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domingo, 23 de julho de 2017

Pedofilia e rituais em cemitérios, a cara oculta dos curadores do Baleia Azul

Rio de Janeiro 
Pedofilia e rituais em cemitérios, a cara oculta dos curadores do Baleia Azul
GETTYIMAGES
Mateus, de 23 anos, foi acordado pela polícia na última terça-feira às seis da manhã. Morador de uma comunidade da Baixada Fluminense, pobre região na área metropolitana do Rio, era o alvo principal de uma operação que procurava os responsáveis pelo Baleia Azul, um macabro jogo virtual que, em 50 desafios, incita jovens à automutilação e ao suicídio. No mesmo dia, mais quatro jovens foram presos em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A operação, comandada pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática do Rio, revelou ainda as sombras dos supostos líderes do jogo. Além de guiar jovens vulneráveis em processos autodestrutivos e cobrar imagens que provassem a superação de cada etapa, alguns dos curadores estariam usando o material com fins de pedofilia.
Os presos, que podem responder por formação de quadrilha, lesão corporal ou até por homicídio, são considerados curadores, figura chave no jogo virtual, cuja origem, cheia de lendas e meias verdades, foi identificada na Rússia. São os curadores quem propõem à vítima o uso de objetos cortantes para escrever códigos, cortar os lábios ou desenhar uma baleia no antebraço usando uma gilete como pincel para, depois, exigir o envio de fotos que provem a realização dos objetivos. No caso das meninas, ainda eram pedidos registros delas em suas roupas íntimas mostrando as lesões. São os curadores quem marcam a data e a forma com a qual o jovem terminará com sua vida, às vezes se atirando de algum lugar, outras ingerindo quantidades absurdas de remédios.
Ainda sonolento, Mateus se descreveu para os policiais que entraram na sua casa como “um dos curadores mais conhecidos do Rio”. “Sempre aconselhei eles a não se matarem” disse, ainda sentado na cama. “Mas uma vez que entravam no jogo não tinham alternativa”. Cabia ao curador também ameaçar as vítimas, induzi-las a acreditar que sabiam tudo sobre sua vida após hackear seus computadores, embora não tivessem nenhuma intenção ou poder de atacá-las. Jovens que participaram do jogo relataram que foram ameaçados pelos organizadores quando quiseram sair. "Eu sei como fazer você voltar a jogar, e as pessoas a sua volta é que vão sofrer", recebeu uma das vítimas no Rio, cujo curador ainda não foi preso.
O jogo, que estourou no Brasil em abril com várias tentativas de suicídio, converteu os dramas de saúde dos jovens em casos de polícia, trouxe pânico aos pais e disparou alertas nos hospitais brasileiros, que nos últimos anos já têm presenciado um aumento de casos de suicídios entre adolescentes. O Baleia Azul, com supostas vítimas espalhadas pelo país todo, escancarava assim a necessidade de se discutir um tabu: o do suicídio entre jovens, um fenômeno que cresce no mundo inteiro, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mateus, pedreiro desempregado, disse ter acompanhado os desafios de cerca de 30 jovens, mas insistiu, sempre sem perder a calma, não ter matado ninguém. Amante do rock, é considerado “um cara tranquilo” pelo seu advogado. Com a ressalva, segundo a polícia, de que tinha uma caveira embaixo da cama e gostava de visitar os cemitérios à noite e fazer rituais que incluíam abrir os túmulos e tirar tecidos humanos para fazer chás.
Enquanto Mateus relatava que para ele já foi normal a vontade de se matar, seus apadrinhados, um casal, com quem o jovem conversava pela rede social, era preso na casa que dividia em São Paulo. Rodrigo e Letícia, ajudante de um mercado e uma maquiadora de 23 e 21 anos, eram administradores de um grupo no Facebook chamado “Estou bem triste”, com mais de 9.000 membros. A partir dele, segundo os investigadores, incitavam aos integrantes a participarem do jogo. Eles negaram sua vinculação com o Baleia Azul, mas Rodrigo se ocupava do tema no seu perfil: “Eu achei que era mentira, mas realmente tem gente que passa horas assistindo outras pessoas a jogarem um jogo ao invés de jogar [...] Descartem suas vidas logo”. Ou :“Essas pessoas colocando foto de baleia azul no Facebook insinuando que vão se matar, mas só querem atenção mesmo. Se elas se matassem de verdade, a gente iria se livrar de uma escória de gente retardada na internet. Seria ótimo”.
Mas os problemas legais de Rodrigo não se limitam às postagens sobre o jogo virtual. No seu celular foi encontrada a foto de um púbis com uma suástica desenhada com gilete e, segundo os agentes e o próprio depoimento do suspeito, é investigado pela Polícia Federal por manter um site de pedofilia. Não é o único. No Rio Grande do Sul, um menor de 15 anos, também identificado pela polícia do Rio como curador, guardava farto material pornográfico de menores no computador. Considerado um adolescente "aparentemente normal" pelos policiais que o prenderam, há indícios de que usava diversos perfis falsos nas redes sociais evoluindo do seu perfil de hacker ao de estelionatário.
Por fim, em Santa Catarina, era presa a quinta suspeita, que surpreendeu os investigadores por sua frieza, mas negou ter atuado como curadora. Emily, desempregada de 21 anos, conversava pela rede social com Mateus e postava frequentemente no grupo de Facebook "Estou bem triste" administrado pelo casal de São Paulo. “Sou uma curadora e tenho até aproximadamente 40 baleias [vítimas]”, dizia numa das postagens. “É egoísmo querer que alguém permaneça vivo contra sua vontade, só por agradar a própria família [...] Queria dizer que sim, o jogo é real. E, sim, muita gente irá morrer. Agradeçam a mim e a outros curadores”.

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