Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

domingo, 19 de maio de 2013


Leito para crianças em hospital particular não dá lucro!

por Yvonne Maggie

Lendo uma reportagem da Folha de São Paulo de 22 de abril de 2013, constatei a gravíssima situação do atendimento hospitalar da rede particular a crianças naquele estado, e deduzo que no Rio de Janeiro também seja assim. Há poucos leitos infantis nos hospitais particulares e a emergência pediátrica é quase inexistente. Mesmo os hospitais mais afamados não estão preparados para suprir a demanda.
Conforme afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo da Silva Vaz, na reportagem da Folha, há pediatras, mas o problema é a baixa remuneração deles pelos planos de saúde. Além disso, “os hospitais estão fechando leitos de pediatria porque atender criança não dá lucro”.
Não é exagero do dr. Eduardo, pois o dr. Wagner Marujo, diretor-superintendente do hospital Sabará, especializado em pediatria, concorda. Segundo ele, crianças geralmente precisam de poucos exames. “Dá mais lucro tratar de câncer.”
Dados do Ministério da Saúde mostram que os leitos pediátricos privados foram reduzidos em 14% na cidade de São Paulo, entre 2011 e 2013. Não consegui estatísticas sobre o Rio de Janeiro, mas imagino que não sejam mais alentadoras.
A situação se agrava no início do inverno quando as doenças respiratórias aumentam.
A reportagem da Folha de São Paulo sugere a criação e implantação de um sistema de médicos de família oferecido pelos planos voltado para a clientela infantil, de forma mais eficiente e sem o risco de contaminação que aumenta com a superlotação dos hospitais.
Se a situação na rede privada é assim, imagine o que deve ser na rede pública. O hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o hospital universitário da UFRJ, por exemplo, que tem uma das raras emergências pediátricas públicas no Rio fechou por dois meses o serviço. Reabriu por exigência da Defensoria Pública da União.
Uma das soluções mais discutidas atualmente para melhorar o desempenho dos hospitais universitários é a empresa que se propõe a apoiar a gestão, contratando funcionários por meio de concurso público e investindo em infraestrutura, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh/MEC). A Ebserh já atua em alguns hospitais universitários do País. Está em pauta no Conselho Universitário se  a UFRJ aceitará ou não participar dessa inovação no serviço público.
Alguma coisa precisa ser feita porque os hospitais universitários estão sempre passando por graves crises e precisam renovar sua gestão para poder oferecer o serviço que a população merece. Eles têm equipes médicas de alto nível, mas sua infraestrutura é frágil. Hospitais de alta complexidade não podem ser geridos com a lentidão burocrática do serviço público. Além disso, enquanto as decisões ficarem nas mãos de estudantes, professores e funcionários técnicos administrativos nos conselho universitários, ao sabor das ideologias e muito pouca capacidade de pensar generosamente, as crianças continuarão sofrendo nas salas de emergência precárias.
E não há para onde correr, pois mesmo com um bom plano de saúde não terão atendimento adequado porque leitos infantis não dão lucro, por mais louca que soe a frase.
Fiquei estarrecida com a situação porque, além de tudo, há uma questão ética a ser enfrentada. Não há político que não discurse sobre a necessidade de melhorar a saúde, a educação e os transportes, mas afinal, o que fazem os nossos representantes quando eleitos diante desse quadro alarmante? François Truffaut, no belíssimo filme de 1976 Na idade da inocência, toca nessa ferida pela voz do professor da escola que, em um extraordinário discurso, diz: criança não vota e por isso seus problemas são esquecidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário