Leonardo Sakamoto
A pedido de duas professoras de Londrina, no Paraná, segue a história da banana e do melão.
– Meu filho gosta de melão. Entendeu? Me-lão! Por que você deu banana para ele?
– Faz bem à saúde e ele estava com cara de fome.
– Mas ele não gosta!
– Olha só! Devorou a banana. Não sobrou nem a casca para contar história.
– Não tá vendo que é muito novo para entender do que gosta? Mas ele, no fundo, não gosta.
– Novo? Ele tem mais de 18 anos. É alérgico?
– Não, nunca tinha experimentado. Só não gosta.
– E por que não gosta?
– Por que gosta de melões.
– Gostar dos dois não pode?
– Não combina. Ou se é de melão ou se é de banana.
– Na sua opinião?
– Na de qualquer pessoa sensata.
– E por que ele gosta de melãõ?
– Como assim? Por que as pessoas gostam de melão? É da natureza humana gostar de melão!
– Não é não.
– Todo o ser humano gosta de melão.
– Desculpe, mas acho que tem gente que nem sabe como é um melão. É capaz de apontar um caqui quando perguntada sobre o melão.
– Como ousa?
– Não quis ofender.
– Todo homem de bem sabe como é um melão.
– Quando pequeno, foi ele quem tomou a iniciativa de experimentar melões?
– Não, a gente disse a ele que um bom menino come melão.
– E por que vocês falaram isso?
– Porque melão é bom.
– E ele tentou provar bananas?
– Chegou a perguntar que gosto tem. E a gente explicou que banana tem gosto ruim.
– E onde vocês ouviram isso?
– Em todo o lugar, ora! Nos comerciais da TV, na homilia do padre no domingo, em matérias dos jornais. A polícia fala isso, os professores falam isso, meu chefe fala isso, minha santa mãe falava isso. Pergunte a qualquer pessoa nesta praça! Então, banana é ruim e melão é bom! E meu filho vai comer melão e detestar banana e seus malditos apreciadores. Malditos!
– Alguma prova científica?
– Claro! Estudos da Universidade da Carolina do Sul também apontaram que comer banana, sob uma tempestade elétrica, abraçado a um pára-raio, pode ser fatal.
– Tirando a justificativa “os outros disseram que é ruim'', me dê uma razão para não comer uma bela de uma banana ao invés de um melão.
– Eu não preciso por o dedo na tomada para saber que dá choque.
– Mas seu filho acaba de abocanhar uma banana e está ali sorridente.
– Eu não preciso saber o porquê. Mas se todo mundo diz que é ruim é porque deve ser.
– Nem todo mundo. Eu como banana todo o dia.
– Ele gosta de melão. Então, defendo o direito e a liberdade de todos que gostem de melão de poderem consumir a fruta.
– Ótimo! Mas já parou para pensar o que levou a todos optarem pelo melão e acharem que banana é ruim, mesmo sem prová-la? Pode ser chamada de “liberdade'' uma situação quando as opções que temos não são ilimitadas?
– Hein?
– Quando alguém já selecionou o que podemos ou não consumir sem que percebamos? Você pode comer toda a fruta que quiser. Desde que seja…melão. Outras opções existem, mas – talvez – você não consiga enxergá-las.
– Escuta, o senhor parece ser um bom homem… Mas não pega bem meu filho ser visto por aí com bananas, entende? O que vão pensar dele? Que endoidou? Que é um subversivo, um transviado? O que os amigos e seus pais vão falar? O que a namorada dele vai pensar? O que a família da minha esposa vai dizer?! Filho meu só gosta de melões e ponto final.
– Tudo bem, entendi.
– Precisamos proteger os valores. Caso contrário, que sociedade deixaremos para nossos filhos?
– É verdade. Espero que não tenha ficado chateado por ter oferecido a banana.
– No início, sim. Mas vi que o senhor está apenas mal informado. Eu nunca comeria uma banana, mas entendo quem consuma essa fruta em particular. Sou um humanista, acho que as pessoas têm direitos, desde que não mexam com a vida dos outros. Aviso ao senhor, contudo, que tome cuidado com aquela família ali. Se vivessemos em um lugar decente, já estariam presos. Eles chupam laranjas. Um ultraje.
O nome dos frutos são ficcionais. Qualquer semelhança entre este diálogo e os comentários que aparecem neste blog é mera coincidência.
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