Bianca Santana
Jornalista especialista em educação e cultura digital, professora da Faculdade Cásper Líbero, idealizadora da Casa de Lua
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Todas? Sim. Até as que eu amo? Sim. Eu também vou morrer? Sim.
Quantas homenagens lindas e merecidas recebeu Ariano Suassuna nos últimas dias. Bonito de ver. Mas o choque de algumas pessoas e a lamentação de outras são surpreendentes, afinal, ele tinha 87 anos, muito bem vividos por ele e por todo o legado que deixou. Agradeçamos e desfrutemos. Mas... surpresa?
A gente passa a vida sabendo que vai morrer. Mas a maior parte de nós não aceita essa realidade. E sempre é surpreendido com a morte de alguém, mesmo que a pessoa tenha 87 anos. Aceitar o vazio, a tristeza, o fim, o luto, a saudade faz bem! Permite crescer e viver melhor cada dia. Porque a gente aproveita o tempo que tem aqui e o tempo que as pessoas amadas vivem. Aprendi isso com dor. Depois da morte prematura do meu pai, quando ele tinha 42 anos e eu 11, entendi que todo mundo morria mesmo. Que era terrível meu pai ter morrido cedo. Mas que eu devia aproveitar muito bem cada dia, porque a vida é curta e frágil.
Algumas pessoas, sabendo que a morte vem, fazem o possível e o impossível para evitá-la ou retardá-la. Mesmo que isso signifique mais sofrimento ou, em última instância, seja inútil. Entendo e sou solidária com cada uma delas. E não quero, de forma alguma, ser ofensiva ou desrespeitosa. Mas gostaria de fazer uma pergunta (retórica, confesso): a quem interessa que tenhamos tanto medo da morte? E façamos de tudo para evitá-la?
Um trecho de reportagem da Folha de S.Paulo de ontem, sobre o fechamento da Maternidade Santa Catarina, pode ajudar a responder:
O médico e administrador hospitalar Walter Cintra Ferreira Júnior diz que a tendência é que mais hospitais gerais localizados em grandes metrópoles optem em fechar as suas maternidades.O especialista diz que esses espaços são poucos rentáveis pois, se tudo corre bem, mãe e bebê ficam poucos dias internados e necessitam de poucos medicamentos, independente se o parto é normal ou cesárea."Boa parte das receitas dos hospitais vem de materiais e de medicamentos. Um paciente de oncologia que faz quimioterapia, cirurgias, que precisa de UTI repassa um valor muito maior para o hospital do que uma parturiente", comenta.
Precisamos saber que a morte chega para todas e todos. Viver bem, com saúde e intensamente. E ter a certeza de que nem sempre o principal objetivo da ciência, da medicina e dos hospitais é a nossa vida.
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