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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Como escolhemos nossos parceiros amorosos

Por Ailton Amélio
21/02/2015
No campo amoroso, a seleção de parceiros segue um conjunto de normas ou princípios. As pessoas usam estes princípios para escolher parceiro que têm as qualidades que elas querem e que não tenham os defeitos que elas não querem.
As pessoas têm pouca consciência do que estão usando esses princípios. Se perguntarmos para elas, quais as regras que estão seguindo para escolher um parceiro amoroso, a maioria delas terá muita dificuldade para falar sobre isso e poderá, inclusive, negar que siga qualquer regra com esta finalidade.
Os princípios que têm mais influência na maioria das seleções de parceiros são os seguintes: princípio da admiração, princípio da homogamia, princípio da heterogamia, princípio das médias ponderadas das qualidades e defeitos e o princípio dos defeitos graves. Vamos examinar agora esses princípios (O meu livro “O Mapa do Amor”, Editora Gente, apresenta mais detalhadamente esse assunto).
O Princípio da Admiração
“A admiração é um requisito para o amor.” (Stendhal)
Para nos apaixonarmos por uma pessoa é necessário que a admiremos. Segundo o escritor Stendhal, a admiração é um dos requisitos essenciais para o nascimento do amor (Stendhal, 1999).
Quando uma pessoa é admirada, isto significa que possui qualidades que o admirador valoriza e gostaria de ter em si ou para si. Segundo a teoria da expansão do ego, ter um relacionamento amoroso com uma pessoa admirada é uma forma de incorporá-la, juntamente com as suas qualidades desejadas, ao ego do admirador.  Ou seja, esta é uma forma de o amante adquirir as qualidades admiradas do amado (Aron e Aron, 1996).
Em geral, preferimos um parceiro amoroso que tenha o maior número possível de qualidades e a intensidade máxima de cada uma destas qualidades.  Suponhamos que vamos escolher um dentre dois pretendentes, os quais diferem apenas quanto ao grau que possuem de uma determinada qualidade como, por exemplo, a beleza. Qual deles seria o escolhido? Quase todo mundo escolheria, sem pestanejar, o mais bonito.
Algumas vezes, o atributo que é considerado “o melhor possível” independe de quem está fazendo a escolha (por exemplo, uma pessoa gentil e atenciosa é valorizada por quase todo mundo) e, outras vezes, depende de quem está fazendo a escolha (por exemplo, a altura ideal de uma mulher depende, pelo menos em parte, da altura do parceiro).

O Princípio da Homogamia

“Temos algo em comum.” (Frase popular)
Este princípio afirma que os relacionamentos amorosos têm mais chance de dar certo quando os parceiros são semelhantes entre si.
Este talvez seja o princípio mais importante que rege a seleção de parceiros. Os estudos científicos vêm mostrando, cada vez mais claramente, que nos relacionamentos amorosos que dão certo (são iniciados mais facilmente, têm um grau maior de satisfação, duram mais etc.), os parceiros são semelhantes entre si em um número muito grande de características.
A história de André, que vamos relatar agora, é uma história real que ilustra bem algumas das razões que levam uma pessoa a optar por um parceiro que lhe seja semelhante.
 As consequências negativas de arranjar uma namorada de outro nível econômico

(Caso real. Os nomes e alguns detalhes foram trocados para não permitir a identificação dos personagens).
André apresentou a sua nova namorada, Anne, para os amigos. No outro dia, quando André voltou a encontrar os amigos, sem a presença da namorada, recebeu pesadas críticas. Os amigos lhe disseram coisas do tipo:
“Esta moça não é para você. Ela está acostumada com as coisas boas da vida e você não vai ter dinheiro para fornecer tais coisas para ela.”
“Você vai gastar todo o seu dinheiro em restaurantes, boates e locais de férias, e depois, ela vai abandonar você.”
“Ela não é do nosso meio. Ela vai te fazer sofrer.”
“Ela só tem amigos que moram em mansões e que têm Mercedes e BMWs. Estes caras não vão se entrosar com a gente.”
André ficou bastante abalado com esta reação dos amigos. Afinal, a namorada havia sido tão simpática com eles. Surgiu a dúvida na sua cabeça: “Será que vou conseguir ser feliz com Anne?”.
Tempos depois, André e Anne começaram a ter atritos, geralmente relacionados com os hábitos caros de Anne, e se separaram.
Esta história de André e Anne mostra bem algumas das razões pelas quais o relacionamento amoroso entre duas pessoas muito diferentes tem pouca chance de dar certo.


O Princípio da Heterogamia

“Os opostos se atraem.” (Frase popular)

Este princípio afirma que certas diferenças entre os parceiros contribuem para que um relacionamento amoroso entre eles dê certo.
Realmente, existem certas diferenças entre os parceiros amorosos que são bem-vindas. Por exemplo, as diferenças físicas entre os homens e as mulheres são consideradas ingredientes fundamentais da beleza feminina e masculina.
Muitas vezes, a direção e a intensidade da diferença desejável são especificadas. Por exemplo, geralmente é desejável que o homem seja mais alto e mais velho do que a mulher e não o contrário. Estas diferenças de altura e idade, no entanto, não devem exceder certo limite: é indesejável ou até mesmo ridículo que um homem seja muito mais alto ou muito mais velho do que a sua parceira amorosa.
Mesmo quando uma diferença não é desejável, ela pode ser mais tolerável quando ocorre num determinado sentido. Por exemplo, na nossa cultura, é mais tolerado que o homem seja mais rico e tenha um status social um pouco mais alto do que o da sua parceira do que vice-versa.
Todas as diferenças em atributos importantes entre os membros de um casal podem ser considerados débitos que terão que ser saldados em algum momento. Por exemplo, se a aparência de um cônjuge é muito melhor do que a do outro, esta discrepância fica registrada como um crédito que deverá ser compensado, de alguma forma, pelo parceiro de pior aparência (o Princípio das Médias Ponderadas de Defeitos e Qualidades, apresentado mais à frente, vai explicar como se realiza esta compensação).

O Princípio da Complementaridade

“Quem é tímido geralmente arranja uma namorada extrovertida.” (Frase popular)

Este princípio afirma que a complementaridade entre certas características dos parceiros contribui para que o relacionamento amoroso entre eles se inicie mais facilmente e seja mais satisfatório e duradouro.
A complementaridade em certas características realmente propicia as condições para que os parceiros possam funcionar como uma equipe, o que aumenta as suas eficácias para atingir objetivos em comum.
A teoria da complementaridade foi apresentada formalmente por Winch (1955). Segundo esta teoria, as pessoas procuram satisfazer as suas necessidades casando-se com parceiros que as preencham, com os quais não entrem em conflito ou que as “complementem”. Quando dois parceiros se complementam em vários aspectos, eles satisfazem várias necessidades mútuas.
Embora esta teoria seja muito atraente, sua comprovação empírica é pequena: as pesquisas realizadas para testá-la não conseguiram mostrar que ela realmente funcionava nas escolhas de parceiros. Por exemplo, Sinderber e outros (1972) realizaram um estudo para verificar que tipos de complementaridade nos traços de personalidade e nos interesses contribuíam para o sucesso da formação de casais em agências de casamento. Este estudo só encontrou num único traço de personalidade que contribuía neste sentido: “espirituoso-plácido”. A complementaridade em outros traços de personalidade incluídos neste estudo (por exemplo, submissão-domínio, sensato-irrefletido, confiante-apreensivo, indisciplinado-disciplinado, calmo-nervoso etc.) não contribuía para a formação de casais. No caso de alguns destes traços, o que realmente predispunha ao casamento era haver semelhanças entre os membros do casal. Para muito outros destes traços era irrelevante o fato de dos membros do casal serem semelhantes, diferentes ou complementares entre si: isto não afetava as chances de casamento.
O Princípio das Médias Ponderadas dos Defeitos e Qualidades

“Este cara feio deve ser muito rico para conseguir namorar uma bela mulher como aquela.”(Frase popular)

Este princípio afirma que as pessoas avaliam o grau de atração dos seus parceiros amorosos levando em conta as suas qualidades e defeitos. Nesta avaliação, as pessoas também levam em conta as importâncias de cada um destes defeitos e qualidades.
Quando há discrepância muito grande entre os valores médios de atração de duas pessoas, é menos provável que elas iniciem um relacionamento amoroso entre si e, naqueles casos onde elas iniciam, é menos provável que esse relacionamento seja satisfatório e que dure muito tempo.
O escore de atração de uma pessoa depende dos critérios de cada avaliador: diferentes avaliadores podem atribuir diferentes pesos para cada uma das qualidades e defeitos de uma pessoa que está sendo avaliada.
Os critérios levados em conta para selecionar um parceiro amoroso também podem variar de acordo com o estágio do relacionamento. Por exemplo, a beleza pode pesar mais nos primeiros encontros do que na hora de tomar a decisão a decisão de casar com a pessoa.
O princípio dos defeitos graves
Para que um parceiro amoroso seja considerado atraente e adequado deve, além de possuir as qualidades que enumeramos anteriormente, não ter muito defeito e estar livre de defeitos graves.
Muitos dos defeitos graves são os inversos das qualidades desejáveis. Isto pode ser facilmente constatado colocando-se as locuções negativas “Não ter” ou “Não ser” na nossa lista das qualidades valorizadas em parceiros amorosos. Os inversos dessas qualidades geralmente são considerados defeitos muito sérios. Quanto mais importante for uma qualidade, maior é a gravidade do defeito decorrente da sua ausência ou da presença de um atributo que é o seu oposto. 
Tal como no caso das qualidades, o que é considerado um defeito é determinado por fatores universais, culturais e individuais.
Em relação aos defeitos graves, não funciona o Princípio das Médias Ponderadas dos Defeitos e Qualidades, apresentado acima. Ou seja, estes defeitos não são compensáveis por qualidades. Por exemplo, mesmo que uma pessoa seja gentil, atenciosa, bonita, rica e afetuosa, ainda assim, ela não despertará o amor da grande maioria dos seus pares, caso tenha uma inteligência muito limitada. Não há qualidade ou grupo de qualidades que compense este tipo de defeito.
NOTA: Este artigo foi baseado no capítulo 4 do meu livro "Relacionamento Amoroso", Editora Gente

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