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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Guarda compartilhada e os desafios para a figura do pai

10.02.2015

Cristina Fontenele
Adital


Com a nova Lei da Guarda Compartilhada (Lei 13.058), recentemente aprovada no Senado e sancionada pela presidenta Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT), agora, no Brasil, a modalidade preferencial de guarda deve ser a compartilhada. Casais precisam adaptar suas rotinas e decisões enquanto pais e mães para uma melhor convivência e educação de seus filhos. Pais, que eram minoria nas guardas, irão passar por mudanças significativas.

Em entrevista a Adital, Rodrigo Padron, jornalista, pai e criador da fanpage com mais de 5 mil curtidas, Confissões de Pai, avalia os desafios da aplicação da nova lei para o contexto masculino. 

"Entendo que existe uma influência cultural imensa. O cenário atual é resultado de um modelo adotado há séculos. Portanto, não está relacionado apenas à modernidade. Os homens têm sido preparados para a guerra ou para a força de trabalho. E isso mudou. É preciso reconhecer que o contexto contemporâneo é diferente. Os homens, assim como as mulheres, alteraram profundamente suas relações com o mundo. Meu caso, por exemplo, fui educado sob a ideia de um modelo em que tenho de cuidar da casa, exercendo funções como limpar, cozinhar, passar roupa, cuidar de pessoas – e isso inclui crianças -, bem como estudar e trabalhar”. 

Segundo Padron, a cultura brasileira dá ao pai um status de provedor, de alguém cuja função é de entreter o filho quando necessário, limitando-se a tarefas como levá-lo para passear, segurá-lo por alguns instantes no colo. "Para mencionar um exemplo, sempre tive uma baita dificuldade para trocar as fraldas de minha filha em espaços como restaurantes, bares, supermercados, postos de estrada, entre outros. Isso porque os fraldários, em tese, locais de crianças são pensados e destinados para mulheres. Isso mesmo! Os fraldários ficam nos banheiros femininos.”. 

Padron acredita que os desdobramentos da mudança da lei serão bem grandes para todas as partes envolvidas, sem exceção. Os filhos, por exemplo, terão a oportunidade de serem criados também por seus pais, portanto, terão mais presente a figura masculina em sua rotina. Terão ainda o privilégio de receberem referenciais e perspectivas de mundo dos homens. Os pais terão, por outro lado, de ajustar seus modelos de vida, não apenas dedicando boa parte de seu tempo ao trabalho, mas aos filhos, incluindo funções que contribuam de maneira contundente para o desenvolvimento das crianças. 

Quanto às mulheres, ele acredita que elas terão, finalmente, a liberdade a que aspiram, em especial, desde a década de 1960. Elas não terão mais o peso de cuidar dos filhos única e exclusivamente. Não será mais uma imposição social, um imperativo categórico da condição feminina. "Elas poderão dividir essa responsabilidade sem culpa, podendo dedicar-se a questões como a carreira, estudos, relacionamentos amorosos, amizades e assim por diante”.

Na discussão se a guarda unilateral contribui para a ausência do pai na relação com o filho, o jornalista afirma que o modelo unilateral exclui a figura do pai da rotina dos filhos. Ele elimina a figura do homem, como se isso fosse, realmente, possível. É discriminatório, sobretudo, com a mulher. "É uma visão de mundo machista, que reduz tanto o papel do homem como o da mulher no mundo”. 

Nos assuntos abordados em sua fanpage, Padron revela que a grande maioria de participantes é de mulheres, mais ou menos 70%, embora a página seja alimentada por um homem. "E isso me parece muito bom. São mulheres desejando ouvir de um homem ideias sobre uma interpretação de mundo mais híbrida, que valoriza a condição humana, acima de uma suposta e tola guerra entre os sexos. Aliás, não faz mais sentido dividir o mundo, porque somos humanos e é isso o que importa. Pois bem, no geral quase todos concordam com as minhas provocações, que acabam recebendo contribuições bem importantes. Algumas até reveladoras. Mas, evidentemente, existem homens e mulheres que rejeitam meus pensamentos e, em certos momentos, tentam me ofender. Mas isso faz parte da rotina da comunidade”. 

O criador da fanpage defende que a guarda compartilhada faça parte, portanto, do desafio de pais e mães (e também de homens e mulheres) de buscarem novas e melhores formas de se relacionarem. Padrón acredita que para os homens, sobretudo, é necessário que aprendam a renunciar a outras tarefas da vida pessoal e profissional para se dedicarem à criação e ao desenvolvimento de seus filhos, sendo não apenas um coadjuvante, mas também um protagonista nesse processo. 

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