Ninguém é capaz de nos ferir como aqueles que nos amaram
IVAN MARTINS
07/06/2017
Chorando, a amiga ligou para contar que o ex-namorado a tinha insultado de forma terrível. Eles discutiam a propriedade de objetos que haviam comprado juntos, foram se irritando mutuamente com a falta de acordo, e ele, sentindo-se acuado, lembrou um episódio antigo da intimidade deles para desqualificá-la. Chocada, ela revidou como pôde, mas, assim que ficou sozinha, desabou. Ninguém é capaz de nos ferir como aqueles que nos amaram.
Vocês já devem ter ouvido histórias assim. Talvez até as tenham vivido. É comum que ex-casais tenham conversas destrutivas. Todo cuidado anterior em proteger e cuidar se transforma em seu oposto. O ressentimento irrompe de forma inesperada e torna as conversas impossíveis. Tudo que foi calado e reprimido é posto para fora ao menor pretexto. Quando esse clima de acerto de contas se instala, há pouco espaço para afeto ou compreensão.
Foi mais ou menos o que aconteceu com minha amiga. Ela está de namorado novo e o ex ainda está sozinho. A soma de inveja, ciúme e desavença financeira se juntou para produzir a agressão – que a deixou prostrada.
Na hora, eu não tive presença de espírito para acudi-la com as palavras corretas, mas é evidente que aquilo que o sujeito disse não tem a menor importância e não deve ser levado a sério. Se eu estivesse com ela ao telefone agora, ou a tivesse sentada diante de mim, diria o seguinte:
“Imagine que alguém jogou uma pedra em você. A pedra machuca, mas você não fica refletindo sobre ela. É apenas material inanimado. Você não põe a pedra no bolso, não a leva para casa e nem passa a noite pensando sobre ela, sem dormir. A agressão verbal do ex-namorado, o conteúdo da acusação retroativa que ele fez, é uma pedra. Machuca, mas não merece um segundo de atenção. Não é algo que se deva ficar remoendo. É apenas um objeto de vingança. Fere, mas não tem valor. Melhor gastar tempo – se for o caso – refletindo sobre os motivos por trás da agressão e sobre sua reação a ela. Daí pode sair alguma coisa. Das pedras, sabidamente, não sai nada”.
Entendam bem: não estou dizendo que a agressão não importa. Importa sim. O cara foi escroto, e isso deve ser anotado, lembrado e cobrado. Mas o conteúdo do que ele disse não importa. Nunca importa nesse tipo de conversa. O sujeito (ou a mulher) está com raiva e tenta machucar. Dependendo do seu caráter, usará qualquer instrumento ao seu alcance, dirá qualquer insanidade. Como conhece as fragilidades da ex-parceira, sabe o que dizer para feri-la – e ela deveria se proteger desses ataques. Todos deveríamos.
Às vezes, somos obrigados a nos defender de quem teve acesso a nossa intimidade. Um dia a pessoa está dentro da nossa vida, na posse dos nossos segredos. No outro está fora, usando o que sabe para nos atingir. É difícil lidar com isso. Afinal, quando se está apaixonado, a confiança é total. A gente divide a mente e o coração sem medir palavras. A gente erra e acerta juntos. Não imaginamos que atos e palavras serão usados contra nós no futuro, mas algumas vezes são.
Vocês já devem ter ouvido histórias assim. Talvez até as tenham vivido. É comum que ex-casais tenham conversas destrutivas. Todo cuidado anterior em proteger e cuidar se transforma em seu oposto. O ressentimento irrompe de forma inesperada e torna as conversas impossíveis. Tudo que foi calado e reprimido é posto para fora ao menor pretexto. Quando esse clima de acerto de contas se instala, há pouco espaço para afeto ou compreensão.
Foi mais ou menos o que aconteceu com minha amiga. Ela está de namorado novo e o ex ainda está sozinho. A soma de inveja, ciúme e desavença financeira se juntou para produzir a agressão – que a deixou prostrada.
Na hora, eu não tive presença de espírito para acudi-la com as palavras corretas, mas é evidente que aquilo que o sujeito disse não tem a menor importância e não deve ser levado a sério. Se eu estivesse com ela ao telefone agora, ou a tivesse sentada diante de mim, diria o seguinte:
“Imagine que alguém jogou uma pedra em você. A pedra machuca, mas você não fica refletindo sobre ela. É apenas material inanimado. Você não põe a pedra no bolso, não a leva para casa e nem passa a noite pensando sobre ela, sem dormir. A agressão verbal do ex-namorado, o conteúdo da acusação retroativa que ele fez, é uma pedra. Machuca, mas não merece um segundo de atenção. Não é algo que se deva ficar remoendo. É apenas um objeto de vingança. Fere, mas não tem valor. Melhor gastar tempo – se for o caso – refletindo sobre os motivos por trás da agressão e sobre sua reação a ela. Daí pode sair alguma coisa. Das pedras, sabidamente, não sai nada”.
Entendam bem: não estou dizendo que a agressão não importa. Importa sim. O cara foi escroto, e isso deve ser anotado, lembrado e cobrado. Mas o conteúdo do que ele disse não importa. Nunca importa nesse tipo de conversa. O sujeito (ou a mulher) está com raiva e tenta machucar. Dependendo do seu caráter, usará qualquer instrumento ao seu alcance, dirá qualquer insanidade. Como conhece as fragilidades da ex-parceira, sabe o que dizer para feri-la – e ela deveria se proteger desses ataques. Todos deveríamos.
Às vezes, somos obrigados a nos defender de quem teve acesso a nossa intimidade. Um dia a pessoa está dentro da nossa vida, na posse dos nossos segredos. No outro está fora, usando o que sabe para nos atingir. É difícil lidar com isso. Afinal, quando se está apaixonado, a confiança é total. A gente divide a mente e o coração sem medir palavras. A gente erra e acerta juntos. Não imaginamos que atos e palavras serão usados contra nós no futuro, mas algumas vezes são.
Uma vez que não há como se precaver contra esse tipo de traição emocional – afinal, sem confiança e entrega não há relacionamento que preste –, a gente tem de lidar com os fatos consumados e suas consequências. É aí que entra a história da pedra. Se alguém desce tão baixo a ponto de nos atacar com uma confissão colhida em nossa cama, não devemos permitir que nos atinja. É lixo, é pedra, é nada. E a pessoa que faz esse tipo de acusação e usa esse tipo de informação tampouco vale muito. Melhor desprezá-la.
Falo isso ciente de que nossas emoções não são controláveis. Somos movidos a culpa e os ataques que nos fazem muitas vezes encontram aliados em nós mesmos. É duro repelir uma agressão quando uma parte masoquista de nós se identifica com o agressor. Por isso é preciso romper a identificação e não se deixar machucar injustamente pela mágoa dos outros. As pessoas não têm direito de atirar a frustração delas na nossa cara. Ou de nos atacar com segredos íntimos porque se sentem ameaçadas ou preteridas. Quando isso acontece, temos de olhar indignados para o outro, cheio de pedras na mão, e nos lembrar que ele tem apenas isso, pedras. Não são verdades, não são fatos, não são nada que nos diga respeito.
Falo isso ciente de que nossas emoções não são controláveis. Somos movidos a culpa e os ataques que nos fazem muitas vezes encontram aliados em nós mesmos. É duro repelir uma agressão quando uma parte masoquista de nós se identifica com o agressor. Por isso é preciso romper a identificação e não se deixar machucar injustamente pela mágoa dos outros. As pessoas não têm direito de atirar a frustração delas na nossa cara. Ou de nos atacar com segredos íntimos porque se sentem ameaçadas ou preteridas. Quando isso acontece, temos de olhar indignados para o outro, cheio de pedras na mão, e nos lembrar que ele tem apenas isso, pedras. Não são verdades, não são fatos, não são nada que nos diga respeito.
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