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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Aprenda a parar e cultive mais lucidez | 23 dias para um homem melhor #2

"Aprender a meditar é o maior presente que você pode se dar nessa vida." –Sogyal Rinpoche

Guilherme Nascimento Valadares
Mecenas, 23 dias para um homem melhor, Mente e atitude

Digamos que a mente seja como uma casa. Antes de ser decorada, a casa precisa ser limpa, senão você estará apenas realçando a bagunça. Em uma casa limpa, a verdadeira beleza da decoração pode se destacar.

As linhas acima não são minhas, elas estão na abertura do livro Felicidade Incomum – o caminho do guerreiro compassivo. O raciocínio do livro segue ao falar sobre as cinco emoções aflitivas que fazem todos nós sofrer: apego, raiva, orgulho, ciúme e ignorância.

Que atire a primeira pedra aquele cuja mente estiver livre de todas as cinco.

Essa sujeira emocional está presente em todos, em diferentes medidas, e contamina nossas ações mais do que podemos imaginar. É como andar por aí dirigindo um carro com o vidro sujo de barro, poeira, penas de pássaros e restos de comida.

As chances de atropelar alguém ou sofrer algum acidente são bem maiores do que se estivéssemos dirigindo com os vidros limpos, não? Pra piorar, nossa mente não é como um carro usual, que responde obediente a nossas ordens. Ela tem uma caixa-de-marchas-surpresa, você tenta engatar a primeira, mas às vezes pula direto pra terceira ou cai na ré.  

Há uma distância considerável entre o que pensamos, o que efetivamente fazemos e as consequências que nossas ações causam, em relação ao que tínhamos planejado. Não é necessário nenhum estudo ou palestra do TED pra comprovar isso. Um único dia é rico em exemplos suficientes de como muitas vezes parece haver um estranho dentro de nós, nos fazendo agir de modo absurdo.

Dia após dia, levamos sustos com os disparates que somos capazes – ainda que nos tornemos experts em disfarçar e manter a pose de que cada passo é dado sob controle.



É mais ou menos como esse vídeo nossa mente...

Proponho então, para estabelecer vocabulário comum entre nós, chamarmos essa sujeira e confusão mental como falta de lucidez. Essa falta se origina em visões de mundo equivocadas e padrões habituais de comportamentos nocivos que estabelecemos ao longo de nossas vidas. Por vezes chegamos a nos orgulhar deles, nos apegamos às nossas confusões e passamos a tratá-las como se fossem apenas um traço charmoso de personalidade.

É comum vermos pessoas brutas que se afirmam sinceras demais. Pessoas sem nenhuma capacidade de concentração e foco, que dão uma piscadela ao dizer que sofrem de DDA ou são hiperativos (diagnóstico que pode ter sido dado por um médico apressado em receitar algo pra "resolver" logo o paciente). Pessoas profundamente críticas com os outros e, pior, com elas mesmas, que se consideram só antissociais e um tanto melhores do que o resto.

Justificativas às quais podemos nos escorar toda uma vida, sem jamais considerar a possibilidade de uma mente mais lúcida e livre de aflições. Temos dificuldade em desfazer impressões que criamos sobre nós mesmos e largar vícios mentais.

Iniciar esse processo de limpeza não depende de terceiros, ainda que procurar ajuda de psicólogos e outros profissionais possa ser super benéfico.

Podemos começar já, com as próprias mãos.

O amadurecimento, nesses casos, parece vir a conta gotas e de modo bastante doído. E sim, o sofrimento tende a ser um excelente combustível para a transformação. Mas será que não conseguimos acelerar esse processo? Penso que sim, e para tanto proponho um exercício simples.

Medite 10 minutos por dia durante 10 dias

O "23 dias para um homem melhor" não é um percurso composto da leitura de 23 textos. Os artigos são fagulhas, estão aqui apenas para dar contexto e motivar vocês a praticar, a experimentar algo específico.

Ação.

A de hoje é simples. Desafio vocês a pararem por dez minutos durante dez dias, sem falhar nenhum dia.

Aqui o passo-a-passo detalhado em textos, de bandeija – "Para começar a meditar" – e em vídeo:



Para sentar, sugiro três opções: 

- numa almofada de meditação, às vezes chamada de zafu; se não tiver uma em casa, pode improvisar com uma almofada mais dura, que te dê um bom suporte

- deitado na posição do cadáver (savasana)

- ou sentado na ponta de uma cadeira

Aqui uma foto explicativa, com várias opções:


Não é recomendado sentar com as mãos para cima, como vemos em muitas fotos por aí ou cenas de filmes. A mão deve encontrar uma posição em que ajude o conjunto a se sustentar, sem grande esforço.

Aqui a posição birmanesa com a pessoa sentada num zafu
E aqui a posição do cadáver, savasana; é ideal que o olho
fique entreaberto – o olho fechado pode fazer com que você

Você pode ver instruções mais específicas sobre qual postura adotar ao sentar aqui. 

No começo sentar pode ser difícil e te deixar dolorido. Mas com a postura correta e o hábito, se torna algo bastante fluido. O corpo parece encontrar sustentação em si mesmo.

A meditação é uma prática associada a diferentes tradições ao longo dos tempos. Não significa parar os pensamentos ou adotar uma religião, você pode encarar esse desafio dos dez dias como uma prática secular. Meditar é se familiarizar com a natureza da mente e dos nossos pensamentos, para não sermos tão reféns do que nos acomete.

Por meio dela vamos cultivar relaxamento e estabilidade, bases importantes para nos tornarmos mais lúcidos

Gostaria muito de ler nos comentários desse texto, ao longo desses vinte e três dias, sobre a experiência de vocês.

Grande abraço!

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