HuffPost Brasil | De Grasielle Castro &
Publicado: 21/10/2016
Uma mulher de 34 anos, mãe de três filhas de 12, 13 e 14 anos, vem sofrendo estupros coletivos no Rio de Janeiro há quatro anos em silêncio.
Antes mesmo do primeiro estupro, ela foi vítima de uma das violências que mais expõem as mulheres. Teve um vídeo íntimo, feito sem autorização pelo então namorado, divulgado.
Assim como a divulgação de fotos, a gravação é crime previsto pelo Código Penal. Um delito que saiu impune e foi o ponto de partido para a sequência de abusos sexuais.
O mais recente estupro coletivo ocorreu na última segunda-feira (17) e teve a participação de cerca de 10 homens. O caso foi divulgado pelo jornal Extra, do Rio, e alcançou grande repercussão esta semana no País.
A vendedora de roupas estava no bar com um amigo em Lagoinha, na Região Metropolitana do Rio, quando foi abordada por quatro rapazes. Não adiantou o amigo dizer que os dois estavam juntos. Os homens a obrigaram a ir ao banheiro e praticar sexo oral com todos eles, conforme seu relato.
Em seguida, arrastaram-na pelo braço na saída do bar para uma rua escura. Lá continuaram a violentá-la. A série de abusos crescia à medida que mais homens chegavam ao local.
A vítima falou ao Extra:
"Eu implorava para que eles parassem, mas não adiantava de nada. Eles só me machucavam mais. Aos poucos, foram aparecendo outros homens até que percebi que tinham uns 10 homens abusando de mim. Eles diziam que iriam me matar e me jogar no valão se eu ficasse gritando.”
O estupro seguiu até que um dos rapazes notou um movimento estranho. Eles correram, e a polícia encontrou no local apenas a vítima às lágrimas e sem roupa. Um dos policiais viu dois menores e os abordou. Três dias após a apreensão, os menores de 15 e 16 anos confessaram que participaram do estupro coletivo.
Poder e tráfico
Este episódio seria só mais um na vida da vendedora de roupas. Ainda segundo o jornal Extra, desde de junho de 2011, quando ainda namorava o autor do vídeo, ela vem sendo vítima de abusos. No último dia 15 de setembro, a cena se repetiu. Um dos traficantes que ela já conhecia a obrigou a fazer sexo oral nele no meio da rua.
A Polícia Civil investiga neste momento os estupros denunciados pela vendedora em ocorrência registrada na 74ª DP (Alcântara). Ao G1, a polícia informou que "diligências estão em andamento para apurar o envolvimento de outras duas pessoas no crime”. Após a divulgação do caso, a vítima conseguiu sair do bairro e se abrigar na casa de amigos em outra cidade.
Violência contra a mulher
Infelizmente, este caso não é único e só engrossa uma estatística assustadora. A cada 11 minutos uma mulher é violentada no Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado em 2015.
Em maio deste ano, outro caso chocou o País. Uma menina de 16 anos também foi vítima de um estupro coletivo. Ela denunciou ter sido dopada e violentada por mais de 30 homens, e as cenas foram divulgadas na internet.
A vítima disse que acordou nua com os homens armados com fuzis e pistolas. "Ela foi dopada e estuprada por traficantes, após voltar à comunidade para recuperar um celular furtado", afirmou a delegada Eloisa Samy Santiago à época.
Ainda assim, estupro é um dos crimes menos notificados no País. A estimativa é que apenas 10% dos casos sejam registrados.
Há muitos fatores que impedem a denúncia, como a própria vergonha que a vendedora sentiu, medo de retaliação, de se expor e até mesmo a culpabilização da vítima.
A própria população reforça a tese de que a vítima é culpada. Pesquisa Datafolha divulgada em setembro mostra que um em cada três brasileiros concorda com a afirmação de que "a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada".
Esse argumento é endossado por homens e mulheres, segundo a pesquisa. O levantamento mostrou que a porcentagem de concordância com a frase é igual entre os dois sexos: 30%.
Como afirmou o coletivo Think Olga, "estupro é a mais simbólica manifestação do poder que se dá ao masculino em uma sociedade patriarcal”.
"O que poderia confirmar mais este fato do que a existência de homens sistematicamente mantendo uma mulher como um objeto a ser usado, como aconteceu com a vendedora de São Gonçalo? (…)Mas somos muitas. E, juntas, somos mais fortes para vencer o machismo. Fazemos o barulho que uma mulher, já enfraquecida pela violência ou até eternamente silenciada por ela, não conseguiria fazer sozinha."
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