Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

domingo, 26 de junho de 2016

De ‘escrava’ na África ao estrelato

Fabíola Perez
27.05.16

Quem vê Michaela no palco, flutuando na ponta dos pés, ou no clipe da popstar Beyoncé, não desconfia do passado dramático da jovem, nascida Mabinty Bangura na África do Sul. Antes dos 5 anos de idade ela perdeu os pais em um ataque de rebeldes, sofreu discriminação por ter vitiligo, foi enviada a um orfanato onde era conhecida apenas como um número, passou dias em um campo de refugiados e de lá foi adotada por uma família americana. Sozinha, e em meio à guerra instaurada em seu país, a garota acalentava o sonho de se tornar bailarina clássica. O desejo nasceu quando, ao revirar o lixo do orfanato, encontrou uma revista velha. “Tinha uma mulher na ponta dos pés, usando sapatilhas cor de rosa”, diz. “Nunca tinha visto uma roupa com tanta beleza. Eu via graça, esperança, amor e tudo o que eu nunca tive. Então pensei: é isso que quero ser.” Assim que chegou a Nova York, nos Estados Unidos, pediu para ser matriculada em uma escola. Aos 17 anos, já estava formada pela Companhia Dance Theatre of Harlem e não demorou para se transformar em referência mundial: hoje é uma das estrelas da Dutch National Ballet, de Amsterdam, uma das melhores companhias de dança do mundo.

A vida dessa jovem de 21 anos daria um filme e já rendeu um livro, “O Voo da Bailarina”, da editora Best Seller, que teve lançamento mundial este mês. Quando Mabinty nasceu, a África do Sul já estava assolada por uma guerra civil há quatro anos. Rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) eram chamados de “devil”, uma mistura de diabo e rebelde. As primeiras memórias da infância são da casa pobre em que vivia com os pais biológicos e dos insultos que sofria do tio. A menina tinha a pele manchada pelo vitiligo, mas como ninguém conhecia a doença, foi apelidada de criança-demônio. O pai morreu na guerra e, a mãe, vítima da febre de Lassa. Mabinty ficou sob responsabilidade do tio que, prontamente, a vendeu para um orfanato. No abrigo, as crianças eram chamadas por números e ela atendia pelo 27. Quando a direção do abrigo soube que seria alvo de um ataque, as crianças foram transferidas para uma casa de refugiados na Guiné. Pouco tempo depois, ela foi adotada por uma família americana.

A nova mãe era Eliane de Prince, que a rebatizou de Michaela. Nos primeiros dias na casa nova, a menina assistiu “O Quebra Nozes” e logo Eliane percebeu a obsessão de Michaela pelo balé. Com o tempo, o estranhamento com o vitiligo começou a desaparecer. Não demorou, porém, para sentir o preconceito contra bailarinas negras. “É um desafio. Não há meninas negras nas companhias de balé”, diz. “É possível até ver mestiças, mas há apenas um ou dois solistas negros nos Estados Unidos. Aos 17 anos, a jovem africana encerrou uma turnê com a companhia Dance Theatre of Harlem, uma conceituada academia de Nova York. Sua história também ficou mundialmente conhecida com o documentário “First Position”, lançado em 2011 e exibido em circuito internacional. Os dois fatos marcaram a consagração de sua carreira. Em 2012, ela foi incluída na lista do Huffington Post como uma das 18 jovens mais surpreendentes do ano. Um ano depois, assinou contrato com uma das mais conceituadas companhias de balé do mundo, a holandesa Dutch National Ballet. Michaela costuma dizer que duas mulheres mudaram sua vida, a mãe Eliane De Prince, e Magali Messac, a estrela do Pennsylvania Ballet, que estampou a capa da revista que a inspirou quando sofria na pele as mazelas da guerra. “A esperança me fez sobreviver na África diante do abuso, da fome, da dor e do perigo. E foi a esperança que me fez ousar sonhar e permitiu que esse sonho alçasse voo.”

IstoÉ

Nenhum comentário:

Postar um comentário