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terça-feira, 7 de maio de 2013


Olhe o outro

Fui testemunha de uma cena que considerei comovente. Estava esperando uma colega à porta de uma escola, era a hora da saída dos alunos. Mães, pais e crianças deixavam o espaço escolar com diferentes humores e comportamentos.
Quem já teve a oportunidade de assistir a cenas semelhantes sabe que esse pode ser um momento um pouco confuso e barulhento, mas é sempre muito rico para quem gosta de observar a interação entre pais e filhos.
Uma mulher e seu filho, de uns cinco anos mais ou menos, chamou a atenção do meu olhar. Passei a acompanhá-los logo que passaram por mim. Ela andava um pouco atrás do menino, que estava totalmente focado em algo que levava nas mãos.
De repente, o menino jogou um objeto no chão e continuou a caminhar em direção ao carro que --logo depois percebi-- estava bem próximo ao local onde eles e eu estávamos.
Foi o desenrolar desse acontecimento que considerei comovente e, por isso, compartilho com você, caro leitor. Essa mãe olhou bem para o entorno de onde estavam e, em seguida, chamou o filho. O garoto atendeu ao chamado da mãe de imediato e, assim que ele chegou perto dela, vi a mãe se abaixar e conversar com o filho em um tom bem tranquilo.
Eu imaginei que ela fosse mandar o garoto pegar do chão aquilo que ele jogara e colocar no lixo, que estava próximo. Só essa atitude da mãe, que eu pensei que fosse acontecer, já me surpreenderia porque, vamos convir, essa é uma iniciativa não muito comum de ser observada no espaço público.
Mas essa mãe fez algo bem diferente, como descobri a partir da reação que os dois tiveram em seguida. Depois de uma breve conversa dela com o filho, que eu não pude ouvir, os dois voltaram o olhar para uma servente da escola que limpava as escadas por onde muitos pais saíam com seus filhos. Na sequência, o garoto pegou do chão o que jogara --parecia um pedaço de lápis colorido-- e levou até o cesto de lixo. E, calmamente, os dois entraram no carro e foram embora.
Devo confessar que senti uma imensa vontade de caminhar até essa mãe e parabenizá-la pela sua atitude com o filho. Entretanto, tímida que sou, continuei parada onde estava, mas totalmente envolvida em meus pensamentos com o que eu acabara de presenciar.
Não sei as palavras que essa mãe disse ao filho, mas percebi que ela chamou a atenção dele para a servente, uma pessoa que realizava um trabalho que a criança nem notara e que tampouco respeitara ao atirar no chão aquilo que tinha nas mãos. Eu não sei se essa mãe sabe, mas o que ela fez foi tentar despertar no filho aquilo que chamamos de empatia.
Ter empatia significa ser capaz de se identificar com o que uma outra pessoa sente em determinadas situações, em geral difíceis, que provocam emoções fortes.
Estar aberto para compreender o que se passa com outra pessoa é uma maneira de se colocar disponível para ajudá-la, portanto. E isso sem falar do respeito pelo outro que a empatia provoca.
Sensibilizar o filho para a empatia é parte do que nós chamamos de formação moral. Hoje, não são muitos os pais que se ocupam desse aspecto tão importante da educação dos mais novos, não é verdade?
Na atualidade, a empatia é coisa rara. Estamos muito mais propensos a realizar julgamentos severos sobre outras pessoas do que inclinados a procurar compreendê-las. É que olhamos muito mais para nós mesmos do que para os outros.
A empatia é uma maneira de sair do individualismo e de se abrir para a conexão com os outros. As relações sociais melhoram muito com o desenvolvimento do sentimento de empatia, portanto.
A realidade que temos vivido tem apontado incessantemente para a importância de formarmos crianças e jovens mais sensíveis aos outros. Isso pode tornar a vida deles muito melhor.
rosely sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. http://folha.com/no1273866

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