Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar
Banco Santander (033)
Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4
CNPJ 54.153.846/0001-90
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
11 coisas que não têm nada a ver com ser mãe de meninos
Think Olga
Muitas mulheres dizem que sonham em ter filhas meninas. Nesse sonho, as filhas são exatamente como elas e gostam de fazer as mesmas coisas. O triste é que no exercício dessa imaginação não há espaço para um menino que seja assim, que a acompanhe no que ela gosta, seja tranquilo ou companheiro. É como se algumas pessoas pensassem que meninos são de outro mundo e não podem se relacionar com nós. Mas, espera aí, eu tenho dois filhos meninos e eles são extremamente companheiros, respeitosos e tudo o que eu sempre sonhei.
Os papéis de gênero influenciam até mesmo nossos delírios de maternidade e aí surgem listas absurdas sobre o que é ser mãe de meninos. Pegamos alguns desses itens tidos como verdade absoluta sobre a maternidade de pequenos homens e vamos acabar com esses mitos.
1. Guerra nas Estrelas é uma religião
Isso acontece com meninos e meninas que são apaixonados por alguma coisa. Uma amiga costuma dizer que pessoas sem vícios em séries, livros, filmes ou músicas são pessoas chatas. Pessoas. E quando eu digo pessoas, estou falando de homens e mulheres de todas as idades. Meninas também amam Guerra nas Estrelas. Sabe por quê? Porque não é uma questão de gênero.
2. Odiar e agradecer ao mesmo tempo o privilégio que seu filho terá por ser um homem adulto
Li uma lista em que a autora diz que essa explicação é difícil, mas eu não acho. Acho apenas que essa mostra como ela é egoísta e preguiçosa. Meus filhos, eu tenho certeza, não terão uma vida fácil. Isso porque eles já são os caras que explicam que as coisas estão erradas. Meu filho mais velho, de 11 anos, luta contra a homofobia. E ele não é gay. Meu filho mais novo, de 4 anos, luta, do jeito dele, contra papéis de gênero ao explicar que não existem brinquedos de meninos e meninas enquanto coloca suas Barbies dentro de carros. Eles serão alvos fáceis e claros porque não são como os outros homens, aqueles do padrão de masculinidade burra e ogra. Eles terão privilégios? É claro! Mas não vão lidar com isso como se os merecessem, vão apontar esses privilégios e deixar claro que eles existem. E isso eles aprendem comigo, todos os dias, porque eu não quero respirar aliviada, eu quero mudar o mundo.
3. Meninos são mais carinhosos
Tenho certeza que se eu tivesse uma menina, seria igual. Porque isso chama amor e respeito e afinidade. Uma autora diz assim: “Ele não está tramando nada. A afeição dos meninos é simples. Você nunca vai encontrar nada mais puro neste mundo, garanto.”. Calma aí, amiga. Você está mesmo dizendo, nas entrelinhas, que mulheres sempre têm interesses? Bom, é por isso que nossa vida é tão difícil e você respira aliviada por ser mãe de homens. Mulheres são tão verdadeiras quanto homens, isso depende de características de cada um, da índole, da criação, não do gênero.
4. Meninos são escatológicos
Eu sou mulher. Sou assim desde que me conheço por gente. E nunca tive problema com puns, cocô ou coisas tidas como nojentas. Porém, meus filhos são ensinados de que não é educado soltar gases na frente dos outros. Em casa, tudo bem, afinal é fisiológico e normal, mas é preciso respeitar as pessoas. Mais uma vez, não é questão de gênero, mas de como você educa seus filhos.
5. Meninos não sabem fazer xixi no lugar certo
Vamos ter uma conversa séria: se você pensa isso é porque está criando animais. Pessoas que não respeitam nada. Nem espaço, nem higiene, nem os outros… Será que não está na hora de repensar os limites? Meu filho mais novo, inclusive, seca o pipi depois de ir ao banheiro. Novamente, nada com o gênero, tudo com a educacão.
6. Meninos gostam de armas
Quem nunca viu meninas brincando de brigar com bonecas? Ou com espadas? O fato é que a sociedade enfia esse gosto goela abaixo dos meninos. Meus filhos gostam de milhares de outras coisas. As amigas deles também. Será que isso não é uma maneira triste de colocar crianças dentro de caixinhas para facilitar a vida de adultos?
7. A energia dos meninos é física
A autora de um texto diz assim: “desde o instante em que eles irrompem das nossas vaginas e entram no mundo, os meninos são donos do espaço que habitam.” Uma mulher está dizendo isso. Imagina se essas crianças vão respeitar as pessoas ao seu redor? E as mulheres? E os espaços individuais? Meninos só são assim se ninguém lhes impõe limites. Limites são bons, são amigos, são saudáveis.
Meninos que não entendem limites são os que se tornam assediadores, que não respeitam o não de uma mulher, que tentam destruir a vida daquelas que os rejeitam. Criar qualquer criança, menino ou menina, sem limites é uma receita certeira para um fim bastante triste.
8. Meninos não ouvem
Eles ouvem. Quando querem. Assim como eu e você. Quantas vezes você simplesmente continuou fazendo o que estava fazendo apenas porque queria assim? Estudos mostram que os meninos têm audição menos sensível que as meninas quando nascem, e a diferença só aumenta com a idade, mas se você realmente acredita nisso, uma dica: vá na frente do seu filho, segure em seus ombros com firmeza, olhe em seus olhos e diga o que precisa. Vai surtir efeito sem que meio grito seja dado. Além disso, gritar é um tipo de agressão e, bem, nenhuma de nós quer ser uma agressora de crianças, né?
9. Eles fazem perguntas que você nem imagina a resposta
Se gostam de quadrinhos, por exemplo, vão querer saber se você prefere esse ou aquele super-herói. Assim como sua filha. E seus amigos. E seus pais. E seus chefes. E seus subordinados. E a pessoa que vende cortinas. Se eles se interessarem por quadrinhos, é claro. Bem, não preciso explicar muito sobre não ter nada com ser mãe de menino, né?
10. Eles não se preocupam com roupas ou visual
Miga, só se forem os seus filhos, porque para os meus… Meus filhos AMAM comprar roupas. É um gasto sem fim, se eu não ficar esperta. E não é só calça, bermuda e camiseta. São coletes, jaquetas, blusas fechadas de moletom, malhas, tênis, chuteiras, bonés, chapéus, toucas… Questão de personalidade.
11. Meninos amam incondicionalmente
E meninas amam como? Por favor, me explique. Uma autora diz “filhas batem o pé e pedem para ficar sozinhas. Filhos simplesmente te amam.” Eu diria essa frase de outra maneira: pessoas com certo tipo de personalidade batem o pé e blábláblá, já pessoas com outro tipo de personalidade apenas amam e aceitam o que você quiser que elas aceitem. Personalidade, né, não gênero.
Aí a gente sempre escuta uns papos de que meninos têm mais energia, são mais sensíveis – pra onde isso vai na idade adulta? É enterrado? -, são mais curiosos, inocentes e têm mais compaixão. Mas isso, pela milésima vez, é algo absurdo de se dizer. Medir o mundo por aquele único ser que você tem em casa. Se fosse uma menina e recebesse exatamente a mesma criação, talvez ela seria igualmente tudo isso…
Dividir gêneros, seus papéis, seus traços de personalidade e gostos não só não faz sentido, como é prejudicial para todas as gerações que virão. Homens podem ser delicados e gostar de balé. Mulheres podem ter uma agressividade notável e escolher luta como esporte. Todo mundo pode tudo porque somos pessoas, temos nossas individualidades e somos formados de experiências.
Essas experiências nos são oferecidas desde bem pequenos. Talvez a criação influencie, talvez não. Não há estudos conclusivos. O que há é observação e respeito por cada pessoa, independente do seu gênero.
Criar filhos é muito mais do que bater palmas para tudo o que eles querem fazer. Criar filhos é guia-los para a construção de um mundo melhor e mais justo. E isso se faz não deixando que eles abracem seus privilégios e aceitem imposições sociais. Amar é mostrar que o mundo é cheio de nuances e que eles precisam manter os olhos abertos, independente do seu gênero. Deixar que nossos filhos acreditem em um conto de fadas é preguiçoso, irresponsável e desastroso. Somos melhores do que isso, irmãs.
Carol Patrocinio é jornalista, escreve o Preliminares no Yahoo!, estuda relações de gênero e sexualidade e é mãe de dois meninos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário