Feira Literária de Paraty terá, pela primeira vez, mais mulheres do que homens nas mesas de debates
São Paulo
A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) chega aos 15 anos mais madura. E mais feminista também. A debutante festa literária que ocorre na cidade histórica do Rio de Janeiro terá, pela primeira vez, mais mulheres que homens na programação. Sob curadoria de Josélia Aguiar, as mesas estão mais diversas e mais inclusivas. Depois de sofrer críticas de movimentos negros pela ausência de diversidade, a Flip deste ano está mais cuidadosa com o tema. Há apenas três anos, em 2014, as mulheres representavam somente 15% da programação da Flip.
A iniciativa foi celebrada pelas autoras, embora avaliem que o caminho a ser percorrido ainda seja longo. A escritora e jornalista Eliane Brum, colunista deste jornal, diz que este é um passo no sentido de começar a tirar as mulheres de espaços não vistos e colocá-las sob os holofotes. “As mulheres sempre ficaram invisibilizadas”, diz. “E, como as mulheres não são um genérico, com as autoras mulheres e negras essa invisibilidade é historicamente muito maior”. Na visão da escritora, a Flip deste ano mais feminista e mais negra do que as anteriores é a expressão, no campo da literatura, “do enfrentamento do machismo e do racismo nas ruas e nas redes sociais”.
A escritora lembra que, apesar das comemorações, a programação desta Flip não é um espaço concedido a mulheres e negros. “É um espaço conquistado pela luta”, diz. “E isso não é pouca coisa”. Paulo Werneck, ex-curador da Flip, afirmou no ano passado, durante a festa, que a maior concentração de mulheres era “um compromisso do evento com o debate atual”. Josélia Aguiar, em entrevista a este jornal, foi além: “As opções da programação não são apenas uma mera formalidade ou cumprimento de uma tarefa da ‘marca’ Flip”, disse. “Eu tenho um percurso e as escolhas que fizemos para este ano são condizentes com ele”.
“A qualidade literária não se mede por gêneros: As vozes, masculinas ou femininas, valem por sua qualidade, não por sua genitália”, diz Leila Guerriero
O resultado deste percurso da curadora poderá ser visto nas mesas, entre 26 e 30 de julho. Fazem parte da programação as brasileiras Natalia Borges Polesso, Carol Rodrigues, Grace Passô, Luciana Hidalgo, Priscila Agustoni, Noemi Jaffe, e Beatriz Resende, a angolana Djaimilia Pereira de Almeida, Scholastique Mukasonga, de Ruanda, a espanhola Pílar del Río e a argentina Leila Guerriero, colunista do EL PAÍS, entre outras mulheres.
Para Leila Guerriero, este momento pode ser definido como uma “sobreatuação”. “É um ato político e saudável, uma forma de enviar uma mensagem interessante à sociedade a partir do âmbito literário e uma maneira de dar um empurrão para a igualdade”, diz. Mas ela também ressalta que estamos longe do objetivo final: O de chegar em um momento em que ter mulheres em uma mesa ou ter negros na programação não será notícia. “A qualidade literária não se mede por gêneros: As vozes, masculinas ou femininas, valem por sua qualidade, não por sua genitália”, diz. “Chegará um momento em que os empurrões não serão mais necessários. Por enquanto, porém, são. Eu os celebro com entusiasmo”.
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