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quinta-feira, 18 de outubro de 2012


Coragem por trás do véu: a vida das mulheres no Afeganistão depois da queda do Taleban
Malalaï” é a primeira revista feminina criada no Afeganistão depois da queda do regime Taleban. Feita por quatro mulheres, jornalistas que foram proibidas de trabalhar enquanto a milícia Taliban esteve no poder, ela é um símbolo do renascimento da cidadania feminina num país devastado pela guerra e pelo fanatismo

Por Por Sophie Pasquet. Fotos: Manoocher Deghati*
Mulheres afegãs leem Malalaï” cobertas
O atentando contra Malala Yousufzai, de 14 anos, baleada pelo Taleban por ser uma defensora do “direito à educação de todas as meninas do Paquistão”, tem gerado comoção popular. Muitas celebridades como Angelina Jolie e Madonna demonstraram sua indignação ao ato selvagem contra a adolescente que luta, em um hospital da Inglaterra, para sobreviver.

A discussão sobre os direitos femininos em países árabes fez com que republicássemos, aqui no site de Marie Claire, uma matéria publicada na edição 139, de outubro de 2002, que mostrava como quatro jornalistas do Afeganistão, proibidas de trabalhar enquanto a milícia do Taleban estava no poder, criaram a primeira revista feminina do país depois da queda do regime. Veja a matéria:

Às vezes, quando os homens me vêem com uma câmara na mão, eles me empurram ou me xingam”, diz a jornalista Ameeda. Quando fotografa nas ruas de Cabul, esta mulher incomoda muita gente, sobretudo os homens que se acostumaram a enxergar o sexo feminino apenas como um bando de seres cobertos por uma burca azul, sem voz nem iniciativa. Os tempos mudaram desde a queda do regime Taleban e as mulheres estão pouco a pouco recuperando seus direitos, mas Ameeda continua usando a burca. Assim como procurar a melhor luz ou o melhor ângulo, levantar o véu de algodão azul faz parte dos seus gestos antes de fazer uma foto. Com o véu levantado e dobrado para trás, ela enquadra e aperta o botão da câmera. Foto tirada, Ameeda se cobre novamente, e só se descobre outra vez quando entra no carro. Quando seu rosto está à mostra, vê-se que ela está maquiada e muito sorridente: “É preciso mais que esse tipo de pressão para me impedir de testemunhar sobre o que as mulheres sofreram durante os anos do regime Taleban”. 

Ameeda faz parte das cerca de 60 jornalistas mulheres que retomaram seus trabalhos nos jornais, nas rádios, na televisão e nas agências de notícias desde o anúncio da queda do Taleban. Elas trabalham muito, freneticamente, como se estivessem querendo compensar os anos em que se viram forçadas a ficar em silêncio. Mas esse silêncio não foi total. Durante esse período sombrio, muitas delas resistiram —escreveram reportagens que levavam para o Paquistão embaixo das burcas, produziram jornais caseiros, escritos a mão, montaram escolas clandestinas para seus filhos e filhas. Para as mulheres afegãs, isoladas durante décadas pela guerra e por um regime de opressão, cada publicação ou aparição na TV ainda é um pequeno milagre. Há apenas um ano, Cabul não tinha televisão, rádio, jornais, música, teatro, cinema... Hoje, na cidade em ruínas, 125 publicações acabam de surgir ou ressurgir, e pelo menos cinco delas são para mulheres.
A jornalista Ameeda levanta a burca
para fazer uma entrevista
Mas muitas afegãs ainda vivem reclusas e não têm acesso a nenhum tipo de informação.Atingir essas mulheres é o maior desafio dessa imprensa que está renascendo. “Por enquanto, o que as afegãs têm em comum é um enorme sofrimento. Nossa idéia é que esse sofrimento se torne um elo, uma força”, explica Jamila Moujahed, redatora-chefe de “Malalaï”, a primeira revista feminina afegã publicada desde o fim do Taleban. Essa revista assumiu uma missão que pareceria simples num outro país, mas é muito complexa no Afeganistão: tornar as mulheres novamente visíveis.

Em 13 de novembro de 2001, enquanto a milícia Taliban fugia de Cabul, dois jornalistas ex-colegas de Jamila foram procurá-la e a escoltaram até os estúdios da rádio recém-libertada. Queriam que ela anunciasse a libertação. Jamila é a jornalista mais conhecida da TV e do rádio no país, e tinha sido demitida pelo Taleban. “Eles não tinham certeza se eu aceitaria”, lembra. “A situação em Cabul ainda estava muito tensa, mas nem passou pela minha cabeça recusar o convite. Fui com eles até a emissora na mesma hora.” Naquele 13 de novembro de 2001, diante do microfone, ela retirou a burca e, emocionada, vestiu um véu rosa. “A primeira coisa que eu fiz foi incentivar as mulheres a voltar ao trabalho. Várias me telefonaram em prantos. É para elas que eu quis criar uma revista, para que as mulheres não sejam esquecidas na reconstrução o Afeganistão”, diz. 

“Malalaï”, a revista de Jamila, é uma homenagem ao nome de uma grande resistente afegã do século 19. Na primeira edição, a tiragem de “Malalaï” foi de 500 exemplares. Três números depois, a revista atingiu 2 mil exemplares e passou de 16 para 64 páginas. Essa história de sucesso foi possível graças ao apoio técnico e financeiro da Aïna, uma ONG francesa que trabalha para o surgimento da imprensa livre no Afeganistão e apóia seis outras publicações.
Três afegãs e seu principal meio de contato com o mundo, o rádio
Jornalistas valentes 

Embora o apoio material seja imprescindível, o fator decisivo para a existência e o sucesso de “Malalaï” é a coragem e a energia de quatro mulheres: Ameeda, Jamila, Parvana e Malalaï, que tem o mesmo nome que a revista e é a mais velha da equipe. Com 41 anos, Malalaï foi redatora-chefe de várias publicações. Sob o regime Taleban, ela fazia circular escondido um jornal para crianças. Um envelope colado na parte interna do jornal lhe permitia receber a opinião delas. Seu filho de 3 anos, Massoud, a acompanha muitas vezes ao trabalho, porque seu marido morreu durante os bombardeios norte-americanos, de ataque cardíaco. “Voltei para a minha antiga agência de notícias assim que ouvi a voz de Jamila no rádio. Pouco depois, nos encontramos, e ela me falou sobre a idéia da revista”, lembra Malalaï.

Ameeda se juntou a Jamila no dia seguinte à libertação. Antigas colegas de trabalho, elas tinham se perdido de vista. Hoje Ameeda é o braço direito de Jamila, e trabalha como jornalista e fotógrafa. Solteira, 29 anos, ela é uma rebelde, e também “bisbilhoteira”: atualmente, se dedica a uma pesquisa sobre as mulheres vítimas do ópio e também está tentando entrar num hospital sobre o qual circulam rumores de corrupção. Ameeda não tem medo de muita coisa. Ela mostra manchas de sangue nas paredes da sala em que trabalha. “Uma bomba matou cinco pessoas aqui. Cansei de lavar, mas não sai”, explica. “Há sangue em quase todas as casas afegãs...”, continua, como que querendo relativizar o fato de ter aquelas marcas dentro de seu escritório.

Parvana, 27 anos, tem um ar mais frágil. Ela é a ilustradora da revista. Seus desenhos são informações essenciais para as mulheres que não sabem ler — a grande maioria. Em 1993, suas telas foram queimadas pelo Taleban, e desde então ela não pinta mais; só desenha. Outra lembrança dolorosa dos tempos de opressão é a e uma noite em que voltou para casa por volta das 20h, depois do toque de recolher. Tarde demais para uma moça solteira. Para puni-la, seu pai a proibiu de ir ao trabalho durante vários dias. Sua rebeldia é discreta, para poucos: sob a burca, Parvana está sempre de jeans e descalça, com as unhas pintadas. 

A todo instante, e às vezes sem se dar conta disso, essas quatro jornalistas reinventam o lugar das mulheres no Afeganistão de amanhã, enfrentando problemas do todo tipo: indo a pé a reuniões quando os transportes coletivos não funcionam, ou então passando por cima da regra tácita segundo a qual uma mulher não fala com um homem que não conheça olhando-o nos olhos. Além de “Malalaï”, todas têm algum outro emprego para completar os US$ 150 que ganham por mês. As mulheres precisam reaprender a falar, a sair de casa”, diz Ameeda. “O sol faz bem para a pele!”, insistem as jornalistas de “Malalaï”. As pioneiras da era pós-Taleban, como as novas políticas que se sentaram na Loya Jirga (Assembleia Democrática), são destaque na revista, símbolos de uma sociedade que está renascendo.

“Meu sonho é fazer belas fotografias de paisagens. As mulheres estão esgotadas, elas precisam de tranqüilidade”, diz Ameeda. No entanto, a indignação e a urgência a levam principalmente aos campos de refugiados, para captar os temores das mulheres que retornam ao país. Ou a levam a pesquisar sobre os suicídios em série de meninas na época do Taleban.
Primeira fotógrafa no país, Ameeda usa o
equipamento doado por uma TV japonesa
Liberdade na ficção 

Exorcizar esse período levará tempo, e por enquanto existem fronteiras que as jornalistas de “Malalaï” não ousam cruzar. “Escrevemos o que queremos, nos limites do Islã. Somos muçulmanas, e achamos que o Islã tem tudo para fazer progredir o direito das mulheres”, explica Malalaï. Assuntos tabu: divórcio, herança (desigual para homens e mulheres), poligamia, crimes de honra. Reportagens sobre esses assuntos são vistas pelas próprias jornalistas como “políticas demais”. O espaço para esses temas espinhoso é o das páginas de ficção. Contos e poemas que um olhar ocidental pode achar ingênuos são muito apreciados, pois o humor e a literatura abrem espaços de liberdade.

No lado da saúde, falar diretamente sobre o corpo da mulher ou sobre contracepção também é difícil. A saída encontrada pelas jornalistas é rodear, dando, por exemplo, o endereço de um hospital que oferece “cursos educacionais de saúde”. Em linguagem codificada, significa que aquele hospital distribui anticoncepcionais. 

As jornalistas conhecem bem o preço da liberdade, e não querem se exaltar. “Para sermos úteis, é preciso escrever coisas que as mulheres possam ler. Quando nossos direitos fundamentais estiverem garantidos, poderemos passar para outras coisas”, explica Jamila. Os direitos fundamentais a que ela se refere são paz, educação, trabalho, liberdade de ir e vir. As jornalistas avançam aos poucos, e cada passo é dado com cuidado. E às vezes abrem brechas nas quais elas mesmas não entram: na revista, todos os pretextos valem para lembrar que nada nem ninguém obriga mais as mulheres a usar a burca, mas as próprias jornalistas não saem na rua descobertas. A tradição tem um peso, e o medo é alimentado pelos rumores: no sul do país, mulheres sem burca teriam sido atacadas com ácido no rosto.
À esquerda, a vaidade escondida de burca, a mulher entra
no salão de beleza reaberto com o fim do Taleban.
À direita, Jamila, chefe de Malalaï”,
mostra uma página da revista
Mulheres invisíveis 

Oficialmente, os homens aprovam a existência de “Malalaï”. Mas muitos mantêm um olhar atento e desconfiado. Um mulá (título dado a personalidades religiosas no Islã xiita), Abdul Raouf, diz até onde deve ir a liberdade de expressão na imprensa feminina: “Defender os direitos das mulheres, mas incitá-las a continuar física e moralmente cobertas. A burca não é obrigatória, mas elas não devem se maquiar, freqüentar colegas homens, falar ou brincar com eles”. Abdul se recusa a abrir um número de “Malalaï” quando lhe oferecem uma edição para olhar.

O maior desafio dessa revista, no entanto, não é conquistar a aprovação dos homens, e sim atingir o maior número possível de mulheres — uma missão quase impossível num país em que não existem mais redes de distribuição. Todo mês, Jamila, Ameeda, Parvana e Malalaï percorrem os colégios para distribuir pessoalmente a revista. Nas escolas ainda sem livros, “Malalaï” é recebida como um instrumento de estudo. É lida em voz alta, comentada. Num colégio no centro de Cabul, Mouna, 20 anos, fica exaltada ao ver um desenho em que um homem está tirando a burca de sua mulher. “Ninguém deve nos obrigar. Cabe a nós decidir quando vamos tirá-la”, diz. Depois, a garota copia um dos poemas que denuncia a burca. “Quero mostrá-lo para minha mãe. Minha irmã quer sair sem ela, mas meu irmão é contra. Tem 16 anos e cresceu sob o Taleban: ele é duro.” 

“Malalaï” é vendida nas bancas, que aos poucos estão ressurgindo, e em alguns estabelecimentos comerciais, como as padarias. Mas a maior venda é feita por jovens que ficam na saída dos ministérios e hospitais, lugares onde as mulheres voltaram a trabalhar. Eles vendem a revista aos gritos, por 5 mil afeganis (cerca de R$ 0,36). Esses 45 jovens de rua abrigados pela ONG Achiana (“O Ninho”) obtêm assim algum rendimento, além de recuperar a dignidade. 

“Eu compro a revista como um presente para levar para casa”, diz uma jovem nas ruas de Cabul. Uma colega lhe falou sobre a entrevista de uma afegã-americana que voltou a viver na capital afegã. Uma outra jovem, que voltou do Paquistão depois de oito anos de exílio, passeia na rua com um simples lenço amarrado na cabeça. “Ouvi falar no artigo sobre as mulheres que dirigem uma rádio. Eu disse para meu marido que gostaria muito de falar na rádio. Ele me respondeu, irônico: ‘E por que não na Assembleia Democrática?”. A Assembléia acaba de ser eleita e, das 1.051 cadeiras, 165 foram reservadas para mulheres. “Eu disse: ‘Um dia, sim, por que não na Assembleia?’.”

Mas para que serve uma revista num país onde 95% das mulheres não sabem ler? A simples presença das meninas na escola, seu sorriso quando abrem a revista, sua sede de informação e de educação são respostas suficientes. Reconstruir um país também exige reconstruir os espíritos. Folhear jornais, assim como escutar rádio e televisão bem alto fazem parte dos prazeres redescobertos pelas mulheres e meninas desse país.
As atrizes indianas, idolatradas em Cabul,
contrastam com a imagem das mulheres afegãs
A voz do rádio 

O analfabetismo continua fazendo do rádio o principal meio de comunicação. Durante cinco anos, as afegãs, reclusas, ficaram de ouvidos colados ao aparelho. “Ele foi nossa universidade”, conta Marzia, mãe de seis filhos. Ela escutava as estações indianas, iranianas, a BBC, sempre baixinho, para não ser denunciada. Era a forma de escapar à Rádio Charia, que transmitia durante todo o dia textos do Alcorão e a cantilena das proibições impostas às mulheres.

Em 8 de novembro de 2001, em plena guerra entre a Aliança do Norte e o Taliban, uma rádio “para as mulheres do Afeganistão” transmitiu direto da linha de frente, em Jabul Saraj. A ONG Droit de Parole (Direito de Palavra) havia instalado um transmissor no meio de um campo militar da Aliança do Norte. Zakia Zaki ia lá todos os dias para apresentar os programas: “Entrar naquele campo, sob centenas de olhares masculinos, era muito pesado. Mas, para as mulheres, escutar a voz de uma afegã nas ondas do rádio era muito valioso. E ouvir essa voz lembrando que elas tinham direitos era incrível!”. Hoje essa mulher, um exemplo de coragem, dirige uma rádio chamada Sohl, e também é diretora da escola mista de sua aldeia. Na Sohl, todos os dias uma equipe de maioria feminina dá cursos de alfabetização, com programas para mulheres e crianças. 

Mas o programa mais escutado no país é a novela da BBC “New Home, New Life” (“Casa Nova, Vida Nova”), no ar desde 1994. O envolvimento dos ouvintes é tanto que alguns chegam a escrever para a rádio, indignadas com o destino reservado a algum personagem. Essas histórias da vida cotidiana servem como fonte de informação sobre os mais variados assuntos, de tratamento de água até vacinas, alimentação ou cuidados com recém-nascidos.

Se sempre houve um aparelho de rádio ligado na maioria das casas afegãs durante o regime Taliban, os televisores foram destruídos, vendidos ou escondidos. Hoje, as tevês estão voltando a aparecer, mas por enquanto apenas nas casas dos mais ricos. E nem sempre agradam. “Os programas da Tele Cabul são tristes demais”, diz Madeena, 20 anos. Sob o Taliban, ela chegou a ficar três meses dentro de casa, sem sair uma única vez. Hoje ela já passeia com mais tranqüilidade pelas ruas de Cabul, mas sua maior diversão são os vídeos pirateados de filmes indianos. De vez em quando, seu tio aluga alguns para assistir à noite. “As histórias parecem com a minha vida. Os heróis choram às vezes de felicidade, às vezes de tristeza”, explica. Os filmes contam a Madeena histórias sobre coisas inatingíveis para ela, como as aventuras de jovens que recusam os casamentos arranjados. Seu tio se tranqüiliza como pode: “Ela compreende muito bem que se trata de outra cultura. Entre nós, nem pensar em recusar um casamento”.Uma vez, ele trouxe o filme “Titanic”. “Não gostei nada, as cenas eram muito chocantes”, diz Madeena na frente do tio. Seus olhos, no entanto, dizem exatamente o contrário.
O programa predileto dos jovens afegãos: filmes indianos pirateados
Beleza subversiva 

Para as moças afegãs, as distrações são poucas, e raras. Muito antes da milícia Taleban tomar o poder, a opressão religiosa e a guerra civil tinham apagado a mulher do mundo exterior. Hoje, no teatro de Cabul recém-aberto, Galamakai Shah, a diretora da peça em cartaz, se desespera diante de uma sala cheia... de homens. “Eu fiz preços promocionais de ingressos para famílias, coloquei mulheres para anunciar a peça, mas não adianta, elas não vêm.” 

Para a imprensa e as ONGs, muitas vezes só há uma solução para trazer as mulheres de volta à vida em sociedade: entrar nas casas. A Unicef encarregou as pessoas que entram nas casas para vacinar crianças de convencer as famílias a enviar suas filhas à escola. Hoje, estima-se que só 25% das meninas estariam novamente nas escolas. A ONU, a Afghan Films e a Aïna acabam de criar um cinema itinerante para levar informações até as aldeias mais afastadas do país. As mulheres terão direito a sessões separadas dos homens — só assim elas terão chance de ver os três filmes informativos que o cinema itinerante exibe.

Um, sobre parto, as afeta especialmente: o índice de mortalidade infantil no Afeganistão é um dos maiores do mundo, e 45 mulheres morrem por dia durante o parto. O maior meio de difusão de informações ainda é boca a boca, mesmo que não exista qualquer espaço público de encontro. Mas talvez isso mude logo: o recém-criado Ministério do Direito das Mulheres prometeu uma dezena de Casas da Mulher em Cabul. 

Enquanto não surgem esses pontos de encontro, é nos salões de beleza que acontecem as maiores reuniões de mulheres. Embora restritos às mais ricas, que podem se dar ao luxo de pagar para arrumar o cabelo ou pintar as unhas, é nesses lugares que as afegãs se sentem mais à vontade para criticar as imposições a que são submetidas e para discutir os direitos femininos, já que é um espaço freqüentado exclusivamente por mulheres. Assim, os salões são duplamente “subversivos”: ali, as mulheres dizem o que pensam e, audácia das audácias, cuidam de sua beleza. 

* De Marie Claire França 
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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