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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Saúde menstrual e inclusão social

O governo escocês anunciou, em julho, um programa piloto que distribuirá os kits para mulheres e meninas de baixa renda da cidade de Aberdeen.
 16/08/2017
Gabriela Cavalheiro Historiadora cultural e escritora
Em maio deste ano, tive a oportunidade de visitar vários campos de refugiados sírios na Turquia. Minha visita tinha apenas um objetivo: conhecer e conversar com as refugiadas. Não pra minha surpresa as condições nos campos (rurais, não os oficiais do governo) é precária e saneamento básico não faz parte da rotina. Falei sobre a realidade da mulher refugiada recentemente em texto para a Folha de São Paulo.
Como alguém que trabalha com gênero e sexualidade há anos, tudo que se refere à vida feminina (leiamos o feminino aqui de forma plural e heterogênea, ok?) me interessa demais. É quase impossível não prestar atenção nas mulheres à minha volta e nas iniciativas voltadas para mulheres.
Foi assim que conheci a ONG norte-americana Period, fundada pela estudante Nadya Okamoto após ela mesma ter sentido na pele o drama de quem não tem acesso a absorventes íntimos e a condições sanitárias mínimas durante o período menstrual. A Period distribui kits com absorventes íntimos (incluindo papel higiênico, se necessário) para mulheres sem-teto ou vivendo em abrigos em solo americano.
Mas a ONG não está sozinha. Em diferentes países, outras organizações também se dedicam a proporcionar conforto e alguma dignidade a mulheres durante esse complicado período do mês. Complicado por que, sem acesso a saneamento básico e a produtos menstruais, muitas mulheres utilizam guardanapos, papel higiênico, meias (!) ou simplesmente evitam qualquer convívio social por conta disso.
E se engana muito quem pensa que saúde reprodutiva feminina é problema apenas em contextos como Índia, África ou em campos de refugiados. A própria Period mostra que, em países "desenvolvidos" como os EUA, também há milhares de mulheres e meninas sem acesso a condições mínimas de saneamento.
Dentro desse mapa, a Escócia, que também identificou o problema, resolveu agir e pode se tornar o primeiro país do mundo a fornecer kits com produtos de higiene feminina de graça, como parte de um programa da rede de saúde pública. O governo escocês anunciou, em julho, um programa piloto que distribuirá os kits para mulheres e meninas de baixa renda da cidade de Aberdeen.
A iniciativa foi tentada em Nova York, no ano passado, com grande sucesso. E agora, meninas de escolas públicas da cidade têm acesso gratuito a produtos de higiene íntima. Se o programa piloto de Aberdeen der certo, uma lei já encaminhada ao parlamento fará que o acesso a esses produtos seja um direito das cidadãs escocesas.
São muitos os artigos, textos, crônicas e debates sobre a importância econômica e política da saúde menstrual feminina e as consequências graves da falta de acesso a condições mínimas de higiene. A Organização Mundial da Saúde apoia e dá visibilidade a iniciativas que desconstroem o tabu em torno da saúde reprodutiva feminina como o Dia Mundial da Saúde Menstrual. Na data, instituições do mundo todo se manifestam sobre o tema de forma honesta, política, porém não menos lúdica.
Quando têm acesso a condições mínimas de saneamento, há maior participação das mulheres na vida social e econômica. Seja por não interromper seus trabalhos e convívio social, seja pelo conforto e segurança que o acesso a saneamento pode gerar. Além disso, a inclusão social que essas políticas públicas de saúde geram é incalculável.
Que a menstruação seja tabu em diversas sociedades e etnias não é nenhum segredo. E questionar certos hábitos culturais torna-se crucial quando podem gerar abuso, violência e discriminação. Não se trata de questionarmos culturas ou sociedades, mas os modos como enxergamos a saúde reprodutiva feminina se tornou mais uma forma de controle e opressão sobre um corpo que já é tão maculado de tantas outras maneiras.
Iniciativas políticas oficiais, como a do governo escocês, podem abrir portas para que outros contextos também enxerguem com naturalidade e empatia a biologia feminina, sem tentar contê-la ou constrangê-la.

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