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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Rotina de mãe de UTI tem lágrimas e aplausos

Barrigudos



No dia 21 de julho ganhei duas identidades: virei mãe do Matias e uma mãe de UTI. Eu quis muito ser mãe do Matias. Mas não desejaria nem ao meu pior inimigo que ele se tornasse uma mãe de UTI.

Uma mãe começa a ser de UTI quando vê seu filho na incubadora pela primeira vez. Não é fácil. O bebê está cheio de fios, com as mãos roxas por conta das picadas de agulha e com tubos que nem deixam a gente ver o rostinho dele.
Depois tem a primeira vez no banco de leite. Em geral, as mães estão de cadeira de rodas, recém-operadas, usam pijamas de flanela e os olhos estão vermelhos de tanto chorar. A primeira coisa que nos sugará não é a boquinha de um bebê, mas uma bomba elétrica. Algo nada charmoso.
No hospital onde estamos, as cinquenta mães com bebês na UTI possuem uma sala de apoio para elas. Lá temos tevê, oito poltronas, um banheiro, uma geladeirinha e armários. Aliás, quando ganhei a chave do meu armário é que percebi que a estadia do Matias não seria tão breve e eu tinha me tornado uma mãe de UTI.
Ser mãe é padecer numa sala de apoio. Ela pode ser algo apaziguador ou depressivo. Tudo depende do clima das mães que estão lá. Se todas tiveram progresso com seus bebês no dia, rola até piada. Se algum bebê piorou, o ar fica denso.
Passamos cerca de doze horas no hospital todos os dias. Uma das mães que encontrei por aqui tem até um bordão: “Isto é pior que um emprego”.
Falando em emprego, há vários chefes que telefonam ou mandam e-mails cobrando as mães sobre finalizações de trabalho, informações ou até mesmo reuniões. Geralmente os prematuros chegam de surpresa, o que não dá muito tempo para as mães se desligarem adequadamente do trabalho. Por outro lado, os chefes não têm ideia do que é a rotina de uma mãe de UTI. Foi engraçado presenciar algumas mandando seus superiores à *&%#@. A prioridade número um de uma mãe de UTI é o seu bebê.
As mulheres nesta situação contam os sucessos em pequenas medidas: quantos mililitros de leite o bebê passou a mamar e quantos gramas ganhou em peso.
Na UTI, nenhuma de nós sabe onde a outra mora, no que trabalha ou quantos dígitos há na sua conta bancária. Mas sabemos os detalhes dos partos e as informações de seus bebês, como peso, altura, procedimentos que fez, medicações que toma.
A maioria de nós não teve chá de bebê, não veio com mala de maternidade pronta, não tinha o enxoval completo, nem o quarto do bebê totalmente arrumado. E nada disso fez diferença. Os bebês não usam roupas na incubadora e não voltam conosco para casa.
Somos conhecidas pelo primeiro nome e como mãe de nossos filhos. Aqui sou “Maria-Rita-mãe-do-Matias”.
As mulheres nesta situação têm muito em comum e enfrentam um tsunami emocional diário. Não há um dia em que não se chore, seja de alegria ou tristeza.
O pior que pode acontecer é a perda de um bebê. Nesta hora, todas choramos. Pelo bebê que se foi, pela mãe e por medo que aconteça conosco.
Mas existe o momento da consagração, que é a ida do bebê para casa. Há até um ritual de celebração: os funcionários e as mãe de UTI fazem um corredor polonês e a mãe e seu bebê são aplaudidos enquanto saem. Mas não é um aplauso curto, um aplauso de parabéns. É um aplauso longuíssimo, misturado com muitas, muitas lágrimas. Parece algo tribal, como se toda a aldeia de mães festejasse a vitória daquele bebê e invocasse as próximas.
Não vejo a hora de isso acontecer comigo.

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