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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Brasileiras contam o que aprenderam com o parto no exterior


Brasileiras que deram à luz na Europa relatam experiências variadas -- algumas adoraram, outras sofreram violência obstétrica

MARINA SALLES
02/08/2015
Maíra Soares grávida de 28 semanas em Madrid, na Espanha (Foto: Maíra Villela)
“Aprendi que o essencial na hora do parto é estar em um lugar onde você se sinta amparada. Para parir, é preciso estar em sintonia consigo mesma”, diz Maíra Soares, que deu à luz a primeira filha na Espanha, em fevereiro de 2015 (Foto: Maíra Villela)



Mulheres brasileiras que vivem no exterior compartilharam a experiência de como é dar à luz em diferentes países da Europa. Elas contam quais dificuldades enfrentaram e como a busca por informação ajuda a superar barreiras em uma gravidez longe de casa. Nos países mais desenvolvidos da Europa, o parto normal é regra e a cesárea é feita apenas em situações de emergência. Esse roteiro contribui com a diminuição dos casos de violência obstétrica -- as situações de abuso ou negligência por parte de profissionais de saúde contra mulheres, na gestação, durante ou logo após o parto. ÉPOCA lançou a campanha #partocomrespeito contra esse tipo de abuso.
Profissional atuante há 30 anos no sistema público de saúde da Espanha, a ginecologista espanhola Charo Quintana diz que a bandeira que hoje se levanta na Europa é por partos com menos intervenções médicas, padronização e uso de medicamentos, e mais atenção ao que a gestante quer, sente e precisa. “É preciso disseminar a ideia de que o parto normal requer o mínimo de intervenções, salvo quando há complicações”, afirma. Segundo ela, é importante avaliar caso a caso a necessidade de procedimentos que vão da simples hospitalização da parturiente a passos adicionais como administração de ocitocina (hormônio que induz o parto e estimula as contrações), aplicação de anestesia epidural (para aliviar a dor) e realização de episiotomia (corte feito no períneo, região entre a vagina e o ânus, para facilitar a saída do bebê). “A solução para evitar o excesso de intervenções é formar profissionais responsáveis [parteiras e ginecologistas], que respeitem os direitos das mães e dos recém-nascidos a um atendimento adequado”, diz Charo.
Na Europa, a figura da parteira especializada é muito presente. Elas dão apoio às mães no pré-natal e ajudam no parto normal. O ginecologista só é acionado no acompanhamento de gestações de risco, em cesarianas e outras cirurgias obstétricas. Ambos trabalham em plantões nos hospitais, o que quer dizer que a mulher não tem o médico "dela", como acontece no Brasil. Na hora do nascimento, a gestante é atendida pela equipe de plantão no hospital, e até por mais de uma, se houver trocas de turno durante o trabalho de parto.
Charo também defende que as mulheres estejam informadas sobre as intervenções, para questionar as opções da equipe médica e reivindicar seus direitos, como o contato pele a pele entre mãe e filho após o nascimento. “Cursos de preparação para o parto e grupos de apoio a gestantes podem ajudar na instrução das futuras mães”, diz a ginecologista.

Para ela, hoje os países modelo no atendimento ao parto na Europa são Inglaterra e Holanda. "A Inglaterra, porque adota práticas cientificamente comprovadas de atenção às gestantes, e a Holanda pelos cuidados oferecidos após o parto, com serviço domiciliar e incentivo à amamentação."
Confira histórias de brasileiras que deram à luz na Europa:

Elza de Magalhães, 39 anos, vendedora | Holanda
“Minha surpresa foi que depois de 42 horas de trabalho de parto precisei passar por uma cesárea”

Tive a Ella há um ano e meio, na Holanda. Desde que cheguei ao país, há 12 anos, fui aprendendo que o parto normal é melhor e mais saudável para a mãe e para o bebê. No final, minha surpresa foi que depois de 42 horas de trabalho de parto, precisei passar por uma cesárea.
Na Holanda, os partos em casa são muito comuns, mas como era a minha primeira gravidez, não quis arriscar. A Ella nasceu noSpaarne Ziekenhuis (Hospital Spaarne), nas proximidades de Hoofddorp, a 30 quilômetros de Amsterdã. Como tinha 38 anos na época, fui encaminhada direto a um ginecologista, para ver se estava tudo bem comigo. Aqui, os partos são classificados por graus de risco, o que determina se a gestante será acompanhada só por parteiras, por um ginecologista e uma parteira ou só pelo ginecologista. As verloskundigen, parteiras da Holanda, fazem curso superior e são especializadas no parto normal. O grau de risco também define se o parto precisa ser feito em um hospital. 
Elza e a filha Ella, de um ano e meio (Foto: Arquivo pessoal)
Como estava tudo bem comigo, todo o pré-natal e os cursos de preparação para o parto foram acompanhados só pelas parteiras, em um centro de referência chamado Holandes Verloskundigenpraktijk. (algo como centro holandês de treinamento obstétrico). No final da gravidez, no entanto, a Ella atrasou duas semanas para nascer, e como eu teria um parto induzido por hormônios, o ginecologista foi acionado para estar presente na hora do parto.
Foram um dia e uma noite inteiros esperando a dilatação para a bebê passar. Às 10 horas da manhã do segundo dia de hospital, ainda estava só com cinco centímetros de dilatação e lá pelas 14 horas tomei a anestesia epidural. Às 17 horas tive febre e às 17h30, quando a situação já estava ficando perigosa para a criança, fizeram uma cesárea de emergência. A espera foi mesmo até o último minuto.

Só tive alta três dias depois do parto. Isso é comum e, quando necessário, contribui para a recuperação da mãe e do bebê. Antes da cesárea, fiquei em um quarto individual com cama para acompanhante e depois fui para a ala da maternidade, onde dividi o espaço com outras três mulheres. No horário de visita, podia receber a minha família, mas não podia ter ninguém dormindo junto.
Toda a assistência durante a gravidez foi muito boa, mas ainda melhor é o atendimento pós-parto aqui na Holanda. Durante uma semana as mães podem receber em casa o auxílio de uma pessoa que é como uma enfermeira. Ela ensina a dar banho, trocar fralda, cuidar do umbigo e pode até limpar a casa pra você, fazer comida, ir ao supermercado.
Minha única queixa é que depois da cesárea só te dão paracetamol e senti muita dor por causa do corte.

Janaína Nogueira, 36 anos, professora de educação física | Espanha
Meu erro foi não questionar o que estava acontecendo

Moro na Espanha desde 2001 e tive o parto do meu primeiro filho há seis anos, em Vigo. Quatro anos depois, nasceu o mais novo, e foi uma experiência completamente diferente, muito melhor. Na primeira gravidez, minhas expectativas eram grandes e eu acreditava que ia dar tudo certo durante o parto normal. Minha mãe até veio do Brasil e perguntou por que eu não fazia uma cesariana. Sem medo, disse para ela que me sentia segura em ter o parto na Espanha. Não sabia que viveria um pesadelo.
O parto aconteceu na minha 38ª semana de gestação e precisou ser induzido porque eu não tinha contrações. No hospital Nuestra Señora de Fátima, me deram ocitocina às 8 horas da manhã e quando as contrações começaram a ficar fortes, lá pelas 17 horas, pedi a anestesia epidural. A injeção só fez efeito do lado direito e eu gritava de dor. Como estava em uma sala de pós-operatório, e não em um quarto, uma matrona (parteira) disse para eu ficar calada que tinha gente sendo operada ali perto. Me mandou fechar a boca e me transferiu de maca durante uma contração. Jogou as minhas pernas para o lado e disse que meu marido não poderia entrar no paritório comigo. ‘Ele não vai ter o filho para você’, disse.
Como eu não conseguia fazer força porque o bebê não estava encaixado, ela decidiu subir na minha barriga duas horas depois que as contrações começaram. Fechou os dois braços e empurrou a criança para baixo. Esse procedimento é uma coisa quase medieval. E, quando o bebê saiu, toda aquela pressão me rasgou por dentro e por fora. Preocupada com a criança, pedi para ela aproximar meu filho de mim. Ela veio fungando e disse que não poderia, porque fazia frio e ele precisava ficar na incubadora. ‘É culpa dela que o moleque está aqui’, disse para o meu marido.
Na sala de cirurgia, tentaram me acalmar, mas eu comecei a ter febre e meu médico percebeu que eu estava tendo uma hemorragia interna. Precisou da ajuda de outro médico e de uma enfermeira para me reanimar e me costurar. Eu estava psicologicamente destruída. Ainda no hospital, verificaram que eu tinha sofrido uma lesão no disco L5-S1 da coluna, que pode ter sido causada por qualquer coisa, desde a pressão do bebê até o peso da mulher em cima de mim. Meu erro foi não questionar o que estava acontecendo.
Janaína e os dois filhos, seis anos após o primeiro parto (Foto: Arquivo pessoal)
Durante muito tempo tive pesadelos à noite e as pessoas me diziam para fazer uma denúncia, mas o sofrimento já era tanto que eu deixei pra lá. Passados quatro anos, tive coragem de engravidar de novo. Na minha segunda gravidez, insisti em fazer uma cesárea e tive acompanhamento médico o tempo todo. Depois do parto, uma matrona do hospital colocou o bebê no meu colo e disse que era importante ele me cheirar. Eu senti que a formação das profissionais está mudando. De qualquer forma, é preciso se informar e tentar se prevenir porque o que aconteceu comigo ainda acontece com outras mães na Espanha.
Maíra Soares, 34 anos, jornalista e professora de português | Espanha
“Uma das decisões mais importantes foi escolher um hospital que aceitasse receber um plano de parto e que, apesar dos protocolos gerais, respeitasse que eu queria evitar ao máximo algumas intervenções”

Eu não tinha ideia do tamanho do universo de decisões que você precisa tomar quando decide ter um filho. Decisões que começam com a escolha do tipo de parto e passam pelas opções de intervenção até chegar aos cuidados com o bebê. Por sorte, uma amiga viveu a experiência antes de mim e comecei a me inteirar do assunto na gravidez dela.

Quando chegou a minha vez, em Madrid, procurei mais informações. Estava na Espanha há três anos e meio e, por ser estrangeira, quis saber o papel de cada profissional no atendimento às gestantes, que é bem diferente do Brasil. Aqui, você vai ao ginecologista e ele mal fala com você. A consulta é muito rápida e o foco é o bebê. Ele não pergunta como você está. Você pode até entender que é o jeito do espanhol, um pouco mais seco, mas também precisa entender que ele está lá para acompanhar a gestação pensando na criança e que a matrona (a parteira) é quem vai dar qualquer apoio à mãe, inclusive na hora do parto.

Eu também quis fazer a melhor escolha quanto ao hospital. E nisso as reuniões da Associação El Parto Es Nuestro me ajudaram muito. Lá, você conhece a experiência de outras mulheres e se informa sobre o que pode acontecer de bom e de ruim. Assim como no Brasil, na Espanha não são raros os casos de violência obstétrica. Depois de ouvir muitas histórias, optei por um lugar que aceitasse receber um plano de parto e que, apesar dos protocolos gerais, respeitasse a minha decisão de evitar ao máximo algumas intervenções. Registrei nesse formulário que não queria, por exemplo, que me fizessem exame de toque, a menos que eu autorizasse, e que também não queria passar por uma episiotomia sem necessidade, nem dar à luz com a ajuda de ventosas.

No dia do nascimento da minha filha, no final do mês de fevereiro deste ano, correu quase tudo como planejado e recebi total apoio do pessoal do Hospital de Torrejón de Ardoz. Antes e durante o trabalho de parto, fiquei em uma sala bem grande onde podia me movimentar com liberdade e privacidade. Pude andar, variar a minha posição com a ajuda de uma bola de pilates, mergulhar na água quente e tomar banho.

Peguei apenas uma troca de turno nesse meio tempo e a segundamatrona foi o meu anjo da guarda já na reta final para a criança nascer. Ela me disse que a bebê estava ótima, mas que o ginecologista queria entrar no quarto porque o nascimento estava demorando muito. Preocupada, achei que iriam entrar e querer usar ventosa, fórceps... e então ela disse que tinha falado com o médico e que teríamos mais uma meia hora para tentar fazer a fase expulsiva funcionar. Eu sentia que estava nas mãos de alguém que tinha lido meu plano de parto. Na última hora ela ainda falou: ‘Eu sei que você não quer, mas, se você concordar, a gente pode romper a bolsa d’água’, disse. Ela me explicou que aquela camada a mais de pele estava obstruindo o caminho.

Minha filha nasceu quando deixei de vocalizar os sons e comecei a empurrá-la para baixo segurando a respiração. Já tinham me dito que isso não é muito bom e, de fato, quando ela nasceu, não estava conseguindo respirar direito. Mesmo assim, os profissionais chamaram a pediatria e cuidaram dela do meu lado. O bacana desse hospital é que também estimulam o contato pele a pele e a bebê ficou deitada em cima de mim por umas duas horas. Depois do parto, toda a equipe saiu e eu pude curtir o momento junto do meu marido. Eles até passaram perguntando se estava tudo certo, se a criança estava conseguindo pegar o peito, mas só depois vieram dar vacina, medir e pesar.

Com a minha gravidez, aprendi que o essencial na hora do parto é ter liberdade para se movimentar, confiar na equipe do hospital e estar em um lugar em que você se sente amparada, porque para parir é preciso estar em sintonia consigo mesma.
Larissa Cecconi, 23 anos, do lar | Inglaterra

Ter clareza sobre como funcionavam os procedimentos na cultura deles foi essencial para me manter calma durante a gravidez e na hora do parto

Na Inglaterra, a primeira medida que você tem de tomar quando descobre que está grávida é ir ao posto de saúde do seu bairro. Fui quando estava com oito semanas e me encaminharam para o pré-natal. No posto de saúde, também falam da opção de dar à luz em um hospital, birth center (que é uma espécie de casa de parto) ou em casa. Como eu não tive nenhuma complicação, fiquei com a segunda alternativa.

Minhas consultas com o médico ginecologista eram a cada dois meses e não duravam mais de 20 minutos. Acostumada com a dinâmica do sistema de saúde brasileiro, uma vez perguntei por que esse intervalo era tão grande e disseram que como estava tudo bem comigo não tinha por que agendar outras consultas. Foram atenciosos e quiseram saber se eu queria tirar alguma dúvida e não estava conseguindo. Só a partir da 35ª semana de gestação é que passei a ir ao médico a cada 25 dias.

Outra coisa diferente é que aqui você só tem direito a dois ultrassons em toda a gravidez, um na 11ª e outro na 20ª semana. Foi no segundo que descobri que esperava uma menina. Minha mãe até ficava perguntando se eles não iam fazer outro para saber quanto ela ia medir. A enfermeira explicou que cada ultrassom extra era cobrado, e disse pra gente: ‘Não precisa disso, não. Pela batida do coração dela, já dá pra saber que vai ser uma ‘big girl’”.
Larissa Cecconi vivia há 7 anos na Inglaterra quando ficou grávida (Foto: Arquivo pessoal)
Também me preparei para não correr para o hospital antes da hora porque aqui a recomendação nos cursos de preparação para o parto é só sair de casa quando as contrações estão em três a cada dez minutos, quando a bolsa estoura ou em caso de sangramento. Do contrário, o melhor a fazer é esperar. Ter clareza sobre como funcionavam os procedimentos na cultura deles foi essencial para me manter calma durante a gravidez e na hora do parto. Ao meio-dia, quando já estava com uns cinco centímetros de dilatação, fui para o birth center do hospital Saint Mary’s, em Londres. Às 14 horas entrei na sala de parto e às 20 horas a Olívia nasceu.

O quarto em que eu estava tinha banheira, bola e eu fiquei muito tranquila. Meu marido ficou o tempo inteiro comigo e quem fez o parto foi uma midwife (parteira) acompanhada de uma estudante. Dei à luz deitada num pufe coberto por um lençol. Meu marido acompanhou os primeiros cuidados com a Olívia e depois ficamos os três juntos no mesmo quarto. No dia seguinte, à tarde, já fomos para casa.

No pós-parto, recebi três vezes a visita de uma midwife. Ela vai em casa ver como está indo a amamentação e se você tem leite suficiente. Ensina a cuidar do umbigo e a dar banho. A segunda vez foi para fazer o teste do pezinho. E uma terceira visita, que nem todo mundo recebe, mas eu recebi, foi para checar se o berço estava montado corretamente, se a Olívia passava bem e se havia algum sinal de maus tratos. Eles fazem um monte de perguntas, mas é tranquilo e aproveitam para orientar.

Desde o nascimento, todas as consultas dela acontecem no posto de saúde do bairro. De início, eram mensais e depois a frequência foi diminuindo. Hoje, a Olívia está com um ano e meio e voltamos ao posto a cada seis meses. O atendimento é feito por enfermeiras especialistas em crianças, e em caso de febre, tosse ou gripe, ela passa em um clínico geral. Se ele vê que não consegue resolver, claro, encaminha para um pediatra, mas ainda não foi necessário. Outro benefício que a Olívia vai ter são os medicamentos grátis até os 16 anos de idade.

Arécia Oliveira, 47 anos, música | França

No meu caso, foi um privilégio estar em um lugar onde me sentia à vontade para ter o meu parto sem nenhuma pressão

Moro na França há 23 anos e tive duas filhas aqui, a primeira há dez e a segunda há sete anos. Elas nasceram na Maternité des Lilas, nas proximidades de Paris. Essa maternidade é considerada alternativa e oferece um excelente apoio às mãe que querem um parto sem intervenções.
Antes de ter a minha primeira filha, perdi um bebê por causa de um problema genético e, por isso, passaram a me acompanhar mais de perto. De qualquer forma, os médicos daqui não são superpreocupados e a tranquilidade deles me fez acreditar que estava tudo bem e me sentir mais segura.

Eu só lamento que na França o governo não dê mais estímulo a esse tipo de maternidade e que as últimas que sobraram corram o risco de fechar. Essa mesma, em que eu tive as meninas, quase fechou. Ela é bem pequena e, para o governo, interessa dar incentivo a instituições maiores, que façam mais partos. 

Outro retrocesso que vejo é a dificuldade que as sage-femme, as parteiras, têm de fazer o parto em casa. Desde 2002, elas são obrigadas a pagar um seguro especial para oferecer esse serviço. Todos aqui pagam um seguro por danos que você possa causar a alguém algum dia, mas o das parteiras, em específico, custa de 15 mil a 20 mil euros por ano. É um desincentivo, que prejudica as parteiras e as mães que querem ter um parto natural e não encontram profissionais asseguradas. 

No meu caso, foi um privilégio estar em um lugar onde me sentia à vontade para passar pelo parto sem nenhuma pressão. Tentei ter a primeira bebê na água e, como não consegui, tive de cócoras em cima da cama. No segundo parto, pedi pela epidural e me deram. Então, você se sente tranquila porque não colocam nenhum empecilho. Nos dois partos, também estimularam o contato pele a pele e evitaram dar banho nas meninas e cortar o cordão umbilical logo que elas nasceram.

Quanto à amamentação, fiquei mais sossegada sabendo que respeitavam minha escolha por dar o peito e deixei que levassem a bebê para o berçário para eu poder descansar à noite. Na França, eles não incentivam muito essa questão, mas naquela maternidade não tive problemas. Depois, em casa, ainda contei com o apoio da La Leche League para continuar amamentando. Na época, tinha um número de telefone local que você ligava e tiravam suas dúvidas. Parece que não, mas a gente não sabe se o bebê tomou leite suficiente ou o que fazer quando ele regurgita, então elas ajudam nisso.

Nessa maternidade, eu também fiz um curso de canto no pré-natal e aprendi a emitir sons graves que ajudam a expulsar o bebê. Outra vantagem foi ter à disposição um profissional que trabalha a reeducação do períneo, um músculo da vagina que pode ficar flácido depois do parto e causar problemas de incontinência urinária mais tarde. Eles também dão explicações técnicas, mostram imagens da bacia, explicam como o bebê desce e ensinam exercícios para diminuir a dor nas costas causada pelo crescimento da barriga.

Cristiane Caldas, 34 anos, engenheira logística | França

Um ponto que considero positivo na França é a possibilidade de fazer cursos que ajudam a lidar com a dor do parto e que são reembolsáveis pelo seguro social

Na França, é possível você ter o parto pelo sistema público de saúde ou pelo sistema privado. A grande diferença, além de um ser gratuito e o outro parcialmente reembolsável, é que na clínica particular você tem um quarto individual. E como aqui a mulher fica internada por quatro dias depois do parto, seja normal ou cesárea, eu escolhi ter meu filho pelo sistema privado. Outra particularidade é que eu fui acompanhada pelo mesmo obstetra durante toda a gravidez, como acontece no Brasil e dificilmente se vê na Europa.
Cristiane aos sete meses de gravidez, na França (Foto: Arquivo pessoal)
Um ponto que considero positivo quanto ao apoio do governo é a possibilidade de fazer cursos que ajudam a lidar com a dor do parto e que são reembolsáveis pelo seguro social. Eu fiz um curso de preparação sobre haptonomia, uma técnica que estimula a comunicação entre os pais e o bebê ainda na barriga. Essa comunicação se dá por meio de toques das mãos e pelos pensamentos, pelo estado de espírito dos país. Os movimentos são direcionados pelo especialista e, aos poucos, a gente observa a reposta do bebê. O objetivo é criar um laço afetivo com a criança ainda dentro do útero e estimular a participação do pai nesse processo. Outra orientação desse curso é tentar segurar o máximo possível as contrações em casa, porque quanto mais você insiste nesse trabalho psicológico, menos tempo o bebê leva para nascer na maternidade. No meu caso, foram nove horas de trabalho de parto. E eu e meu marido ali conversando, sentindo que ele estava descendo. Foi muito importante essa presença do pai.

Eles não estimulam a amamentação tanto quanto no Brasil. Na França, eles deixam a mãe bem livre e pregam que a escolha dela é o melhor para o bebê. Dizem algo assim: ‘Se a mãe estiver com vontade de amamentar, isso vai fazer bem para a criança. Mas se ela não estiver, não adianta amamentar, que vai ser pior para o bebê’. Eles não incentivam nem desincentivam.
Com edição de Liuca Yonaha

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