianças são muito mais que uma frase proferida em um momento de tensão, muito mais que uma única qualidade ou defeito.

Como se não bastasse, temos o hábito de colocar apelidos, rótulos ou associar características a algum membro específico da família.

Qual é o risco de que essa prática se transforme em uma “verdade” para toda a família?

Os rótulos adquiridos em casa podem chegar à escola. O processo pode começar com frases um tanto ingênuas, como "isso é típico de filha mais velha", "você é igualzinha à sua mãe" ou "você é distraído e desajeitado" (referindo-se a uma criança pequena), "você tem TDA" (déficit de atenção), "você sofre de TGD" (transtorno generalizado de desenvolvimento) ou "isso é TOC" (transtorno obsessivo-compulsivo). 

Se a pessoa que pronuncia essas frases é alguém significativo na vida da criança, muitos problemas podem surgir. 

Outras frases que podem "condenar" uma criança são:
- "Ele nunca entende nada, parece bobo".
- "Ele é filho único, por isso é tão mimado".
- "Ele é o filho do meio, por isso é o que mais sofre".

Nenhuma criança é igual à outra, e portanto, cada uma sofre à sua maneira. É muito importante perceber sua dor e o sofrimento por ter sido rotulada.

Toda criança é naturalmente influenciada por seu contexto social, cultural e familiar. Quando recebe apelidos ou rótulos como TDA (déficit de atenção), TGD (transtorno generalizado de desenvolvimento) ou TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), atribui-se uma identidade que passa a defini-la.

Ele já não é o Paulinho, mas o TDA, já não é o João, mas o TGD.

Às vezes, isso pode até gerar um sintoma. Aos dois anos de idade, a criança não fala ou fala pouco, não faz contato visual, olha para os lados ou não focaliza o olhar.

Quando é rotulada, também há o risco de medicá-la antes mesmo de completar cinco anos de idade. Quando os pais leem inúmeros livros que descrevem uma infinidade de sintomas e as medicações indicadas, não estão estudando o problema específico da criança, e muito menos suas necessidades.

Seus direitos são violados, sua personalidade, sufocada: a criança se tornam uma mera estatística.

Além disso, existe a tendência de acalmar as crianças com medicamentoms para que se tornem "normais segundo os padrões". Mas que padrões são esses?

Quando a criança apresenta dificuldades específicas, é preciso diagnosticá-la com seriedade. 

Como?
- Analisando o histórico da família.
- Trabalhando em equipe com o pediatra, professores e profissionais de sáude.
- Observando as circunstâncias em que surgem os sintomas ou sofrimentos, a partir das expressões da criança e de seus pais.

Dessa forma, o que está acontecendo à criança pode ir mudando com o tempo. Não é aconselhável rotular uma característica ou condição como um transtorno definitivo. 

Sempre ocorrem mudanças, retrocessos e avanços, que não acontecem ao mesmo tempo em todas as crianças.

Se rotularmos nossos filhos, nós os condenamos a ser vistos dessa forma pelos outros, e seu futuro será mais difícil do que desejamos para eles.

Às vezes, uma criança é rotulada com uma patologia por incomodar ou angustiar os pais ou adultos próximos, mas nunca lhe perguntam o que ela sente. Todas as crianças devem ser ouvidas antes da escolha dos tratamentos necessários. 

Os pais não têm culpa de nada, mas têm a responsabilidade de ajudar seus filhos.

Não se sabe ao certo a origem desses novos problemas (ser distraído, incomodar os outros ou não conseguir prestar atenção), que podem ser vistos como transtornos da infância. Algumas crianças têm dificuldade de falar ou socializar, e nesses casos, é muito importante trabalhar suas potencialidades. 

Às vezes, uma criança não fala quando se espera, não nos olha nos olhos e parece distraída em seu mundo. Mas isso não significa que esse problema ou sintoma seja uma doença, muito menos antes dos seis anos. Se a rotulamos, comprometemos seu desenvolvimento. 

Portanto, os pais não devem pesquisar na internet em busca de sintomas e siglas para rotulá-la. Em pouco tempo, a criança passará a ser julgada por isso e a reagir a essa forma de ser tratada ou observada.

O importante é que cada criança possa conhecer suas potencialidades e dificuldades, e passar da impossibilidade à possibilidade, do mal-estar para o bem-estar.

Devido à origem desconhecida dessas novas patologias da infância, a tendência é colocar nomes, catalogar, rotular e medicar. 

Se você não compreende algum comportamento de seu filho, peça ajuda profissional. Além disso, é preciso prestar atenção ao modo como você fala com ele, à forma de explicar o que não agrada aos pais, sem generalizar. 

Esses são os primeiros passos para que a criança possa se mostrar autêntica na vida social, com sua verdadeira personalidade.

Lic. Alejandra Libenson
Psicóloga e Psicopedagoga
Especialista em Educação, Criança e Infância
Autora do livro “Criando hijos, Creando personas”
www.criandohijoscreandopersonas.wordpress.com 

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