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domingo, 17 de janeiro de 2016

Como um manual de caça às bruxas do século XV contribuiu para o machismo de 2015

#meuamigosecreto acha que as mulheres são as principais adeptas das superstições malignas
04/12/2015 / POR REDAÇÃO GALILEU

Ilustração mostra suposta bruxa lançando um feitiço em pleno julgamento: repare no cavalheiro à direita, prestes a desembainhar sua espada  (Foto: Wikimedia Commons)
ILUSTRAÇÃO MOSTRA SUPOSTA BRUXA LANÇANDO UM FEITIÇO EM PLENO JULGAMENTO: REPARE NO CAVALHEIRO À DIREITA, PRESTES A DESEMBAINHAR SUA ESPADA (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS)
Com o objetivo explícito de rebater todos os argumentos que negavam a existência de bruxas, o livro Malleus Maleficarum foi escrito no final do século XV e serviu por cerca de trezentos anos como um guia de bolso para identificar, interrogar e condenar bruxas. Em latim, Malleus Maleficarum significa “O Martelo das Bruxas”, uma escolha de título quase literal, já que a obra ajudou a levar incontáveis mulheres pra forca e pra fogueira.
O responsável pelo título desprovido de sutileza é o clérigo alemão Heinrich Kramer, que publicou o texto em 1487 como uma espécie de Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Teologia da Universidade de Colônia, na Alemanha. Há controvérsias sobre a recepção do livro pelo corpo acadêmico: apesar de conter uma carta de aprovação da faculdade, há quem diga que a chancela é uma fraude e que o trabalho não teria agradado os professores.
Se os professores não gostaram, azar o deles – o fato é que a obra foi uma das mais populares de sua época sobre o tema. Acredita-se que até 1520 foram 13 edições e depois, entre 1574 e 1669, o livro foi reimpresso outras 16 vezes. Alguns pontos ajudam a explicar o sucesso do manual: a misoginia do texto (sim, isso já pegou bem); a polêmica aprovação da Universidade de Colônia, que garantia o endosso intelectual pro trabalho; a ideia colocada ali de que a bruxaria era um crime ainda pior que a heresia e, por fim, o fato de ter sido impresso, luxo dispensado a uma quantidade pequena de livros no século XV. Uma rápida busca no Google e o Malleus Maleficarum pode ser encomendado via Amazon.

Capa de edição do livro de 1520  (Foto: Wikimedia Commons)
CAPA DE EDIÇÃO DO LIVRO DE 1520 (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS)
Malleus Maleficarum era dividido em três partes principais: “Versando sobre as três concomitâncias necessárias para a bruxaria, que são o Diabo, a Bruxa e a permissão de Deus-Todo-Poderoso”, “Versando sobre os métodos pelos quais as obras de bruxaria são forjadas e dirigidas e como elas podem ser anuladas e dissolvidas com sucesso”, e, por fim, “Relacionando os processos judiciais tanto nos tribunais Eclesiásticos como nos Civis contra bruxas e todos os hereges de fato”.
Em uma passagem, Kramer sentencia:
“O que pode-se pensar daquelas bruxas que colecionam membros masculinos em grandes números – 20 ou 30 – e os colocam em um ninho de pássaros ou os fecham em uma caixa na qual eles se movem como membros vivos e comem aveia e milho e foram vistos por várias pessoas, sendo um relato já comum? Há de se dizer que isso é trabalho do capeta e da ilusão” 
O livro todo segue esse padrão, como se preparasse o leitor para um debate sobre bruxaria. Alguns tópicos são apenas esquisitos, "Como distinguir um encantamento de um defeito natural?”, mas observando outros, como “Por que a superstição se encontra antes de tudo nas mulheres? e “A respeito das bruxas que copulam com demônios. Porque as mulheres são as principais adeptas das superstições malignas?” dá pra entender um pouco da importância do movimento feminista em pleno século XXI, quase 600 anos depois da publicação desse manifesto de estigmatização da mulher.

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