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sábado, 19 de julho de 2014

Supergigante: explosão entre a primeira perda e o primeiro beijo

Por Roberto Almeida 15/07/2014
Ana Pessoa, autora portuguesa de O Caderno Vermelho da Menina Karateca (Ed. Sesi-SP, resenha aqui), lançou recentemente seu segundo livro, Supergigante, pela Editora Planeta Tangerina. A obra, com ilustrações de Bernardo Carvalho, conta a história de Edgar, um adolescente que se vê em crise após a morte do avô. A perda gera tantos questionamentos que faz o garoto correr sem destino. Uma correria que parece não acabar nunca.
A jornada de Edgar é intensa e exige do leitor. O texto em primeira pessoa, em fluxo de consciência, foi construído com bastante esmero entre repetições, confusões e distorções cronológicas. A relação com o avô entra em xeque, assim como a relação com os amigos, com os pais e com um primeiro amor. Ou seja, nos campos mais importantes da vida, Edgar está em ebulição e uma explosão é iminente. Vive o presente entre a primeira morte e o primeiro beijo.
Supergigante traz um subtexto magnífico de temporalidade. Ana joga com a noção de presente, passado e futuro em paralelo com construções de identidade do personagem principal, que gosta de contar histórias começando pelo fim. O garoto tropeça entre viver o passado, entender o presente e escolher um futuro de acordo com a maneira que se enxerga e se posiciona no mundo. Com a palavra, o próprio Edgar:
“Não sei se estou a fugir de alguém ou se vou atrás de alguma coisa. É como se tivesse chegado atrasado à minha própria história e se calhar foi mesmo assim.”
Capturar essa essência tão intensa deve ter sido um trabalho árduo (e empolgante) para o ilustrador Bernardo Carvalho. As cores, as explosões, a correria e a realidade vista pelos olhos de Edgar tornam-se uma sequência de imagens entre a solidez de algumas lembranças e a incompreensão sobre o presente. O ritmo acelerado do texto ganha em frescor com a harmonia que as ilustrações proporcionam.
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Edgar e os amigos, por Bernardo Carvalho. Imagem: Divulgação.
Supergigante me lembrou das leituras marcantes que fiz na adolescência, boas para cobrir conflitos internos com palavras. Algumas páginas entregaram mais compreensão do que meus amigos, pais e professores. Eram tempos pré-Harry Potter, então gostei de Retrato de um Artista Quando Jovem, de James Joyce, fiquei abismado com a violência de A Cidade e os Cachorros, de Vargas Llosa, e viajei com a obra toda do Garcia Márquez e do Guimarães Rosa. Foi bom.
Ao ler Supergigante, aconteceu uma identificação imediata entre Edgar e aquele meu eu adolescente que ficou no passado, que teria sido tão feliz com esse livro na mão. Assim como Edgar se transforma, posso imaginar Supergigante como um livro-agente transformador, que projeta um espelho para que adolescentes e adultos se enxerguem como são, ou como já foram, com todas as suas belas imperfeições. Que bonita a alegria da aceitação, de não estar só.
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Página aberta e, no canto inferior direito, Edgar em fuga.
O livro, de 160 páginas, saiu em Portugal mas ainda não ganhou edição no Brasil. Ele pode ser comprado na página da Editora Planeta Tangerina. O preço é 14€ (cerca de R$ 43).
Ana Pessoa, lisboeta, nasceu em 1982, mora em Bruxelas. Você pode acompanhar mais do trabalho dela em seu blog pessoal: www.belgavista.blogspot.com.
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Capa e correria: quem alcança Edgar?

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