O que é? Pra que serve? O que dizer? Como saber quando uma sessão foi boa?
Frederico Mattos
Terapia não é um negócio fácil, eu mesmo só fui procurar no segundo ano da faculdade de Psicologia, mesmo com os professores insistindo que teoria psicológica não ajuda em nenhum problema pessoal.
Lembro que suava frio esperando pelo momento das primeiras revelações. Havia até um embrulho no estômago quando comecei a responder as primeiras perguntas que vinham afáveis daquela que foi minha primeira terapeuta.
Para quem tinha deixado tudo trancafiado no baú era um suplício falar sobre minha infância, o sentimento de solidão que me habitava e o silêncio que eu carregava para certos traumas vividos. A sensação era a mesma que experimentava quando algo não caia bem no estômago e o vômito surgia. "Por que não vomitei antes?"
Entre nós, homens, existe um tabu quase intransponível em matéria de intimidade. Recorremos com frequência ao velho jargão do "não tenho nada, está tudo bem". Mesmo quando algo desaba na nossa cabeça.
Sabemos que é inútil apelar para a velha desculpa de que "as respostas estão dentro de mim, isso é coisa que resolvo comigo mesmo". Sejamos francos, não está tudo bem. Para muitos de nós, o processo de endurecer nossos corações sacrificou nossa sensibilidade, aquela leveza de menino. A gente fica cascudo para ganhar algum respeito, mas agora, na vida adulta, de que vale seguir tropeçando na própria carapaça?
Com certeza, as respostas estão dentro de você, mas na maioria das vezes em um quarto escuro, o qual prefere nunca achar a maçaneta da porta de saída.
Até num momento de bebedeira, no qual muitos acham que alguma verdade sai, isso não é muito significativo, pois não conseguimos olhar com clareza para a bagunça interior.
Sem as perguntas colocadas no momento certo as respostas não surgem, podemos seguir como o criminoso evidente alegando inocência.
Há alguns dias o leitor Di comentou no texto "Aos meus amigos homens: façam terapia", abrindo como, na verdade, não fazia a menor ideia do que se faz em uma sessão de terapia e qual seria a utilidade para um homem, como ele. O comentário veio muito bem encadeado, com ótimas perguntas, que resolvi responder aqui, para ajudar também outras pessoas que compartilhem dessas dúvidas.
Cena de 50/50, filme com Joseph Gordon Levitt, no qual seu personagem busca na terapia ajuda para lidar com o câncer e outros problemas na vida.
O que realmente é a terapia?
A terapia é um processo de curta (em média até 20 sessões), média (um ano) ou longa duração (mais de um ano) que busca ajudar pessoas, casais ou grupos de quaisquer idades a cuidar de uma situação crítica (de perdas ou ganhos) aguda ou crônica de diferentes gravidades e também melhorar aspectos que podem não ser patológicos mas que sejam disfuncionais, seja na vida pessoal, amorosa, profissional, estudantil e/ou familiar.
É importante dizer que existem muitas abordagens na Psicologia e que cada uma tratará a terapia de uma maneira específica, segundo a sua visão de mundo, mente e psicopatologia. Algumas são mais verbais e outras mais corporais, entre as verbais existem as mais silenciosas até as mais interativas.
Portanto, depende do momento e da dança entre o terapeuta e a pessoa atendida ter afinidade com essa ou aquela abordagem. Mas em última instância "ir com a cara" do terapeuta acaba sendo um fator importante na terapia para melhor aderência ao processo, afinal, é a intimidade que está em jogo.
No que a terapia pode me ajudar?
Talvez uma lista seja útil:
Cuidar de algum tipo de transtorno mental (depressão, ansiedade, psicoses);
Superar um trauma, uma questão do passado ou até problemas em potencial do futuro;
Abrir temas ligados à sexualidade e vida amorosa;
Expressar bloqueios ligados à vida profissional ou financeira;
Melhorar um comportamento que cause significativo sofrimento emocional para si ou os outros;
Problemas de personalidade;
Levantar questionamentos existenciais.
Sobre o que eu vou falar lá? Algo que me incomoda?
Sobre o que você quiser, desde "como parece ser difícil viver em sociedade" até o clássico "tenho uma história difícil com minha mãe". Não há limite de temática, se for uma questão incômoda em nível leve, médio ou grave (e quem decide é você), pode ser um assunto de terapia. Mas também não se reduz a um problema com P maiúsculo, mas sonhos de vida, obstáculos de um projeto ou coisas não-patológicas também podem fazer parte da terapia.
Robin Williams interpreta o psicólogo Sean Maguire em Gênio Indomável. Se não viu, veja.
O que, geralmente, o terapeuta falará (de forma genérica)?
Bem, existem abordagens diferentes que tratarão a questão de forma mais diretiva com ações, coisas para escrever no papel, palavras mais direcionadoras para uma solução de problemas pontuais. Mas também o profissional pode ser mais lacônico, abrir pontos sem necessariamente expressar suas impressões, num trabalho mais investigativo, sutil, deixando para a pessoa atendida o desvelar do "enigma" da própria questão.
O que o terapeuta vai falar dependerá do tipo de abordagem e do tipo de demanda que a pessoa tenha.
Posso chorar? Não pode chorar? Pode contar piada?
O choro é livre, o riso também. Acima de tudo é uma interação humana e dali pode vir à tona a expressão de uma personalidade mais autêntica, leve e sem grandes repressões.
O que seria uma sessão de terapia bem aproveitada?
Depende, pois existem sessões de revelações intensas, outras de abertura de questionamentos, algumas de desenvolvimento de raciocínio, até aquelas de catarse emocional intensa, e por que não, aquelas que superficialmente não trazem nenhum conteúdo novo à tona, mas tem uma força de preparo e latência para uma futura sessão. Cada uma delas tem uma sensação final típica, oras com mais tensão, oras com mais relaxamento.
Uma sessão pouco aproveitada costuma vir de uma sequência de assuntos aleatórios, superficiais, meramente narrativos, sem haver nenhuma intervenção significativa ou também sessões nas quais existe uma postura palpiteira e até meramente moralista ou julgadora do terapeuta.
Para o homem, é melhor um terapeuta homem ou mulher?
Alguns homens, quando querem se abrir sobre questões mais íntimas e sexuais às vezes preferem falar com um homem, por haver uma suposição de similaridade. Outros querem não ter a pressão de ter um outro cara ouvindo os seus fracassos.
Não existe uma fórmula que responda o que ajuda num gênero ou outro, dependerá que tipo de abertura ele terá com um homem ou uma mulher, a melhor escolha depende desse tipo de expectativa.
* * *
Claro, mil questionamentos podem surgir sobre a natureza da terapia e o que constitui um bom tratamento. A conversa segue, como sempre, nos comentários.
publicado em 13 de Julho de 2017
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