Não é exagero afirmar que uma mãe em casa vale em torno de R$ 10 mil a R$ 12 mil por mês
GUSTAVO CERBASI
03/07/2017
Desde o início do movimento feminista, as mulheres gradualmente conquistam o espaço que lhes cabe na sociedade. Lutaram por dignidade e por igualdade de direitos, de escolha, de opinião. Avançaram.
Não alcançaram a igualdade de renda, mas diminuíram a diferença, que nunca deixará de existir. A distinção de renda associada a gênero não é questão de preconceito, mas sim da precificação de diferentes condições de trabalho. O empregador considera, entre outros fatores, a potencial dedicação do contratado à carreira e sua expectativa de estabilidade. A maioria das mulheres vai deparar, em algum momento, com a maternidade, e o mercado de trabalho precifica: prefere outro profissional, a não ser que ela aceite receber menos. A mulher paga pelo risco associado ao gênero.
Isso explica por que as mulheres se deram melhor em carreiras que oferecem horários de trabalho flexíveis, como terapias e jornalismo. Nessas profissões, a diferença de ganhos inexiste. Em alguns casos, favorece as mulheres. Mas a liberdade de escolha delas criou um novo movimento social: o de mulheres que, mesmo com a oferta de bons empregos, optam por abandonar a carreira e se dedicar aos filhos. Decisão difícil: abrir mão do emprego significa abrir mão também de uma parcela significativa da renda familiar.
Vale a pena? A presença da mulher em casa significa maior capacidade de gerenciar e cuidar da família. Se ela fosse substituída por bons profissionais, custaria quase sempre mais que o salário do qual essas mães abrem mão.
Se somarmos as médias salariais de serviços como o de babá, cozinheira, lavadeira, passadeira, motorista, faxineira e professora particular, o custo mensal superaria os R$ 10 mil, sem incluir gastos com nutricionista, clínico geral e psicóloga, atividades que mães desempenham com maestria quando mais presentes.
Não é exagero, portanto, afirmar que uma mãe em casa vale em torno de R$ 10 mil a R$ 12 mil por mês. A família não percebe esse valor na conta, mas em ganho de bem-estar. Torna-se uma família mais rica, com filhos mais bem-educados.
Felizmente, esse resgate da tradição coincide com outros dois movimentos sociais importantes: a simplificação do consumo, pautada principalmente pelo uso compartilhado de automóveis e afins (que reduz o custo familiar) e a igualdade de gênero nos papéis familiares, que traz essa mesma reflexão para a situação em que quem decide ficar em casa é o pai. Se a melhor oportunidade profissional surge para ela, por que não ele assumir o papel de gerente do lar? O mundo está mudando – e para melhor.
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