Nosso corpo tem muitas necessidades que subestimamos. Uma delas é o toque.
Alberto Brandão
Corpo são, Mente e atitude, Relações [+]
23 dias para um homem melhor
É surpreendente como subestimamos as necessidades do próprio corpo. Lembramos de lavar o carro, limpar os tapetes e passar o pretinho nos pneus, mas esquecemos de cortar e lixar nossas unhas.
Nossa relação de cuidado com bens materiais tende a ser maior que o zelo que temos com nosso bem mais precioso, o corpo.
Não é uma questão apenas de comer melhor ou fazer exercícios. Podemos limpar nossas unhas e eliminar sujeiras que podem trazer doenças, por exemplo. Criar o hábito de usar o fio dental, passar perfume, alongar quando acordar, proteger a pele dos danos causados pelo sol e outros tantos pequenos atos, que por mais simples que pareçam mudam completamente a forma como enxergamos nós mesmos. Mas, em geral, não passamos muito disso.
Se você é maior de idade, talvez lembre da primeira vez que trocou do banco do carona para assumir a direção. A distância não é fisicamente grande, mas apenas por assumir o controle daquela máquina, você adquire uma visão diferenciada, mais ampla e consciente. As ruas assumem novas dimensões e os sinais que o mundo envia agora são mensagens claras, que muitas vezes precisam de resposta. Essa é a mudança que sentimos quando assumimos responsabilidade sobre nosso corpo e nossos movimentos.
Observe uma criança e as direções para as quais ela se movimenta. Desprovida de julgamento social, ela sobe nas coisas, se joga no chão e sente integralmente o resultado de cada ação.
Um bebê raramente está brincando enquanto pensa num evento futuro, para ele só existe aquele momento, e ele é bem importante. Como adultos, podemos buscar essa pureza de instinto, utilizar da experimentação para retomar uma visão que fomos deixando de lado com o passar dos anos e o surgir das responsabilidades. Podemos buscar lugares onde a exploração do movimento se torna possível, como em parques públicos. Nos pendurar em árvores, rolar no chão com nossos filhos e caminhar descalço pelo gramado.
Com a loucura da vida moderna, esquecemos como é sentir as coisas, absorver informações sensoriais e captar sua mensagem. Passar a mão na árvore e entender se ela é áspera ou lisa, se a mão escorregaria ou teria aderência. Andar enquanto observamos nossa respiração alterar, sem lutar contra, mas compreendendo a relação causa e efeito. Homens, em especial, costumam ter uma aversão muito grande ao toque, em especial quando vindos de outros homens. É quase como se houvesse uma criminalização do afeto.
No entanto, por mais que tenhamos atrofiado, de certa forma, nossa capacidade de percepção dos aspectos sensoriais do corpo, a maior parte das mensagens que transmitimos aos outros é feita sutilmente, de maneira não-verbal. O pesquisador Albert Mehrabian, autor de Silent Messages, concluiu depois de conduzir uma série de estudos em comunicação não-verbal que 7% da mensagem é transportada através de palavras, 38% através de elementos vocais, 55% por elementos não vocais, como gestos, expressões e postura.
Use o toque para falar
Dentre todos os elementos de comunicação que possuímos, um dos mais subestimados é o toque.
Num estudo realizado por Matthew Hertenstein, da Universidade de DePaw, pessoas que não podiam se ver, mas que podiam se tocar conseguiram identificar sentimentos como raiva, medo, amor, gratidão e simpatia 75% das vezes.
Quando tocamos outra pessoa, nosso corpo dispara ocitocina, um hormônio produzido pelo hipotálamo que, dentre todas suas funções, também estimula apego e empatia entre as pessoas. Casais que foram submetidos a um caloroso exercício, nos quais tocavam o pescoço, ombro e mãos um do outro, apresentaram maiores níveis de ocitocina do que casais que não foram submetidos ao mesmo exercício. Da mesma forma, mulheres que disseram receber abraços frequentes de seus parceiros, apresentaram maior quantidade do hormônio em seu sangue, quando comparado com mulheres que afirmam receber menos abraços.
Toques também ajudam a transmitir outros sentimentos como confiança, compreensão e apoio. É fácil recordar uma situação onde pretendíamos tomar alguma atitude e alguém apenas nos tocou no braço, deixando a clara mensagem de que não deveríamos seguir. Ou quando um chefe passa e dá dois tapinhas no seu ombro, encorajando o trabalho que vem executando.
Um estudo recente examinou a troca de toques – contato físico, não toque de bola – de 294 jogadores em 30 times da NBA, a liga americana de basquete profissional, durante os dois primeiros meses da temporada 2008-2009. O estudo considerava contatos como toques de mão, tapinhas na cabeça e abraços entre dois ou mais jogadores que estivessem comemorando uma jogada positiva, que tenha beneficiado o time. Os pesquisadores relacionaram a frequência desses contatos físicos com o desempenho dos times durante o resto da temporada da NBA. Os resultados mostraram que os toques demonstrados no começo da temporada conseguiram prever o desempenho dos times ao longo da temporada. As previsões se mantiveram consistentes mesmo quando os jogadores foram estatisticamente organizados por salários e desempenhos anteriores.
Em resumo, comemorar sucesso com toques de mão, abraços ou manifestações similares forma times melhores, mais confiantes e que como consequência desempenham melhor suas tarefas.
Lembrando que todos esses estudos estão ligados a situações onde os envolvidos se conhecem e já existe um vínculo estabelecido, uma intimidade que permite esta aproximação e contato. Vale o aviso: não saia tocando as pessoas sem sentir que há espaço para isso.
Para se beneficiar do toque, procure encorajar seus amigos apertos de mão e os clássicos “high fives”. Ao identificar alguém triste ou chateado, tente não dizer nada, apenas toque nos ombros, olhe nos olhos. Deixe sua comunicação não-verbal fazer essa troca.
Pelos próximos dias mantenha isso em mente e coloque seu corpo para falar.
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