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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Breves considerações sobre a prostituição

*Por Luiza Mançano
1. A prostituição NÃO é uma escolha individual, ela é um modelo e um sistema que garante que o acesso dos homens ao corpo das mulheres
Não devemos, como feministas, falar sobre prostituição como uma escolha individual, pois sabemos que no patriarcado os homens controlam individual e coletivamente o trabalho, o corpo e a sexualidade das mulheres, ainda mais em um contexto de extrema desigualdade social e racial como no Brasil.
2. A prostituição está baseada em um modelo de sexualidade, a partir de uma dupla moral
“A sexualidade masculina é viril, e os homens teriam um desejo insaciável, enquanto as mulheres tem sua sexualidade marcada pela passividade, vinculada mais à reprodução e não ao prazer. A hipocrisia dessa dupla moral sempre tratou a prostituição como algo necessário para preservar a virgindade das “moças de família” e garantir a satisfação dos desejos “insaciáveis” dos homens casados.” [1]
3. A prostituição, como sistema, está organizada para/pelos homens. Homens demandam sexo e homens controlam a prostituição
“Além da demanda por sexo, um grupo de homens organiza a prostituição e se apropria de grande parte do que as mulheres recebem. O mesmo se dá no casamento, onde a contribuição econômica das mulheres é invisibilizada. São mecanismos para parecer que os homens são provedores, no caso do casamento. E um mecanismo de controle e exploração, no caso da prostituição. Mas o objetivo por trás dessa lógica é sempre que as mulheres não tenham autonomia.” [extraído da cartilha da SOF: Prostituição – uma abordagem feminista]
4. Corpos e sexualidade como mercadoria
É uma contradição lutar contra o neoliberalismo econômico e defender o neoliberalismo sexual, em que os homens são clientes e sujeitos e podem aceder ao corpo das mulheres como mercadorias e objetos. É falacioso colocar o debate da prostituição a partir de uma ideia neoliberal de escolha individual em um marco de desigualdade econômica e de direitos.
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Considerando estes quatro pontos, quero dizer que:
Debater a prostituição como estruturante do patriarcado é tarefa do feminismo, e engloba também discutir indústria do sexo, pornografia e tráfico de pessoas;
Nós temos o DEVER de mostrar o que é a prostituição no Brasil, e ela não é uma escolha. É exploração de crianças e mulheres, em sua maioria negras e pobres, que não têm acesso à educação, à uma profissão e aposentadoria. [ver os depoimentos do vídeo Nosso corpo nos pertence?] Usar o exemplo de alguém que decidiu se prostituir depois de ter acesso à universidade, ter uma profissão e até mesmo fazer doutorado em uma das universidades mais elitistas do país é no mínimo ingênuo, embora eu acredite que a palavra certa seja desonestidade.
Na tentativa de glamourizar a prostituição, vocês estão contribuindo para a marginalização de mulheres, primeiro porque distorcem o que é a prostituição, segundo porque não incorporam o que mulheres em situação de prostituição tem a dizer;
E pessoalmente eu fico INDIGNADA que grupos que se dizem feministas se proponham a reforçar a prostituição e o turismo sexual (!!) diante de um megaevento no país, em que ocorre o aliciamento de mulheres e crianças, envolvendo coerção, estupro, tráfico.
Fico pensando qual o recado que nós feministas temos a passar tanto para as mulheres e crianças exploradas sexualmente, quanto para os homens brasileiros e estrangeiros. E eu espero sinceramente de que não seja o recado de que as mulheres e crianças brasileiras estão disponíveis para serem negociadas, exploradas e mercantilizadas.
O debate em torno da prostituição envolve responsabilidade, ainda mais diante de um megaevento como as Olímpiadas que se aproxima.
*Luiza Mançano é militante da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo

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