Deixar de se encontrar com alguém não significa que a relação morreu
Guilherme Nascimento Valadares
Mecenas, Relações, 23 dias para um homem melhor
Uma relação não existe apenas no cara a cara. Podemos ver alguém todos os dias e sermos quase estranhos (alô, coleguinha do trabalho). Dá pra cultivar um elo profundo nunca estando com alguém (pense num autor cuja obra completa e biografia você tenha lido).
Relação olho a olho é só uma, e talvez a mais comum, dentre as possíveis.
Então porque insistimos em achar que é possível matar uma relação quando deixamos de nos encontrar com uma pessoa ou ler suas mensagens no Facebook?
Isso não existe.
Cada vez que pensamos no outro, alimentamos nosso vínculo. Cada ação feita com fulano em mente, ainda que ele nunca desconfie disso, idem.
É possível passar décadas sem ver alguém e manter a relação viva, para o bem e para o mal.
Escolher como lidar com as relações adoecidas é tão importante quanto colocar energia naquelas que nos encantam e estão recém surgindo. Pois uma relação nunca morre. Podemos enterrar e esconder aquela que nos incomoda, usando uma pá de ressentimento, raiva, sentimento de superioridade, medo ou alguma outra emoção negativa.
Não compro quando fulano diz que não dá a mínima para ciclano. Quase sempre é o contrário, a pessoa está tão fixada no outro que faz todo o possível, em suas ações e opiniões, consciente e inconscientemente, para afirmar que o ignora. E assim reforça a relação, às vezes demorando anos até se dar conta disso.
Pode notar, quando alguém diz que é indiferente a outra pessoa, quase sempre surge uma microexpressão de desdém, denotando sentimento de superioridade.
Melhor que desdenhar ou enterrar com ódio é nos liberar.
Ao invés de bloquear a pessoa e falar mal dela pelas costas, apenas se afaste. Fofocar é um excelente modo de se cultivar emoções negativas e manter viva justamente a relação da qual se quer afastar. Tão ruim para quem faz quanto para quem é alvo.
Nada de dar uma de Capitão Nascimento. No lugar de despejar raiva no ex, respire fundo e deseje a ele o mesmo que espera para si, felicidade genuína.
Ao reconhecer que as relações sempre seguem, muda como lidamos com elas hoje. Brota naturalmente um desejo de sermos mais dignos e autênticos. Afinal, somos nós quem vamos carregar os esqueletos afetivos vida afora.
Ao invés de tentar matar, eliminar e bloquear suas relações problemáticas, dê a elas um nascimento positivo
Hora da prática.
Pense nas relações atuais que mais reviram seu estômago. Vale colocar esposa, mãe, pai, amigo, chefe, qualquer uma.
Aspire um futuro tão rico quanto gostaria para si para aqueles de quem deseja se afastar. Reconheça que, assim como você, eles estão dando o melhor de si em busca da felicidade e também enfrentam uma série de obstáculos e problemas, que você talvez nem imagine.
Que essa aspiração seja sincera, de peito aberto.
Agora aja como considerar mais adequado. Evite bloquear, xingar, atacar e difamar o outro. Prefira pacificar, matar o conflito pela raiz abrindo suas próprias vulnerabilidades. Se é dolorido pensar nisso, talvez você esteja com medo de parecer fraco ou inferior, mas isso é só uma insegurança besta. Há grande mérito em soltar e perdoar.
Se a convivência entre vocês for inevitável, vá pacificando aos poucos. Enquanto sentir que não tem nada de bom a dizer, apenas se mantenha longe. Deixe para se aproximar quando estiver sereno e se sentir capaz de enriquecer e encorajar aquele que antes achava desprezível. Vá sem pressa, sendo compassivo consigo.
Como as relações sempre seguem, não há prazo para terminar o exercício.
Gostaria muito de escutar os relatos de vocês com suas impressões sobre ele. É um dos mais difíceis do percurso de 23 dias.
Grande abraço!
PS.: texto e prática inspirados no artigo "Não existe ex-relação", de meu parceiro Gustavo Gitti.
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