Adolescentes paquistaneses respondem com livros ao Talibã
por Ashfaq Yusufzai, da IPS
Peshawar, Paquistão – O atentado da semana passada no Paquistão, contra a ativista adolescente Malala Yousafzai foi uma tentativa do movimento islâmico Talibã de silenciar quem representa uma fonte de inspiração para as estudantes do Vale de Swat. Foi o que afirmou Shazia Begum, uma das outras três jovens que também ficaram feridas no ataque do dia 9. “Ela nos incentivou a prosseguir os estudos quando era proibido pelo Talibã”, disse à IPS no hospital militar de Peshawar, onde foi internada.
Malala, de 14 anos, se recupera no hospital de Rawalpindi dos ferimentos a bala que recebeu. “Seu artigos na BBC (rede britânica de rádio e televisão) nos deram esperança e aumentaram nosso amor pela educação. Foi por ela que milhares de meninas foram à escola apesar da oposição do Talibã”, contou Shazia.
O ministro da Informação da província de Khyber Pakhtunkhwa (KP), Mian Iftikhar Hussain, disse à IPS que Malala ajudou o governo a atrair meninas para a escola quando o Talibã tentava fechar a porta da educação para elas. Apesar de estar entre os alvos desse grupo, Malala nunca deixou de ir à escola, e foi um incentivo para as estudantes do atribulado Vale de Swat, acrescentou o ministro.
Swat é um dos 25 distritos de KP, esteve sob controle do Talibã entre 2007 e 2009. Nesse período, o movimento islâmico destruiu cerca de 500 escolas e privou aproximadamente 80 mil meninas de prosseguirem seus estudos. Os membros do Talibã foram expulsos da zona após uma ofensiva militar em 2010. “O Talibã pendurava todos os dias nos postes de eletricidade os corpos dos oponentes que executara”, disse à IPS a legisladora Bushra Gohar. “Os residentes de Swat ficavam calados com medo das represálias, mas Malala foi uma bênção, não só para os homens, mas também para as mulheres”, acrescentou.
O presidente do partido político progressista Paquistão Tehreek Insaf, Imran Khan, que visitou Malala no hospital no dia seguinte ao atentado, opinou que ela é mais valente do que todos os homens. “Quando todos hibernaram por medo do Talibã, ela permaneceu firme e foi um raio de esperança para suas companheiras”, ressaltou. As críticas diretas de Malala aos integrantes do Talibã lhe valeram a ira do movimento, mas ela se negou a ter segurança pessoal, o que revela seu inigualável valor, insistiu o político.
As ameaças contra Malala aumentaram de forma exponencial quando ela recebeu, em dezembro de 2011, o Prêmio Nacional da Paz para a Juventude, em reconhecimento por seus serviços à educação e à paz. Também foi a primeira menina paquistanesa a ser indicada para o Prêmio Internacional da Paz para a Infância.
Malala uniu-se ao seu pai, Ziauddin Yousafzai, educador e ativista social, para apoiar o acordo de paz com o Talibã de 2009. Mas em lugar de deporem as armas, os islâmicos começaram a operar a partir do vizinho distrito de Buner. Ela e sua família estiveram entre os refugiados pela violência. Malala escreveu sob o pseudônimo de Gul Makai um diário em forma de blog para o site em urdu da rede britânica BBC, contando sua experiência nesse período.
O ministro da Informação anunciou uma recompensa equivalente a US$ 105 mil por informações que levem aos responsáveis pelo atentado contra Malala. Hussain também disse que o governo de KP assumiu todos os gastos de seu tratamento médico no país e no estrangeiro. “Rastrearemos o terrorista que disparou contra Malala e levaremos os responsáveis à justiça. Não sobreviverão muito mais”, enfatizou Hussain, afirmando que os ataques de combatentes do Talibã contra crianças é um sinal de debilidade e desespero. O governo oferecerá proteção à sua família porque pode ser alvo de um ataque terrorista a qualquer momento, informou.
Estudantes de toda a província de KP ficaram emocionados com o atentado contra Malala. Houve uma onda de manifestações contra o Talibã. “Estamos profundamente comovidos pelo ataque a Malala, nossa irmã”, disse à IPS Spogmay, estudante da Escola Modelo Universitária de Peshawar, para mulheres. “As seguiremos na luta contra a insurgência e na proteção das escolas”, acrescentou. Em uma manifestação de protesto e com um cartaz condenando o atentado, a jovem destacou que os estudantes permanecerão firmes em sua luta para salvaguardar suas escolas. Os talibãs poderão atirar bombas contra as escolas, mas não atingirão a convicção das estudantes, acrescentou.
O Talibã é responsável por vários ataques contra escolas de KP e das vizinhas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata) desde 2008. “Os que recebem educação moderna e aprendem inglês na escola não são muçulmanos. A educação de meninas não é permitida pelo Islã, portanto, o Talibã não permitirá as escolas”, disse à imprensa o porta-voz do movimento Ihsanullah Ihsan. “As escolas são destruídas com explosivos durante a noite”, disse à IPS o ministro da Educação de KP, Sardar Hussain Babak.
O ministro também anunciou a construção de cem escolas para cada uma destruída pelos talibãs. O governo destinou US$ 460,4 milhões para promover a educação nos próximos dois anos. As autoridades estão especialmente dedicadas a promover a educação feminina, pontuou Babak. “Estamos dando mais atenção a elas porque sofrem nas mãos de combatentes do Talibã”, ressaltou.
Cerca de 200 escolas danificadas pelo Talibã foram reconstruídas em Swat, enquanto em outras regiões as aulas são dadas em barracas. As escolas desta província fecharam no dia 12 em solidariedade a Malala e para rezar por sua rápida recuperação. Envolverde/IPS
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