11/08/2017
Diante de um quadro branco, Fatima Al Obeid escreve a letra “b” em árabe. Ela chama uma aluna para escrever a palavra “beit”, que significa “casa” – também em árabe. Suas alunas não são crianças, mas mulheres adultas.
Diante de um quadro branco, Fatima Al Obeid escreve a letra “b” em árabe. Ela chama uma aluna para escrever a palavra “beit”, que significa “casa” – também em árabe. Suas alunas não são crianças, mas mulheres adultas.
Duas vezes por semana, Fatima ensina mães e avós sírias refugiadas a aprender a ler e a escrever em sua língua nativa. Para a maioria delas, é a primeira vez que frequentam uma sala de aula. Na Síria, não tinham a oportunidade de ir à escola.
As aulas de alfabetização para mulheres surgiram de seu desejo de ajudar os filhos a se integrar melhor no Líbano, onde vivem desde que deixaram a Síria no início do conflito. Muitas queriam ajudá-los com os deveres de casa e ler o Alcorão. Além disso, queriam maior independência em seu novo país.
Fatima, de 31 anos, estava estudando num curso de literatura árabe na cidade síria de Homs, quando o combate forçou sua família a buscar segurança no Líbano há cinco anos. Desde então, seus três filhos pequenos começaram a frequentar a escola libanesa.
Após ver que muitos pais refugiados sírios expressavam constrangimento ao não poder ajudar seus filhos com os deveres de casa, ela resolveu fazer algo. No início deste ano, decidiu começar aulas básicas de alfabetização em Fnaydek, sua comunidade ao norte do Líbano. O foco de Fatima são as mães, visto que elas ficam mais tempo em casa com seus filhos depois da escola.
“É um ótimo sentimento quando você vê que suas alunas estão melhorando na frente de seus olhos”, diz Fatima, que é voluntária desde fevereiro. “Quando comecei a ensiná-las, elas estavam desconfortáveis e tristes, pois algumas não conseguiam nem segurar a caneta direito”.
As aulas acontecem geralmente em árabe e em francês. Ao menos 15 mulheres comparecem em cada aula. A idade das alunas varia entre 17 e 60 anos, sendo que duas possuem dificuldades de desenvolvimento. A inscrição é gratuita, sendo que a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a organização internacional Save the Children fornecem livros e outros materiais de sala de aula.
Agora, as mulheres se orgulham de poder ajudar seus filhos com o dever de casa. Ao menos 194 mil crianças sírias estão matriculadas em escolas primárias no Líbano, conforme o Ministério da Educação. A maioria participa das aulas no “segundo turno”, aulas especiais da tarde para os refugiados sírios.
“Meus cinco filhos estão todos na escola”, diz Ghalia Ahmed Ezzeiddine, de 44 anos. “E eu estou na primeira série também”.
Como várias de suas colegas, Ghalia diz que não via o valor da educação para si mesma, até que se tornou uma refugiada. Na Síria, ela conta, não era tão necessário ler e escrever. As pessoas davam as direções usando pontos de referência locais. Notícias importantes eram repassadas no boca a boca.
“Mas aqui, mesmo que falemos a mesma língua, este país não é nosso”, diz Ghalia sobre o Líbano. “Nós somos estrangeiros. Se recebo uma mensagem do ACNUR ou de outra organização, quero ser capaz de ler. Se minha filha me pergunta algo sobre seus deveres de casa, quero poder ajudá-la”.
As primeiras semanas de aula foram difíceis e muitas mulheres se sentiram sobrecarregadas. Para piorar as coisas, algumas enfrentaram críticas de seus maridos e colegas da aldeia. “Alguns maridos diziam: ‘Por quê? Agora você está velha. Não precisa disso’”, explica Fatima.
Mesmo assim, ela encorajou as mulheres a ignorarem as críticas e as orientou sobre como explicar aos maridos que a educação delas beneficiaria toda a família. Ao menos cinco de suas estudantes são viúvas, cujos maridos foram mortos na Síria, tornando a alfabetização importante para sua autossuficiência.
Fatima Tajeh, de 30 anos, traz seu bebê de cinco meses para a sala de aula, anotando com uma mão e balançando seu filho com a outra.
“O momento mais encorajador para mim foi a primeira vez que li o nome da aldeia vizinha num letreiro”, diz Fatima. Próxima dela, sua colega Naisa Al Saleh, desenha a letra “b” ao lado da lista de vocabulário da semana.
“Para mim, a coisa mais importante é ser capaz de ler as anotações do médico dos meus remédios”, diz Naisa, que tem cerca de 60 anos e vive com seu filho, sua mulher e seis netos. “Quando entro num táxi, posso identificar os sinais. Dessa maneira, sei onde estão me levando. Posso confiar em mim mesma”.
A professora Fatima irradia orgulho. “Dia após dia, tento fazê-las se sentirem mais fortes”, diz Fatima. “Tento construir a confiança delas e motivá-las. Quando você foca em algo, conseguirá conquistar seu objetivo, não importa o que seja. Mas se continuar dizendo que não pode fazer algo, você nunca chegará lá”.
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