quarta-feira, 8 de maio de 2013

No Rio, chefe de agência da ONU destaca importância da inclusão social como prevenção ao crime

Segundo Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Yury Fedotov, a inclusão social e o desenvolvimento de comunidades devem estar no centro de ações de prevenção ao crime. Ele visitou a UPP do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo.

Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Yury Fedotov, em visita ao Rio. Foto: UNODC

Fedotov visitou na tarde desta terça-feira (7) a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) que atende as comunidades do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, em Ipanema, desde dezembro de 2009.

O Diretor Executivo do UNODC, que também é Subsecretário-Geral da ONU, estava acompanhado do Secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, e do Subsecretário de Relações Internacionais da Casa Civil, Pedro Spadalle. Também participou da visita Eduarda La Rocqua, Presidente do Instituto Pereira Passos, responsável pela implementação do programa UPP Social – desenvolvido em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro e a ONU-Habitat e que se destina a aplicar medidas de inclusão social e acesso a cidadania nos territórios servidos pelas UPPs.

Após conhecer o Mirante da Paz, Fedotov caminhou pela comunidade até a base da UPP, onde assistiu a apresentações sobre os programas sociais e de segurança pública implementados no local. “É essencial garantirmos a inclusão social e o desenvolvimento das comunidades como componente central nas ações de prevenção ao crime”, disse Fedotov durante a visita, ao destacar os esforços do governo do Rio de Janeiro e da Polícia Militar na luta contra o crime organizado e o tráfico ilícito de drogas.

Diretor do UNODC, Yuri Fedotov, conversa com moradora da comunidade do Cantagalo, zona sul do Rio de Janeiro. Foto: UNIC Rio/Damaris Giuliana

“Eu vim ao Brasil para ver como as experiências bem-sucedidas de combate ao crime no Rio de Janeiro podem ser adaptadas em outros lugares com situações de segurança similares”, completou ele.

O Diretor Executivo do UNODC também conheceu o núcleo do Grupo Cultural AfroReggae, onde participou de um encontro com ex-integrantes de facções do narcotráfico do Rio de Janeiro e representantes da polícia do Estado, que formam duas iniciativas do AfroReggae: o talkshow Comandos e o projeto Empregabilidade.

Secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (Rio de Janeiro), Zaqueu da Silva Teixeira, fala sobre ações na comunidade do Cantagalo ao Diretor Executivo do UNODC, Yuri Fedotov. Foto: UNIC Rio/Damaris Giuliana

O primeiro consiste numa proposta de interação e diálogo entre ex-traficantes, policiais e espectadores sobre temas relacionados a reintegração e transformação social, conscientizando o público ao reunir visões de mundo contrastantes através de uma ênfase na educação.

Já o segundo projeto promove a reinserção de ex-presidiários no mercado de trabalho e é liderado por ex-integrantes das facções Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos. Desde seu início em 2008, o Empregabilidade criou cerca de 3.100 oportunidades de emprego.

Durante o encontro (foto), Fedotov pôde conhecer as experiências de ex-criminosos como Washington Rimas, o Feijão, ex-integrante do Terceiro Comando que liderou o tráfico de drogas no complexo do Acari e hoje é consultor do AfroReggae; e Francisco Monteiro, o Tuchinha, ex-integrante do Comando Vermelho que chefiou o tráfico no Morro da Mangueira, passou 21 anos na prisão e hoje é consultor do projeto Empregabilidade.

Diretor Executivo do UNODC também conheceu o núcleo do Grupo Cultural AfroReggae. Foto: UNODC

Também participou do encontro Claudio Piúma, o Gaúcho, ex-membro da facção Comando Vermelho: “Eu vivi 40 anos no crime, e sei que nenhuma dessas pessoas quer estar ali. O passo mais difícil para sair da vida do crime é encontrar um caminho para se reintegrar à sociedade, à família, aos amigos, e viver uma vida em paz e feliz. Hoje o AfroReggae é esse caminho para muita gente”.

“Foi muito importante ouvir em primeira mão histórias sobre a violência gerada pelo tráfico de drogas no Rio, e também de conhecer grandes exemplos de reabilitação”, disse Fedotov, destacando a importância da participação de líderes comunitários como Gaúcho e Feijão em fóruns internacionais onde possam compartilhar essas experiências.

Expressando seu apoio por iniciativas da sociedade civil como o AfroReggae, ele destacou a inovação dos projetos ao reunir comunidades, ex-criminosos e policiais para discutir os problemas criados pelo crime, armas e drogas ilícitas. “Iniciativas como essas são enormemente construtivas para o UNODC, já que podem oferecer um mapa de como reintegrar ex-traficantes de uma maneira eficaz e criativa como parte de intervenções de prevenção ao crime.”

Diretor do UNODC, Yuri Fedotov, participa de evento com ex-integrantes das três facções do narcotráfico do Rio de Janeiro, ex-miliciano e representantes das polícias do Estado que participam de iniciativas coordenadas pela ONG AfroReggae: o programa de TV Comandos e o projeto Empregabilidade. Foto: UNIC Rio/Damaris Giuliana

Durante a visita à UPP, Fedotov também ressaltou o papel do UNODC de apoiar o fortalecimento da capacidade da polícia brasileira, desenvolver programas abrangentes de cuidado para crianças e jovens ameaçados pelas drogas e trabalhar na prevenção da disseminação do HIV e de outras doenças entre populações vulneráveis. “O UNODC adota uma abordagem balanceada para assegurar que seus esforços nas áreas de aplicação da lei e da justiça criminal sejam complementados pelo trabalho no campo de prevenção e tratamento de drogas, sempre tendo como base os princípios de direitos humanos”, explicou Fedotov.

O Diretor Executivo do UNODC está realizando sua primeira visita oficial ao país e irá amanhã para Brasília, onde participará do lançamento do Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no Brasil. A agenda da missão de quatro dias de Fedotov inclui encontros com autoridades do governo brasileiro, representantes de organizações da sociedade civil e jornalistas para discutir questões relacionadas a tráfico de drogas, prevenção e tratamento do uso de drogas, crime organizado transnacional e tráfico de pessoas.

O que é o UNODC

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) implementa medidas determinadas pelas três convenções internacionais de controle de drogas e pelas convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção. O trabalho do UNODC está baseado em três grandes áreas: saúde, justiça e segurança pública.

Dessa base tripla, desdobram-se temas como drogas, crime organizado, tráfico de seres humanos, corrupção, lavagem de dinheiro e terrorismo, além de desenvolvimento alternativo e de prevenção ao HIV entre usuários de drogas e pessoas em privação de liberdade.