Leonardo Sakamoto
Publiquei um texto sobre a violência que as mulheres sofrem em festas e afins. Violência democrática, que vai do humilde risca-faca na periferia até a balada em que você paga para respirar nos bairros considerados mais nobres.
Recebi uma quantidade surpreendente de mensagens eletrônicas, além de comentários postados no Facebook e no próprio blog, de mulheres que resolveram contar suas histórias para desabafar mesmo ou para reforçar a violência que sofreram. O que é ótimo, pois não raro as agredidas acabam por considerar normal esse tipo de comportamento masculino devido à frequência com a qual ele se repete. Isso sem contar os seguranças e os policiais mal treinados.
Não, não é normal e pode ser crime. Como escrevi, ataques como esse traduzem o que parte da nossa sociedade machista pensa. Que uma mulher que conversa de forma simpática em uma festa está à disposição, que uma mulher que se veste da forma como queira está à disposição, que um grupo de mulheres sem “seus homens”, andando na noite de São Paulo, está à disposição. É necessário dar um basta nessas situações e um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher mais próxima pode ser um poderoso estopim de mudança em uma escola ou comunidade por conta do exemplo.
No post que escrevi, alguns leitores se manifestaram – veja só – apoiando esse tipo de violência, no mais descarado estilo “longe de mim bater em mulher, mas muitas delas pedem”, “não quer beijar, não vá à balada” ou ainda “vou ter que levar três vias de autorização para ficar com alguém agora?”. Isso sem contar os machistinhas negacionistas que dizem “Você inventa essas histórias, isso não acontece na vida real”. Fico matutando que é só mesmo através da violência física ou psicológica de uma sociedade como a nossa que esses idiotas conseguem levar sua carga genética adiante.
Pedi autorização a uma leitora que me mandou uma mensagem fechada para abrir a história dela. Não por ser algo diferente do que se vê por aí, mas exatamente por se repetir com triste frequência:
“Nunca fui muito a essas baladas “eletrônicas”, costumo ir mais a shows e pub – especialmente pelos ocorridos nas poucas vezes que acompanhei amigas a esse tipo de festa. Em 2008, em uma grande casa noturna de Porto Alegre, um menino muito bem vestido e simpático veio conversar comigo e, por eu ter conversado com ele, achou que podia tentar me beijar a força. Eu delicadamente disse que estava conversando com ele porque gosto de conversar, mas não estava afim, nem tinha saído nesse intuito, queria dançar. Ele respondeu “Como assim? Todos estão aqui com esse intuito, e você vai negar assim? Tá se achando”. Após mais uma tentativa de me beijar a força, empurrei-o e saí do lugar ao lado do bar que eu estava. Alguns minutos depois, ao ir procurar minhas amigas, andando entre as pessoas, senti um forte soco na minha têmpora direita, e minhas pernas amoleceram. Ao ser amparada por um casal que segurou meus braços para eu não cair no chão, olhei para trás estava aquele menino, parado, me olhando. O garoto sumiu do local.
O outro caso foi em uma Festa do Chopp em Feliz (RS), em que estava olhando um show e um homem me abordou violentamente, eu o empurrei e ele levantou a mão, segurando meu rosto, na mandíbula, esticando meu pescoço, até um amigo dele ver em uma fração de segundos a cena e puxar a mão dele que esmagava meu rosto, levando-o para longe de mim. Saí dali horrorizada, quando não foi minha surpresa que, longe do local do show, cerca de umahora depois ele me abordou novamente na fila do chopp, atrás de mim. Fingindo que me abraçava, enquanto eu o afastava de mim, puxou meu cabelo. Eu o empurrei enquanto outras pessoas olhavam, quando o amigo dele que havia tirado a mão dele do meu rosto na frente do show, disse alto “Aí, sortuda! Larga de ser fazida! Não vai ter outra chance dele te querer. E tu nem é grande coisa assim”.
Fora essas histórias, ainda enfrento em alguns lugares da cena noturna de Porto Alegre pequenos chutes e socos nas costas, ofensas (bem mais comum) e roxos de apertões nos braços, tudo em nome do “Você está aqui para isso: aceite”. Parece que está havendo um movimento em sentido contrário, por parte dos machistas, de quando nos pronunciamos feministas e reivindicamos respeito (como ser humano) somos ainda mais humilhadas e violentadas.
Posto também um depoimento de uma leitora no meu blog:
“Eu mesma já fui agredida duas vezes! A primeira, eu tinha 20 anos e participava do Interunesp, evento da minha faculdade, em Araraquara, no ano de 2010. Por ter sido em uma cidade próxima de outras faculdades, muitos alunos da USP São Carlos participaram de um evento da Unesp. Durante o show do Monobloco, no primeiro um dia, um cara da engenharia da USP (se identificando desta faculdade por estar usando uma camiseta do Centro Acadêmico), chegou em mim forte, me agarrando e me ofendendo para que eu ficasse com ele. Eu o empurrei e dei um fora, mas ele insistiu e me deu uma cotovelada no olho direito. Eu tinha bebido um pouco e estava sozinha, perdida, comecei a cair e o segurança me pegou no colo, no meio da multidão e me levou ao ambulatório, o cara sumiu no meio das pessoas. Por sorte colocaram gelo e gelol na área em volta do meu olho e fiquei com ele apenas vermelho.
Tenho vergonha de ser homem nessas horas.
E qual a sua história de violência e desrespeito sofrida em uma balada?
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