Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

sexta-feira, 20 de julho de 2012


Therezinha Zerbini: a mulher que era 

o general da casa

Até porque a presidente Dilma Rousseff foi guerrilheira e a Comissão da Verdade começa aos poucos a retirar os cadáveres da ditadura do armário, o regime militar (1964-1985) é um dos temas mais quentes do momento. Os brasileiros percebem aos poucos que há muito a descobrir sobre si mesmos e suas origens. E que revisitar o passado está longe de representar anseio de vingança ou de revanchismo. É, antes de mais nada, o desejo de exercer o direito a contar a própria história.


O jornalista Paulo Moreira Leite acaba de dar uma contribuição como narrador deste processo histórico nebuloso. Em seu recém-lançado “A mulher que era o general da casa” (Editora Arquipélago), Paulo reúne perfis de nove pessoas que empreenderam uma resistência civil à ditadura. É a face menos conhecida e menos falada dos opositores do regime. Talvez porque não tivessem o glamour ou o clima de aventura dos enredos de quem recorreu às armas para resistir às investidas anti-democráticas dos militares, aqueles que lutaram pela democracia de peito aberto e bandeiras brancas à mão nunca mereceram muito além de breves menções nos relatos do período.
Paulo tenta corrigir essa injustiça. Relata, por exemplo, como o empresário José Mindlin foi dos poucos homens de negócio bem-sucedidos a recusar-se a dar dinheiro para financiar torturas. Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, em 1975, foi ele quem indicou o jornalista Vladimir Herzog, assassinado pouco depois nos porões da ditadura, para dirigir a TV Cultura. Quando Herzog morreu, Mindlin estava em viagem aos Estados Unidos. Depois da morte do diretor da TV Cultura, outro jornalista, Marco Antonio Rocha, foi chamado a depor nas dependências do DOI-CODI. Dessa vez, Mindlin foi ao depoimento ao lado do jornalista. O empresário morreu em 2010, aos 95 anos, ainda traumatizado com a morte de Herzog e com sua passagem trágica pela política. Assim como Mindlin, figuram no livro ilustres como o rabino Henry Sobel, o sociólogo Florestan Fernandes, entre outros.
A GENERAL

A história mais emocionante e interessante, no entanto, é a da única mulher perfilada: Therezinha Zerbini, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia, que dá título ao livro. “Vi que era a grande história. Ela era muito corajosa. Era uma mãe e, em 1964, quando houve o golpe e o marido dela, que era um general legalista, é preso, a primeira atitude dela foi achar o marido. Ela liga para o Castello Branco, que liderou o golpe, e consegue visitá-lo”, afirma Paulo.
Therezinha teria um papel fundamental ao longo de toda a ditadura. Uma mulher comum, casada com um militar e funcionária dos correios, ela escondeu e cuidou de estudantes feridos pela polícia em sua própria casa, no Pacaembu, onde mora até hoje, aos 84 anos de idade. Levantava recursos e arrumava documentos falsos de qualidade para quem estivesse clandestino no país. Chegou a dar guarida (na casa da própria mãe) ao Cabo Anselmo, que depois se revelou agente duplo, infiltrado nas organizações de esquerda pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Foi presa pela Operação Bandeirantes, que descobrira seu envolvimento no famigerado arranjo que levou o Congresso da UNE de 1968 ao sítio em Ibiúna, de onde centenas de estudantes sairiam presos.
Dividindo a cela com Dilma Rousseff ao longo de oito meses, no ano de 1970, Therezinha foi, sem dúvida um exemplo de força e autoridade moral para a futura presidente. Um episódio contado por Paulo ilustra a personalidade poderosa da protagonista: “Numa das visitas [à mulher, na cadeia], o general deixou um imenso pernil para ser dividido com as companheiras de cela. Mas havia um problema: a peça era inteira. Nem o general poderia deixar uma faca para que a carne pudesse ser cortada e servida, nem as prisioneiras eram autorizadas a portar um talher que facilmente poderiam usar como arma. Assumindo aquilo que na caserna se chama de ‘voz de comando’, a prisioneira Therezinha foi até a janela e solicitou à sentinela que emprestasse o sabre militar, esclarecendo que iria devolvê-lo junto com a primeira fatia do pernil, quando terminasse o serviço. Para espanto de todos, foi atendida.” Alguma dúvida de que ela era o general da casa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário