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quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Um “X-Men” na sala de estar

Na seção Homens de Segunda, o publicitário Flavio Cordeiro faz uma divertida crônica familiar e, de quebra, uma bela análise de nosso tempo.

Os X-MEN são uma equipe de super-heróis originários das histórias em quadrinhos. Seus superpoderes resultam de um salto evolucionário: através de mutações genéticas, eles adquiriram capacidades sobre-humanas de voar, ler mentes, teletransportar-se, etc. Esta, no entanto, é a parte boa. A parte dramática é que os humanos “normais” os desprezam. Sentem-se inferiorizados por essas “aberrações”. No cinema, os X-MEN fizeram grandes bilheterias.

O que explicaria seu sucesso, além da clássica batalha do Bem contra o Mal? 

Junto com os superpoderes, as mutações causam estranhas “deformações” na aparência: peles escamadas, dentes de felino, cabelos prateados, cauda de macaco e cara de lobisomem são algumas dessas “deformações”.  A mensagem dos X-MEN é a da necessidade de empreendermos uma jornada heróica rumo à superação de estereótipos e preconceitos. Uma mensagem que captura magistralmente o espírito do nosso tempo.

De uns tempos pra cá, tenho observado um processo de ”x-menização” do mundo. O atendente da livraria com cabelos cor-de-rosa e um piercing atravessando a sobrancelha me estende a mão. “Seu troco, senhor!”. Colegas de trabalho mais novos começaram a chegar no escritório numa espécie de skate motorizado como se fossem o Surfista Prateado das histórias em quadrinhos. Outros colocaram uma película fosca em seus carros e os transformaram em verdadeiros Batmóveis.  Tatuagens, inicialmente tímidas e restritas a partes do corpo que pudessem ser prudentemente escondidas por camisas sociais e vestidos, começaram a se insinuar por antebraços e pescoços. Minha enteada de nove anos pediu de presente uma mecha azul porque “É maneiro não ser igual a todo mundo!”

Para além dos escritórios e livrarias, os X-MEN reinvindicam seu lugar na família. Há alguns meses, minha filha iniciou um namoro. Apesar de estarmos no século XXI, o ritual de apresentação genro / sogro ainda carrega um quê de arcaico, sempre cercado por alguma tensão: “Será que o coroa é um mala?”, “Será que esse moleque presta?”. Será que meu pai vai se dar bem com ele?”, “Será que ele vai implicar com meu pai?”. Todo rito de passagem que se preze gera algum desconfortozinho.

Mensagem de texto de minha filha: Tô chegando com “X” em meia hora, tá? Tenho certeza que você vai gostar dele!

“X” é um cara alto e magro, com um largo sorriso. Trabalha no mesmo ramo que eu. “Pelo menos terei um assunto em comum logo de cara”, pensei. Tudo certo, descemos as escadas e lá estava “X” na sala de estar, esperando para conhecer o mala do sogro. Não foi fácil prestar atenção às suas primeiras palavras. Não que estivesse falando de física quântica. Difícil foi estabelecer um ponto focal.  “X” é um X-MEN. Sua pele, que um dia foi clara, agora oscila entre o verde e o azulado, resultado de um longo processo de datação de acontecimentos importantes, registrados diligentemente através de tatuagens, que, ao longo dos anos, ganharam dedos,  mãos, pernas,  antebraços e pescoço. Passado o estranhamento inicial, logo estávamos conversando sobre futebol, política e artes marciais (outro interesse em comum).

Após o almoço, “X “ deixou os  “homens-normais-não-mutantes” de lado e foi entreter as crianças. O X-MEN tatuado com cara de mau passou a tarde com turminha entre 8 e 10 anos e agitou a brincadeira de Twister (uma espécie de contorcionismo que maiores de 40 devem evitar). Ao final do dia, como o Wolverine (o mais conhecido dos X-MEN), “X” havia se tornado o herói da garotada. Seus superpoderes aparentemente são a criatividade (necessária a sua profissão), simpatia e grande afetividade.

No final do dia, nos despedimos e “X”, meio de brincadeira, meio sério me disse:

- Você me lembra aquele personagem dos X-MEN, o professor Xavier. (O Professor Xavier é o líder e mentor dos X-MEN, uma espécie de sábio elegante e com cara de intelectual.)

Envaidecido pela referência elogiosa, perguntei a ‘X” o porquê da comparação.

- Sei lá… acho que é porque ele também é meio careca!

http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/10/22/um-x-men-na-sala-de-estar/

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