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domingo, 2 de fevereiro de 2014

“O medo de morrer é que supera a retaliação que as mulheres do Marajó sofrem nas situações de violência”, avalia coordenadora da SPM


31/01 – “O medo de morrer é que supera a retaliação que as mulheres do Marajó sofrem nas situações de violência”, avalia coordenadora da SPM
Ao lado de Amelinha Teles e das marajoaras, Luana Grillo (centro) mantém diálogo sobre a Lei Maria da Penha e outros direitos da mulher Foto: Raquel Lasalvia/SPM
Responsável pelo Fortalecimento da Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, Luana Grillo fornece mais impressões sobre demanda de ribeirinhas relacionada a serviços públicos e acesso à justiça
 
Acesse o Diário de Bordo – Mulher, Viver sem Violência, onde você pode escutar entrevistas com as ribeirinhas no programa Via Maria da Rádio Nacional da Amazônia
 
Confira aqui a galeria de fotos do Flickr SPM (alta resolução)
 
Duas semanas de operação do programa ‘Mulher, Viver sem Violência’ nas águas do Pará. A primeira incursão com a agência-barco Caixa Ilha de Marajó, que se prossegue até a próxima quinta-feira (06/02), já percorreu seis dos nove municípios marajoaras inseridos na rota: Ponta de PedrasSalvaterraSoureMuanáSão Sebastião da Boa Vista e Curralinho. A partir desta segunda-feira (03/02), o barco segue a caminho dos três últimos a serem visitados: Bagre, Melgaço e Portel.
 
Com equipe técnica da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) e a advogada feminista e formadora de Promotoras Legais Populares Amelinha Teles, ribeirinhas do Marajó têm participado de rodas de conversas e colaborado com o diagnóstico sobre a realidade da violência de gênero na região e acesso das mulheres à justiça.
 
No balanço da operação, a coordenadora-geral de Fortalecimento da Rede de Atendimento da SPM, Luana Grillo, elenca como primeiras impressões: a necessidade de articulação dos serviços públicos para atender as vítimas da violência, a formação e a qualificação de profissionais sobre a Lei Maria da Penha e o enfrentamento à violência e, por fim, a sensibilização e informação da população sobre direitos das mulheres à não violência.
 
“Conseguimos falar com as mulheres nas sedes dos municípios, mas não chegar às vilas mais distantes. Mas temos o panorama da realidade, marcado pelo pacto de silêncio. Muitas vezes, a mulher entende a situação de violência, porém não confia nos serviços públicos. O medo de morrer é que supera a retaliação que elas sofrem. Por isso, entendemos que é preciso organizar a retaguarda”, avalia Luana Grillo.
 
Relações de gênero na escola – Professora de educação infantil em Salvaterra e estudante de Pedagogia da Universidade Estadual do Pará, Nilma de Fátima percebe possibilidades de mudança na socialização de crianças e de aspectos fundantes do sexismo. “Ainda tem aquela questão: que homem pode bater, e a mulher apanhar. A gente trabalha muito isso. Fazemos as dinâmicas. Antigamente, se trabalhava muito a criança separadamente. Menino pra cá, menina pra ali. Hoje não. Já existe essa dinâmica que vai juntar e faz com que eles se socializem”, explica. 
 
Porém, é contundente em denunciar a falta de acesso das mulheres a direitos e à justiça. “A Lei Maria da Penha, em si, hoje em dia a gente não vê sendo aplicada na nossa cidade. Muito raro a gente vê um homem sendo preso por ter espancado uma mulher. Geralmente, as mulheres daqui, eu acho, têm uma visão muito fechada”, completa a professora.
 
Superação da violência – Pescadora, artesã e mãe de quatro filhos, Patrícia Ribeiro é moradora da Vila do Pesqueiro, em Soure. Superou a violência sexista e hoje atua no apoio a mulheres. “Temos, de vez em quando, na comunidade, um caso de agressão do marido batendo na mulher. Eu já sofri muito isso, com meu primeiro marido, pai dos meus quatro filhos. Eu já fui violentada. A comunidade toda sabia, mas, graças a Deus e a uns amigos, eu me libertei”, conta.
 
Numa espécie de trabalho cooperativo, que teve apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para a estruturação das atividades de pesca, artesanato, gastronomia e produtos fitoterápicos, Patrícia trabalha na Associação de Mulheres da Vila do Pesqueiro com outras 74 participantes. Sua atuação, revela, é para o “empoderamento, que nós, como mulheres, temos que ter dentro da sociedade, buscando política pública para que a gente possa sair da mesmice que a gente vivia, tentando mostrar para os nossos companheiros que a gente não é só mulher para o fogão, para tratar o peixe, e sim para viver na sociedade como todos”.
 
Confira a íntegra dos depoimentos da professora Nilma de Fátima, da pescadora Patrícia Ribeiro e de outras mulheres do Marajó no Diário de Bordo – Mulher, Viver sem Violência.
 
Justiça às mulheres – A tolerância zero à violência de gênero e à impunidade dos agressores é um dos objetivos principais da presidenta da República, Dilma Rousseff, que determinou a criação do programa ‘Mulher, Viver sem Violência’, para intensificar os esforços do governo federal e parceria no enfrentamento à violência sexista. Soma-se ao Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, ambos sob a coordenação da SPM.
 
O programa articula ações para facilitar o acesso das mulheres em situação de violência a direitos e serviços públicos de segurança pública, justiça, saúde e atendimento psicossocial às mulheres em situação de violência, a serem concentrados na Casa da Mulher Brasileira que funcionará uma em 26 capitais do país.
 
Um dos diferenciais do ‘Mulher, Viver sem Violência’ é o investimento na mobilidade dos serviços especializados por meio de unidades móveis rodoviárias – 54 ônibus, sendo dois por unidade federativa para atender mulheres do campo e da floresta – e agora fluvial. São cinco embarcações com a prestação de serviço do programa a estarem em funcionamento até o final do ano: três agências-barco da Caixa e dois barcos da SPM.

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