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domingo, 31 de janeiro de 2016

Aos 101 anos, a primeira fotojornalista japonesa reflete sobre a carreira

Publicado: 
TSUNEKO SASAMOTO EM KAMAKURA
Tsuneko Sasamoto nasceu em Tóquio em 1914. Ela foi a primeira mulher fotojornalista do país e documentou a vida no Japão durante e depois a Segunda Guerra Mundial.
Sasamoto publicou recentemente o livro Inquisitive Girl at 100: Hints for Living a Long Life ("garota inquisitiva aos cem: dicas de como viver uma longa vida", em português), que detalha várias décadas da sua longa relação com o fotojornalismo. De um lar para idosos em Kamakura, cidade localizada ao sul de Tóquio, Sasamoto falou ao HuffPost Japão sobre a sua carreira como fotojornalista.
"Eu senti como se vários disparadores de câmeras tivessem sido acionados dentro da minha cabeça. Fiquei profundamente chocada em saber que a foto destacada, na capa da revista Life, tinha sido tirada por uma mulher."
HuffPost Japão: Você diz no seu livro, Inquisitive Girl at 101, que você queria ser uma artista visual quando era mais nova.
Tsuneko: Isso mesmo. No início queria ser uma artista visual, mas meu pai era bem contrário à essa ideia. Ele disse: "Uma mulher não pode ser uma artista. Você não vai conseguir ganhar dinheiro assim!" Eu me matriculei em um curso de economia doméstica em uma faculdade técnica, mas eu não consegui desistir da arte e acabei largando o curso sem a autorização de meus pais.
Daí eu me matriculei em uma escola de confecções de roupas. Depois de aprender algumas habilidades eu ajudei um parente em uma loja de confecções de roupas e ia para o instituto de arte à noite. Minha mãe deixou que eu frequentasse esse instituto sem dizer nada para o meu pai. Isso aconteceu quando eu tinha uns vinte anos.
Na época, um conhecido que era chefe da seção do jornal local Mainichi Shinbun (na ocasião chamado Jornal Tokyo Nichi-Nichi), entrou em contato comigo e perguntou se eu queria fazer uma ilustração para a sua seção. Eu fiquei muito feliz quando ele me perguntou e com grande entusiasmo aceitei o trabalho. Mas depois eles publicaram a ilustração feita por outra pessoa.
Quando eu reclamei para um amigo que eles tinham publicado uma ilustração de alguém chamado Shiko Munakata no lugar da minha, eles me disseram que ele era um ilustrador especializado nisso e que eu não conseguiria competir com ele.
Eu fiquei decepcionada por ter perdido aquele trabalho – mas depois a mesma pessoa do Jornal Mainichi Shinbun entrou em contato comigo. Eles me disseram que alguém chamado Kenichi Hayashi, que trabalhava no jornal, tinha criado um trabalho chamado "agente de fotografia" que basicamente significava alguém que iria tirar fotos fora do país. Ele sugeriu que eu fosse até o escritório do Sr. Hayashi para mais informações.
"Ele me perguntou se eu queria ser a primeira mulher fotojornalista do Japão."
O convite foi da Photography Foundation, estabelecida em 1939 durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, certo?
Depois de ouvir isso eu fui direto para o escritório do Sr. Hayashi. Ele tinha experiência como correspondente da China e com grande entusiasmo me explicou a importância da distribuição da informação durante o período de guerra e o propósito do fotojornalismo.
Foi ali que eu vi a primeira "mutsugiri", uma fotografia impressa de 1/6 (aproximadamente de 8 por 10 polegadas – uns 20 por 25 centímetros). Até então, eu só conhecia os tamanhos de fotos de cabine (aproximadamente de 4 por 5 polegadas – uns 10 por 12 centímetros), e fiquei surpresa de ver o impacto desse tamanho.
Ele me mostrou fotos de Mussolini e Hitler e me explicou o que era uma fotografia jornalística. Ele me disse que nos Estados Unidos existia uma mulher fotógrafa chamada Margaret Bourke-White e que ela até tinha publicado uma fotografia na capa da Life Magazine.
No momento em que ele disse isso eu senti que vários disparadores de câmera tivessem sido acionados dentro da minha cabeça. Fiquei profundamente chocada em saber que a foto destacada, na capa da Life Magazine, tinha sido tirada por uma mulher.
Meu irmão se interessava por tudo que era dos Estados Unidos e nós tínhamos artigos da revista Life em nossa casa.
E se isso não bastasse, Mr. Hayashi falou que havia um número limitado de fotojornalistas no Japão e que nenhum deles era mulher. Ele me perguntou se eu queria ser a primeira mulher fotojornalista no Japão.

Você tinha experiência em tirar fotos?
Eu não tinha muita experiência nem em segurar a câmera! Parece rude dizer isso agora, mas na época quem pintava tirava sarro de quem tirava fotografias. Se você tirasse uma foto realística, as pessoas perguntavam se você era um assistente de fotografia. Mas quando eu ouvi falar de Margaret Bourke-White, eu senti meu coração disparar. Decidi que era isso que eu iria fazer.
tsuneko sasamoto
HUFFPOST JAPÃO E COCOFAN Tsuneko Sasamoto em Kamakura, no Japão. A habilidade de Sasamoto de falar inglês ajudou a construir a sua reputação quando ela ainda estava começando sua carreira como fotojornalista.
Em 1939, quando você começou a trabalhar como operadora de câmera para a Photography Foundation, você tinha 25 anos e era solteira. Na época, a sua família colocou muita pressão em você para casar e ser dona de casa?
Minha mãe influenciou bastante nisso. Ela era realmente uma pessoa de muito bom coração. Parentes enviavam fotos "omiai" (fotos para facilitar casamentos arranjados), mas ela devolvia e me dizia que eu não tinha que fazer isso. "Faça o que você quer fazer", disse ela.
"Se quer pintar, pinte; e se você conhecer um bom partido, case-se." Ela era uma pessoa bem progressista para sua época, não era? Eu me pergunto como é que ela conseguiu ser desse jeito!
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Mesmo assim, não exista jeito que meu pai ou irmão me deixassem fazer um trabalho com fotojornalismo, algo que ninguém sabia muito do que se tratava.
Eu consegui a autorização de meus pais sob a pretensão que eu iria a um lugar para ajudar a organizar fotografias e de forma silenciosa comecei meu caminho como fotojornalista.
"Mesmo quando às vezes é difícil, se você estuda bem, um dia esse conhecimento pode vir a ser útil."
Você escreveu em seu livro sobre o período após 1940, quando você começou realmente a trabalhar. O seu desenvolvimento como fotógrafa, armada da estética que aprendeu como artista e sua coragem natural, era emocionante de ler. Você frequentemente tirava fotos de delegações estrangeiras, não é mesmo?
Isso mesmo. Em sessões de fotos para delegações estrangeiras, frequentemente existiam vários fotógrafos homens reunidos com suas câmeras, mas se eles não tirassem uma foto boa eles simplesmente a deixavam de lado. Um dia eu estraguei uma fotografia, então eu fui para uma das pessoas mais importantes ali e com o meu inglês ruim, disse "com licença" e perguntei se eles me deixariam tirar uma foto de novo.
Notícias sobre isso começaram a se espalhar "Aquela garota fala inglês" e "Deixe que ela fotografe tal e tal estrangeiro".

O fato que eu conseguia falar inglês, mesmo que não fosse bom, deve-se a um professor de inglês que tive quando frequentava uma escola de meninas.

Havia um professor de inglês britânico-japonês que entusiasticamente ensinava todos os dias conversação em inglês. Isso foi bem útil, obviamente, quando muitos estrangeiros vieram ao Japão depois do fim da guerra. Mesmo quando às vezes é difícil, se você estudar bem, um dia esse conhecimento pode vir a ser útil.
Você às vezes era o foco da atenção por ser a primeira mulher fotojornalista no Japão?
Uma vez a revista chamada Fujin Kouron ("Opinião Feminina") me disse que queria uma foto da primeira mulher fotojornalista. Muitas vezes eu pedi para meu chefe recusar, mas eles persistiram.
A revista acabou me fotografando. Eu não queria mostrar o meu rosto, então eu tentei desesperadamente cobri-lo com minha câmera. É claro, que eles me disseram que não daria certo assim, e a foto acabou sendo publicada com meu rosto completamente visível.
Eu escondi bem a revista para que meu pai não a encontrasse, mas um parente ligou e disse, "Nossa, Tsune-chan está fazendo um excelente trabalho!"
O artigo que acompanhava a foto tinha exagerado e dizia coisas do tipo "Ela ganhou reconhecimento como membro do departamento de fotografia da Agência de Informações". Meus pais ficaram bem surpresos. Naturalmente, meu pai e irmão descobriram também e houve bastante confusão por causa disso.
No fim, eu não consegui resistir à oposição deles em relação ao meu trabalho e acabei renunciando com lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Isso aconteceu depois de um ano e pouco de trabalho como fotojornalista. Eu fui abençoada com maravilhosos colegas e tinha sido um ano de ricas experiências. Meu desejo de tirar mais fotos era forte e eu fiquei de coração partido.
Uns 6 anos depois, quando a guerra tinha acabado, que eu consegui tirar fotos novamente. Eu passei tempo trabalhando como repórter para o jornal Chiba e era funcionário em tempo parcial para o Women's Democratic Journal, e depois de 1947, comecei a trabalhar como freelancer.
(Tradução: Simone Palma)
Este artigo apareceu no HuffPost Japão. Foi traduzido do inglês e editado para clareza.

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