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sábado, 15 de julho de 2017

Por que as mulheres indianas estão usando máscaras de vacas?

O projeto quer chamar atenção para a dificuldade de acesso das mulheres violentadas à Justiça, enquanto o abate de vacas é rapidamente penalizado.
 12/07/2017
Ana Beatriz Rosa Repórter de Vozes, Mulheres e Notícias, HuffPost Brasil
Mulheres de várias partes do mundo estão sendo fotografadas utilizando máscaras de vacas como parte de um projeto um tanto provocativo: É mais seguro ser um animal sagrado na Índia do que ser uma mulher?

Em 2012, o estupro coletivo e o assassinato de uma jovem estudante em Nova Deli desencadeou uma discussão nacional sobre a violência contra as mulheres.
Porém, cerca de 5 anos depois, as estatísticas comprovam que os abusos e violências permanecem uma realidade na vida das indianas.
De acordo com a BBC, um estupro acontece a cada 15 minutos do país. Enquanto isso, a taxa de condenação por violência contra a mulher diminuiu para menos de um terço.
Os altos índices de violência podem ser atribuídos a uma forte cultura patriarcal e machista que é enraizada na Índia. Também, há falta de preparo dos polícias para combater violências de gênero. As mulheres também apontam para a falta de infraestrutura, como a má iluminação e a falta de câmeras de seguranças nas ruas de Deli.
O projeto do fotógrafo Sujatro Ghosh toma como base as altas estatísticas. A escolha das máscaras de vacas está associada a outra discussão que permeia o debate no país.
Há pelo menos 5 anos, segundo o Guardian, minorias religiosas estão sendo alvo de violência em nome do protecionismo das vacas, animal sagrado na cultura indiana.
Uma análise realizada pelo site do jornalismo de dados IndiaSpend revelou que 97% da violência relacionada com o "desrespeito" às vacas nos últimos anos ocorreu após 2014, após a eleição de um governo nacionalista hindu liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi.
Os muçulmanos foram alvo de 51% da violência ao longo de quase oito anos ( de 2010 a 2017) e representavam 86% dos 28 indianos mortos em 63 crimes.
Desde que Modi assumiu o governo, as punições para contrabando de vacas ou abate dos animais também se tornaram ainda mais duras.
O objetivo do projeto de Ghosh é questionar essas duas tensões.
"A questão central são os direitos e a proteção das mulheres. Não sou contra a proteção das vacas, eu amo os animais. Mas estou preocupado com o cenário sociopolítico do meu país", declarou em entrevista ao jornal britânico.
O que preocupa o fotógrafo é a dificuldade de acesso das mulheres à Justiça, enquanto para aqueles que desobedecem a regra hindu a penalidade é clara.
"Estou perturbado pelo fato de que no meu país, as vacas são consideradas mais importantes do que uma mulher, que leva muito mais tempo para uma mulher que é estuprada ou assaltada obter justiça do que uma vaca, só porque muitos hindus a consideram um animal sagrado", declarou em entrevista à BBC.
Nas redes sociais, ele compartilha fotos de mulheres com a máscara ao redor do mundo.

No texto, ele explica que sua arte é uma forma de protesto.
"Minha arte é uma forma de protesto. No meu país, vacas são mais importantes do que manter a vida de mulheres em segurança. (Referência: A maioria dos hindus acredita que a vaca é o seu animal sagrado e eles adoram o animal, embora a maioria dos muçulmanos a consuma como parte de suas refeições diárias.) O debate nunca termina entre "consumir ou adorar", mas obter benefícios políticos sobre isso está errado. Por que não permitirmos que as pessoas decidam o que querem consumir. Estarei fotografando mulheres de diferentes partes da sociedade. Eu ficaria mais do que feliz se você chegar até mim e quiser ser fotografada ou talvez se junte a essa forma de protesto."
Para o fotógrafo, não é aceitável que casos de violência contra a mulher permaneçam por anos nos tribunais, enquanto quando uma vaca é abatida, grupos extremistas hindus penalizam o suspeito pelo abatimento.
"Estou fazendo uma declaração política porque é um tópico político, mas se nos aprofundarmos nas coisas, então vemos que a supremacia hindu sempre esteve lá. Não tenho medo [de ameças] porque estou trabalhando para um bem maior", defende.

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