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Como uma mulher que parece que está a caminho da universidade é atacada covardemente pela polícia como se fosse criminosa? A ação ocorreu no primeiro dia do Occupy Gezi, movimento popular que pretende evitar a destruição do parque Gezi, em Istambul, capital da Turquia, e a construção de um shopping center no local. Registrada em foto, a cena percorreu a internet, dando à “dama de vermelho” o status de ícone da resistência turca. “Para mim, a luta é sobre liberdade de expressão e sobre o poder do povo”, disse a mulher, chamada Ceyda Sungur. “Agora nós temos, pela primeira vez, confiança para mudar tudo.”
De acordo com a fundação Women in the World, não é à toa que o símbolo dos protestos em Istambul seja uma mulher: uma pesquisa feita pela empresa turca Konda mostrou que as mulheres são maioria nas ruas, somando 51%. “As manifestações, que já duram um mês, são, em diversas maneiras, um fenômeno feminino, um movimento em que elas têm mais a perder – e estão dispostas a enfrentar o governo para se fazerem ouvidas.”
Parece pouco ou até mesmo um número equilibrado? Não quando falamos da Turquia, um país onde o sexismo ainda prevalece. Apenas 14% das cadeiras do parlamento são ocupadas por mulheres, o aborto ainda é proibido e o primeiro ministro Tayyip Erdogan faz comentários sobre a forma “certa” de uma mulher se vestir e como cada uma delas “deve ter, no mínimo, três filhos”. Uma comparação com outro país muçulmano mostra que a adesão ao movimento é uma conquista a ser celebrada: as manifestações no Egito, em 2011, contaram apenas com 15% de participação feminina.
A resistência popular à pressão policial não foi feita apenas por estudantes. O governo turco pediu que as mães tirassem seus filhos do parque Gezi, onde protestavam. “Conforme as horas passavam e o céu escurecia, as mães de fato vieram, mas não para levar seus filhos. Na verdade, elas fizeram um escudo humano na entrada do Gezi e disseram que lá ficariam para apoiar seus filhos e filhas“, descreveu a CNN.
A manifestante Sezen Yalçin conta ao Women in the World explica que o parque Gezi é perigoso à noite e, por isso, a luta para salvá-lo é ainda mais simbólico para as mulheres. “É duas vezes mais importante para a gente retornar a esses lugares. Deveríamos ter o direito de reivindicar locais públicos”, disse. “No protesto, vimos pessoas que não fazem parte do movimento feminista também criticando Tayyip Erdogan. Esse tipo de inquietação agora faz parte do discurso de outros grupos também.”
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