24/06/2016
Inas Nofal treina todos os dias por quatro horas. Seu sonho é se tornar uma corredora famosa. Ela foi convidada a participar da Maratona Anual da Palestina de 2016, mas autoridades israelenses não autorizaram a menina a sair de Gaza.
Quando começou a correr, jovem teve de lidar com preconceito de grande parte de sua própria comunidade — que não concordava com uma mulher se envolvida publicamente em atividades esportivas.
Inas desafiou estereótipos de gênero para mostrar que meninas também podem praticar atividades esportivas. Foto: Tamer Hamam / UNRWA |
Inas Nofal, uma refugiada da Palestina de 15 anos do campo de Al Maghazi, no centro de Gaza, sonha em se tornar uma maratonista famosa. Por mais de nove meses, ela treinou todos os dias por quatro horas, juntamente com sua professora de educação física, Sami Natil, em um terreno baldio dentro do campo de refugiados.
“Meninas podem ser talentosas no esporte e elas são capazes de competir”, disse Inas. “Gaza não é só conflito e destruição, nós também podemos ter sucesso. Eu pratico esportes porque eu quero ser saudável e porque, como uma menina, eu quero provar que consigo.”
Inas participou de uma maratona pela primeira vez em Beit Hanoun, no norte de Gaza, em novembro de 2015, quando ficou em primeiro lugar. Depois da vitória, ela ficou mais motivada e intensificou os treinos para correr na 4ª Maratona Anual da Palestina, em Belém, na Cisjordânia, que aconteceu em abril de 2016.
Inas e outros palestinos de Gaza que sonhavam em participar, contudo, não foram autorizados pelas autoridades israelenses a sair da Faixa de Gaza para o evento.
“Eu fiquei tão empolgada quando recebi o convite para a Maratona da Palestina e, quando eu não consegui a permissão, fiquei desiludida”, contou a refugiada. O bloqueio em Gaza — que chega ao seu 10º ano em junho de 2016 — impõe restrições severas ao movimento de pessoas e bens na pequena faixa litorânea.
Este não é, porém, o único obstáculo que Inas enfrenta. Devido aos valores conservadores e estereótipos de gênero predominantes em Gaza, quando começou a correr Inas sentiu que grande parte da comunidade não concordava com uma menina se envolvendo publicamente em atividades esportivas.
Com o tempo, ela percebeu que isso mudou e que as pessoas se acostumaram às suas práticas esportivas. Hoje, ela é regularmente acompanhada por outras 15 meninas que também almejam participar de maratonas.
“Mudar pensamentos e preconceitos não é algo muito fácil em Gaza, mas não é impossível”, disse a adolescente.
Inas tem o pleno apoio de sua família, que com frequência acompanha seus treinos para vê-la e lhe dar suporte. “Eu apoio a minha filha porque ela tem o direito de praticar esportes como qualquer outra pessoa, além de ser bom para a saúde dela”, contou o pai, Mohammed Nofal.
A adolescente ri ao lembrar do seu primeiro treino, quando ela não conseguia correr por mais de meio minuto. Hoje, ela facilmente corre dez quilômetros se prepara para participar em mais maratonas ao redor do mundo.
“Se você tem um sonho, não tenha medo de segui-lo”, é a mensagem de Inas para as outras meninas de Gaza.
Agência da ONU desenvolve projetos para empoderar mulheres
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) apoia atividades físicas para meninas através de suas aulas regulares de educação física nas escolas e por meio de projetos especiais como o Projeto Esportes Sociais nas Escolas, implementado em parceria com a Fundação Real Madrid.
O projeto busca fortalecer o espírito de equipe e desenvolver habilidades esportivas entre as crianças refugiadas, proporcionando um espaço seguro para atividades recreativas. É implementado em 15 das 257 escolas de Gaza, alcançando 580 estudantes. Desses 15 centros de ensino, oito são para meninas.
A UNRWA também mantém instalações de saúde para meninas e mulheres em Gaza através de seus Projeto Espaços Sociais e Recreativos, implementado pela Iniciativa de Gênero da UNRWA (GI).
No total, a GI apoia atividades em 27 organizações comunitárias na Faixa de Gaza, que promovem aulas de literatura em árabe e em inglês, cursos de artes e teatro, clubes do livro e atividades físicas para fins psicossociais.
Apesar de esportes e atividades recreativas não serem uma solução para a pobreza, a fome, a mortalidade infantil ou doenças, as Nações Unidas os reconhecem como ferramentas poderosas para o avanço do desenvolvimento e dos objetivos de consolidação da paz.
Com espaços, oportunidades e programas específicos para mulheres, a UNRWA as empodera e as estimula a serem mais autoconfiantes e a exercerem papeis proeminentes em suas comunidades.
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