17/06/2016
Em S.Paulo, palestras e filme relembram autora que fustigou moral burguesa e articulou feminismo, liberdade sexual e luta contra desigualdades. Encontro homenageia vinte anos de sua morte
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Palestras e bate-papo com Maria Cristina Vianna Kuntz e Maurício Ayer
Apresentação do filme India Song
18 de junho, sábado, das 15h às 20h
Inscrições: R$ 60,00
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Há 50 anos, Marguerite Duras publicava um de seus principais romances, O Vice-cônsul, que permanece instigante e atual em sua escritura do desejo, da loucura, da liberdade sexual, da mulher, da política. Seu principal desdobramento é o longa-metragem India Song, obra-prima escrita e dirigida por Duras, em que o enredo é condensado em imagens e sons cindidos, que jamais se fundem. Neste evento, dois especialistas na obra de Duras vão abordar O Vice-cônsul e India Song em palestras e bate-papo, seguidos da projeção do filme (legendado).
No enredo do romance e do filme, um membro do Estado comete crime hediondo e seu superior procura uma saída para abafar o caso e devolver as coisas à “normalidade”, num clima de profunda deterioração moral; do outro lado das cercas e muros que protegem essa elite, assolam a fome, a miséria e doenças como a lepra e a peste. Percebe-se por que o romance O Vice-cônsul, publicado há 50 anos, e o longa-metragemIndia Song, principal filme escrito e dirigido por Marguerite Duras, mostram-se extremamente instigantes e atuais.Para debater essas obras, provocar leituras e aprofundar sua experiência estética, o Espaço B_arco promove, na tarde de sábado, 18 de junho, o evento “Marquerite Duras e a atualidade de O Vice-Cônsul”, 50 anos depois, com palestras e bate-papo com os professores Maria Cristina Vianna Kuntz e Maurício Ayer, doutores em literatura pela FFLCH/USP e especialistas em Marguerite Duras, juntamente com a projeção de India Song. As palestras ocorrem a partir das 15h e o filme (legendado) será exibido a partir das 18h.
Publicado em 1966 pela editora Gallimard, “O Vice-cônsul é o centro de uma trilogia conhecida como ‘O ciclo das Índias’, que inclui também Deslumbramento e O Amor”, afirma Maria Cristina Vianna Kuntz, que estudou essas obras em seu livro Marguerite Duras: trajetória da mulher, desejo infinito (Ed. Baraúna, 2014). Composto em várias camadas narrativas, com grande virtuosismo de escrita, o romance conta a história do vice-cônsul da França em Lahore, na Índia, a partir de diversos pontos de vista, que revelam sua loucura juntamente com um insustentável estado de coisas, que Duras costumava sintetizar como “o fim do mundo”.
No enredo, o vice-cônsul, incapaz de “esquecer” ou se acostumar com a situação de miséria e degradação social que se alastra, atira contra mendigos leprosos da sacada de sua residência, depois atira contra os espelhos, numa espécie de “suicídio sem morte”. A classe colonial – chamada de “Índia Branca” – fica escandalizada e procura escondê-lo, mas o vice-cônsul vai a uma recepção na Embaixada para se aproximar do objeto de seu louco amor, a esposa do embaixador, conhecida por seus muitos amantes.
A cena do baile na Embaixada será amplificada em India Song, o livro publicado em 1973 e o filme lançado em 1974. “É uma obra única em seu gênero”, explica Maurício Ayer, autor de Música meu amor: orquestrações de literatura, teatro e cinema em Marguerite Duras (Ed. Publisher Brasil, 2014). “Duras descreve seu livro como um ‘texto teatro filme’, ou seja, uma obra que funciona ao mesmo tempo como romance, peça de teatro e roteiro de cinema”. Já India Song desenvolve diversas experimentações de linguagem, como a separação radical entre as imagens visuais e as camadas sonoras, além de personagens que só existem como vozes.
Conhecer e debater essas obras é uma maneira de se acessar dimensões ainda pouco exploradas da obra de Marguerite Duras, autora à frente de seu tempo. Sua obra é atual, por várias razões. Primeiro, porque vários de seus temas são arquetípicos e transcendem a história – tais como o amor, a loucura, a sensualidade feminina, a devassidão sexual, a ignomínia do poder. O que mais causa espanto, porém, é que a Índia imaginária criada pela autora permite analogias atrozes com o mundo de hoje. Não apenas em razão do colapso que vivemos no sistema político e social brasileiro, mas principalmente por uma leitura mais ampla da situação global, num momento em que 70 famílias detêm metade da riqueza global e um continente inteiro, como a África, é condenado à miséria e ao caos social.
O evento também marca os 20 anos do falecimento de Marguerite Duras, no dia 3 de março de 1996, aos 81 anos.
Sobre os Palestrantes
Maria Cristina Vianna Kuntz fez a graduação em Português, Inglês e Francês na Universidade de São Paulo, onde realizou mestrado (“Ficção e História em La Ronde de nuit de Patrick Modiano”, 1997), doutorado sobre Marguerite Duras (2005) e onde atualmente realiza pós-doutorado (DTLLC). Professora e pesquisadora na PUC-SP (Cogeae, de 2003 a 2013). Publicou muitos artigos em revistas literárias e participa de Congressos nacionais e internacionais. Entre os mais importantes estão os colóquios Duras em Louvain, Bélgica (2006); Götenborg, Suécia (2007); Bellingham, Estados Unidos (2011) e Montreal, Canadá (2012); o Colloque Proust 2011, na USP; os Congressos da ABRALIC, ABPF, Vertentes do Fantástico (UNESP 2009, 2011, 2013) e na Sorbonne (2013) Congrès International de Littérature Comparée (IALC). É membro da Société Internationale Marguerite Duras, com sede em Paris. Em 2014 publicou sua tese de doutorado: Marguerite Duras, trajetória da mulher, desejo infinito (Ed. Baraúna). Em 2014, juntamente com Mauricio Ayer e o dep. Francês da FFLCH-USP, organizou o Colóquio Internacional Centenário de Marguerite Duras.
Maurício Ayer realizou pós-doutorado em Literatura Francesa na FFLCH/USP, é doutor na área por esta mesma universidade (bolsas da Capes e CNPq), com especialização na Université de Paris 8 (bolsa Région Île de France), e bacharelado em Composição e Regência pela FASM. Dedica-se ao estudo da obra de Marguerite Duras desde 2002. Sua tese de doutorado aborda os cruzamentos entre música, literatura, teatro e cinema na obra durassiana, publicada no livro Música meu amor: orquestrações de literatura, teatro e cinema em Marguerite Duras (2014, Publisher Brasil). É organizador (com Maria Cristina Kuntz) do livro Olhares sobre Marguerite Duras (2014, Publisher Brasil).
Membro da Société Internationale Marguerite Duras, apresentou trabalhos nos colóquios internacionais Marguerite Duras de Göteborg, Suécia (2007), Montréal, Canadá (2012) e São Paulo (2014). Foi membro da Comissão Organizador deste último, que envolveu palestras de debates na USP e no Mackenzie, e mostra de cinema na Cinemateca Brasileira e Cinusp, da qual foi o curador responsável.
Em 2009, foi curador da mais completa mostra de cinema dedicada à obra de Duras organizada no Brasil (Marguerite Duras: escrever imagens), com 16 filmes da autora, com temporadas no Rio de Janeiro (Caixa Cultural), Porto Alegre, Salvador , Belo Horizonte (Palácio das Artes) e São Paulo (CineSesc). Em 2007, organizou juntamente com Dominique Fingermann (Campo Lacaniano) jornada sobre Marguerite Duras, e em 2010 ministrou curso sobre o cinema de Duras na Escola Freudiana de Belo Horizonte.
Além de pesquisador e professor na área de literatura francesa, Maurício Ayer é escritor, tradutor, editor e consultor em cachaça, entre outras atividades. Coautor (com Camila Frésca) de Música nas Montanhas: 40 anos do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão (2010), entre outras publicações.
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