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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Homem agressor sabe identificar mulheres mais frágeis, diz psicóloga

Maura Secco é coordenadora da Casa Eliane de Grammont, em SP.
Medo e vergonha são dificuldades para a recuperação da vítima, diz.


Clara Velasco
Do G1, em São Paulo05/08/2016
Psicóloga Maura Secco (Foto: Fabio Tito/G1)
Psicóloga Maura Secco traça perfil psicológico do agressor (Foto: Fabio Tito/G1)
Homens agressores identificam e escolhem mulheres mais frágeis emocionalmente, o que dificulta a saída delas de relacionamentos violentos. É o que diz a psicóloga Maura Secco, coordenadora do Centro de Referência à Mulher Casa Eliane de Grammont, em São Paulo (SP). O serviço é ligado à prefeitura e presta atendimento a mulheres vítimas de violência.



"Os agressores tem um 'feeling', uma sensibilidade para perceber a mulher que tem uma fragilidade maior emocional, e a permanência na relação tem a ver com isso", diz a psicóloga. Secco destaca, porém, que essa questão não deve ser interpretada como se a mulher tivesse culpa pela relação ou pela violência que sofre, mas somente que a sua fragilidade emocional faz parte de um perfil geralmente escolhido pelos agressores.
A psicóloga destaca que também existem certos perfis de agressor, que se repetem em vários casos. O primeiro é o homem que é agressivo em várias esferas da sua vida – não apenas dentro de casa. "É aquela pessoa que briga no trabalho, arruma encrenca com todo mundo, no boteco bate e ameaça outras pessoas, já agrediu a mãe, a ex-mulher", diz Secco.
O outro perfil é aquele que, segundo ela, é mais dificil de ser identificado pelas pessoas de fora da relação. "É aquela pessoa que é o homem perfeito fora de casa. É educado, é gentil com todo mundo. E há uma grande dificuldade de a mulher pedir ajuda. Quando ela finalmente consegue falar pra alguém, é desencorajada. Ouve: ‘ah, mas casamento é assim mesmo, espera um pouco que melhora'", diz.
Maura Secco (Foto: Arte/G1)
Secco conta que um comportamento comum entre os homens agressores é acusar constantemente a mulher de traição, o que mostra a insegurança deles no relacionamento. "Se ela não quer mais ter relação sexual, ele nem para para pensar que ela pode não sentir mais prazer por uma pessoa que lhe bate. Ele começa a ligar isso ao fato de que ela está com algum homem fora de casa", afirma.
Ciclo da violência
Segundo a psicóloga, existe um ciclo da violência doméstica. "Tem o momento da sedução, em que você conhece o parceiro. Ele é a melhor pessoa do mundo, é gentil, educado. Mas, no dia a dia, você vai notando algumas diferenças. Você se decepciona, vê o defeito do outro, o outro vê seu defeito", diz.
Esse início, segundo Secco, acontece em todos os tipos de relacionamento. A diferença é que, na relação violenta, isso vai caminhando para uma agressão – seja ela física ou psicológica. "Ele começa a ser agressivo verbalmente, menospreza a mulher todo o tempo, cobra coisas. ‘Ah, a comida não está pronta. Você está gorda, se acabou, está feia’. E isso não só no momento de briga, mas no dia a dia, até culminar em agressões mais pesadas."
Depois, a sequência é o agressor pedir desculpa e dizer que errou. Assim, o ciclo volta ao início, passando novamente pelo processo de sedução. "Chamamos esse período de ‘lua de mel’. É onde fica tudo bem, o que leva a mulher a sentir que pode recuperar a vida que tinha, que ele mudou", diz Secco. "A mulher dá mais uma chance para a relação. Afinal, várias coisas estão em jogo: o casamento, os filhos, o desejo de que a relação continue, o sentimento de fracasso se acabar. E isso vai se repetindo de novo e de novo."
Atendimento psicológico
A psicóloga diz que o trabalho de amparo e atendimento das casas de apoio começa no momento em que existe um rompimento do ciclo da violência. "Nosso papel é fotalecê-la, é empoderá-la para que ela perceba que esse ciclo existe. Que ela entenda que não foi o que ela fez que causou aquilo tudo, e que ela fique forte o suficiente para que retome o poder da sua vida", diz.
Maura Secco (Foto: Arte/G1)
"Buscamos mostrar para essas mulheres as estratégias que ela tem para sair daquela situação. Você é alguém que não é familia, que não é ninguém que está julgando, então vamos acolhê-la e dar esse espaço emocional que ela precisa, e vamos mostrá-la quais são os caminhos possíveis. As denúncias, os boletins de ocorrência, um processo", afirma Secco.

Ela diz, porém, que o caminho do atendimento psicológico é longo e tem muitas dificuldades. Uma das principais é a de a mulher não se perceber como vítima e internalizar as agressões que sofre em casa. "Nesse tipo de violência mais psicológica, de proibir a pessoa de sair de casa, de não querer que se pinte, que não veja amigos e família, tem um sofrimento muito grande. Muitas mulheres chegam aqui numa depressão profunda, algumas até com síndrome do pânico", diz.
Outra dificuldade citada pela psicóloga é a vergonha. "É a vontade de não se expor, dos vizinhos e da família ficarem sabendo. De pensar: ‘como que eu, uma pessoa tão inteligente, entrei numa situação dessa?’", afirma.
Muitas mulheres também têm medo, ainda mais em relações com casos de violência física e sexual. Segundo Secco, o medo leva a mulher a permanecer muito tempo na relação violenta, pois, por pior que situação seja, é algo que lhe é familiar e que ela acha que consegue controlar de alguma forma. "Mas a mulher não controla a situação. Ela não provoca. A menina foi estuprada porque saiu de short? As mulheres de burca também sofrem violência", afirma a psicóloga.
Por isso, Secco destaca a importância de espaços que oferecem esse tipo de serviço para mulheres vítimas de violência doméstica. "Se a gente tiver uma lei, como a Maria da Penha, mas não tiver uma retaguarda para as mulheres, pra que ela tenha um espaço em que ela vai ter apoio e vai resolver e entender sua questão de violência, não adianta nada."
Serviço
CRM Casa Eliane de Grammont
Rua Dr. Bacelar, 20 – V. Clementino
Fone: (11) 5549-9339 / 5549-0335

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