POR LUCIANA SADDI
A neurose obsessiva foi isolada dos diversos sintomas psiquiátricos por Sigmund Freud, entre 1894 e 1895. Foi por ele compreendida como um quadro psiquiátrico autônomo e independente, da família das psiconeuroses. Portanto, originada no mundo mental, pelo psiquismo. Caracteriza-se por ideias estranhas e incontroláveis que atormentam incessantemente o sujeito e por constante luta contra esses mesmos pensamentos. Também se apresenta pela compulsão a realizar atos indesejáveis, rituais esconjuratórios e por um modo de pensar ruminante. Dúvidas e escrúpulos que levam a inibição do pensamento e da ação também fazem parte do quadro.
A neurose obsessiva se forma quando conflitos irremediáveis, recheados de afetos intensos e simultâneos de amor e ódio surgem e não se resolvem. Dá expressão à necessidade de controlar a vida pulsional, mas como é característico das formações sintomáticas, o tiro sai pela culatra e a defesa se torna adoecimento.
Os mecanismos de defesa mais evidentes nesta neurose são: o deslocamento de afetos para ideias distantes da que originou o conflito, o isolamento e a anulação.
Imagine que uma jovem sensível tenha assistido a uma discussão entre seu pai e sua avó. No calor do embate, ao defender a avó, a jovem tropeça e derruba a velha senhora, que quebra a perna. A jovem fica horrorizada, jamais quis machucar a avó. Poucos dias depois intercala a palavra: “desculpa”, em todos os inícios de frase. Passado mais um tempo, lava as mãos incessantemente, logo depois de falar, “desculpa”.
Para o inconsciente não existe o sem querer – por isso a moça falava desculpa e, ao mesmo tempo, lavava as mãos para se livrar da culpa. A ideia de ter sido agressiva foi isolada e a culpa assumida e anulada ao mesmo tempo. Ao interpretamos um complexo conjunto de sintomas, o modo de funcionar do psiquismo se evidencia.
Os psicanalistas hoje falam mais de estrutura mental obsessiva, do que de transtorno, o famoso TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Sabemos que a necessidade de ordem e limpeza constante, a dúvida sobre ter sido bom ou mal, a ambivalência dos impulsos, o ódio reprimido e as tentativas de controlar a realidade pelo pensamento, além de outros traços da personalidade, podem ser compreendidos pela tal estrutura mental obsessiva; que convenhamos se espalha na população em geral.
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