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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O inimigo mora ao lado, mas não deveria

por Gisele Pereira — publicado 23/08/2017
Romper com a ideia fixa de que existe apenas um tipo de família é crucial para combatermos de forma efetiva a onda de ódio e fundamentalismo que se espalha pelo mundo.
Pixabay
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Sacralizar um modelo único familiar e de vivência do afeto e sexualidade coloca as pessoas que não se enquadram neste modelo expostas à violência
Refletimos hoje sobre uma ideia que se apresenta aos nossos olhos como trivial e inofensiva: o modelo de “família”. Não as famílias reais, mas o modelo específico de família apregoado pelo discurso religioso conservador como “natural”, “correto” e “único”.

Neste ano, o Estado do Vaticano pediu ao governo brasileiro, por ocasião do terceiro ciclo de Revisão Periódica Universal (RPU) da ONU, que reconhecesse apenas famílias e casamentos heterossexuais e que protegesse os fetos desde a concepção. O ideário de família única permeia toda a Igreja Católica e está presente, também, em eventos como a Semana Nacional da Família (no singular), celebrada na semana passada nas paróquias e comunidades de todo o país.
Se a defesa da família pode soar como algo benéfico - afinal, temos nossas famílias as quais amamos e queremos o bem -, basta olharmos mais atentamente para perceber as contradições e supressões escondidas em seu subtexto. 
Em primeiro lugar, família só pode ser entendida em sua diversidade. Enquanto instituição social, é uma criação humana. Existem e existiram muitos arranjos familiares em diferentes tempos e espaços. Assim é no Brasil, cujas matrizes culturais garantem a pluralidade de conformações, além dos fatores socioeconômicos que geram arranjos familiares distintos.
A afirmação da “família natural” como algo a ser protegido vem no sentido oposto ao dos Direitos Humanos ao sacralizar um modelo único familiar e de vivência do afeto e sexualidade, colocando todas as pessoas que não se enquadram neste modelo expostas a violência.
Contribui ainda para um estado de entorpecimento social que impede o reconhecimento de quem são nossos próximos e quem são nossos reais inimigos. Assim, desloca-se toda a indignação que deveria estar centrada no campo social e  econômico para o campo da moral sexual, cujo controle de corpos e desejos alheios se torna objetivo de vida.
Longe de uma “crise moral”, os problemas reais enfrentados pelas famílias da classe trabalhadora brasileira dizem respeito à questões de ordem social e econômica: o crescente desemprego e arrocho salarial concomitantes com o aumento do custo de vida; o desabrigamento e a fome; sistemas cada vez mais precarizados de saúde e educação; o racismo institucional que encarcera em massa e mata a juventude negra e periférica; os preconceitos, violências e opressões vividas no próprio seio familiar.
Os sistema de exploração capitalista e os sistemas de opressão racista e patriarcal estão por trás de toda essa engenharia que faz inimigos entre próximos, que induz as pessoas ao ódio e a violência. Estes sistemas são os verdadeiros inimigos da classe trabalhadora e suas constituições familiares. Portanto, é contra eles que precisamos centrar nossas forças e desmontar a engenharia que produz o ódio entre iguais.
A família considerada “natural” é também um sistema de estruturação de racismo, pois a partir dele se protege os privilégios das famílias que se acham superiores. Assim, qualquer ato em "defesa da família" carrega em si discursos racistas, velados ou escancarados.
Ainda atordoados pelos estrondosos ruídos de racismo, ódio e violência dos brutais acontecimentos em Charlottesville – que está sendo considerada  como a maior manifestação de ultradireita dos EUA –, encaramos faces que desfilam escancaradamente seu ódio e preconceito pelas redes sociais, salas de aulas, vizinhanças e comunidades religiosas. Essas faces não têm a preocupação em esconder-se. Pelo contrário: orgulham-se em reivindicar um mundo excludente e autoritário, no qual muitos deles nem sequer caberiam.
Assistimos ao esforço de pessoas nas redes sociais, autodeclaradas de direita, em situar o nazismo no campo da esquerda, ou seja distante daquilo que defendem. Ao mesmo tempo, sem pudor algum, assumem um discurso racista, homofóbico, transfóbico, xenofóbico, misógino e de toda espécie de preconceitos.
De fato, muitos desses ativistas conservadores parecem não perceber a conexão indissolúvel entre certos “princípios” e a concepção supremacista que elege inimigos que lhe são próximos: amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos, que devem ser combatidos e eliminados.
Mas, tal qual o episódio Engenharia Reversa de Black Mirror, existe uma engenharia por trás desses discursos e práticas de ódio, que não está facilmente visível e para a qual precisamos jogar luz para desconstruí-la e revertê-la.
São muitos os elementos ideológicos que constroem essa engenharia, pois é necessário criar teorias que justifiquem as práticas de extermínio contra todas as pessoas que diferem dos modelos dominantes. Romper com a ideia fixa de que existe apenas um tipo de família é crucial para combatermos de forma efetiva a onda de ódio e fundamentalismo que se espalha pelo mundo.

Um comentário:

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